Revista da Academia Paraense de Letras 1953 (MARÇO V4 EX 5)

62 REVISTA · DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS PAGINAS ANTIGAS Paulo de Oliveira ...... Quem quer que tenha acompanhado, em nosso meio, a atuação da mo– cidade letrada do Pará, não ha de ter deixado de fixar. a sua atenção em um nome - Raimundo Peres. Espirita agil, revelando-se, a subitas, uma formosa sensibilidade estética, a serviço de uma inteligência disciplinada, Raimundo Peres, a quem a morte acaba de ceifar, era uma das. rnals, radlosas esperanÇijS da nova i;eraç~~ literária paraense. Poeta de lar,~a Imaginação, estilo :rigorosamente bllaqueano, éstro de urna fecundidade sem par entre os "novos", o verso saltava~lhe da pena vestido na rou– pagem rútila de uma rosa florindo no hastil, e tôda impregnada de perfumes mar.tos. Senslvel, sensibllissirno mesmo, coração aureolado de sentimentos digni– ficados, em tudo êle via um motivo de estesia, digno de vibrar nos quatorze ver– sos de um soneto, cdmo ·Se' à sua visão o universo andasse num ritmo ereador, eternamente, descerrando-lhe a~ suas 1Je.lezas lrrea,J.isávei~ e os seµs segredos interiores. Raimundo Peres foi um nababo e um pródigo. Nabado, por que tinha na alma as pedrarias coruscantes da poesia. Pródigo, por que as esbanjou, íantn~tlcarnente, a exemplo daquele principe hindú · que, numa· noite feerica– mentE constelada de astros, lançqu - . pela janela, atirando-se contra-os céus - o seu fabuloso t esouro, prata ouro e pedras preciosas . . . Ainda não me saiu da memória aquela noite festiva em que eu, o Í>e Campos e o Bruno conse– guimos levá-lo à Associação dos Novos, para que, ·perar-ite o seleto auditório lá presente, recitasse alguns versos de sua lavra. Precedeu-o o De Campos com algumas palavras sobre a sua personalidade. Raimundo, nervoso, voz tr.émula, disse .três sonetos rnagnüiços e, .~uidosa- mente ovacionado ao fim, foi obrigado a· bisá-los. · · Que contentamento, o seu I E é provável que, naquela noite, despertasse no fundo da sua alma de artista a consciência do valor próprio, que eu e os outro!! tanto lhe exaltavamos, com ,vivos protestos seus, nascido de urna modestla sincera e sentida, como era 1.3 sua. . Para que melhor se avalie das formosas qua– lidades que caracterisavarn o seu esplrlto de quintessenciado, vão aqui dois so– netos, que são duas jóias de ines_t11;1ável valor artistico, lavoradas com aquela átlcn simplicidade, que era sem ·duvida uma das virtudes· melhores da sua arte. Na~ páginas de nossos jor_nais exist_em várias produções suas. . Não se dava 0 trabalho de as coligir. Foi o bom semeador : lan~ava as ~e111entes, sem O sentido imediato de uma vaidade ~ue se contentava : mas, sim, pela doçura es_pirltual, 0 goso interior de um S ;,· Francisco de Assis, falando aos peixes e âbençoando 0 sol pelos beneflcios que causava •às seafas. •

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