Revista da Academia Paraense de Letras 1953 (MARÇO V4 EX 5)
• 2 REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE D E LETRAS o roma nc ista. n a d e (iniç5o d e Toine (Hipólito T a ine - H ls to lrc d e lo Lite – rature Anglols e "T-5 ; P-106") é um ps icol6go, um p s lcóiogo que natura lme nte e lnvoluntârlomonto põe o psicologiu cm ação" . Nüo 6 :itmplcs, nosim, o con– ceituação do problem a . N ão s e n do o rom a n ce uma sinr;é la e p r im á r ia transcrição da r eoUdodc como queria m os reallnla s ortodoxos. é uma tra n 5poslç!\o lltcrâ rlo da vida . P~r isso m esm o Sta ndhal, que só se Inte ressa v a por aquilo que era 1,lntura tla a lma humana, procurava, n a s u a ob r a , conta r o que s e pa ssava n o coração ; 1. o com v erda d e ; 2 .o com cla reza . E por is so, segundo B alzac, esc r e via como os p ássaros cantnm . O ro mance d c s t'ar te n ão 6 proprlnm e nle umo his – tória, mas tem que p ossiur, por fo rça, um conte udo .n arra tiv o - contém his tória portanto .. . - m as sobre tudo t em que tra ze r cm seu ve ntre uma autêntica p a l- i pitação da vida, uma íorçd inte rior, um s opro, um frêmito, um es trem eclmento humano . Se.m intuição p sicológica, sem a "inteligência das p a ixões", não é pos – ~iv,el porém cons truir um v erdad eiro romance . Ao romancista cabe a tarefa de trazer à tona do cons ciente os fenômenos s ubtis e obscuros do ··incons ciente . . . .,,laj.o -~•- c9n4uzir à .. flõr d a terra o humus que se encontra n o su b -solo . . . O ro– mance n ão precisa s er belo m as vivo. Ale ncar fazia o romance bonito ; Manoel Antonio de Almeida fazia-o viv o. Coelho Neto fa zia-o pomposo ; Aluizio Azevedo, verídico ; Graça Aranha fazia-o belo ; Lima Barreto f azia-o real e palpitante. • • • ,· Mas qual o processo mais adequado p ara o compreensão e Inte rpre tação do mist é rio da criação artistice., sobre tudo qua ndo essa c riação é um r om a nce ? Nos bons velhos tempos de Taine, tudo se explicava em função d a raça, do meio, do momento. Hoje nós sabemos que esses fatores determlnistas, embora importan– tes, não s ão suficie ntes para C"-"l)llca r a obra de a rte. Existe , mais importante do que tudo isso, no pla no do espirito , o temperamento d o autor, Isto é, a natureza •do homem. Evidentemente o temperamento n ão explica ainda tudo : mas ajuda '11· compreender, em grande p a rte, o mistério da cria ção a rtistica. Ao lado, pois, •das condições geográficas, econômicas, históricas e soclologicas cm suma , de vem ,Iler levadas em conta, n o estud o e na explicação do fenômeno d a criação artística, , as condições de ordem biológlc::t: o cara t e r, a h e ra n ça, o temperamento, a persona– , lidade em ,suma do !\Utor. O homem - corpo, alma e espirita -- é uma unidade , bio-psicológica de composição complexa , mas unitá ria e indissociá vel. o gênio , criador reflete, portanto , as flu tuações e as características da pet'sonalidade psico– •:l~gica. O estudo d êste problem :;i é obje to hoje d e uma ciê ncia : da ciência dos temperamentos indiv iduais. I sto é, a ca racte ris tia d e Klages, ou se quizerem a biotipologia. d e P e nde. Outra m od er na ciên cia p sicológica estudo também 05 <ca~acteres : é a etologia. E ainda uma t e rceira es tuda a s mcn~lltlades : a noologla. rNoologia, etologia. e biotipologia, associadas, se comple tam, e 'los permitem n ão só o conhecime nto dos diferent es famílias m e ntais, mas também os elementos diferencia.is d as dive rs as inteligên cias criadoras. O c ritico lit erário tem, por isso de associar-se ao p sicolog o, p a ra o estudo, a a n álise e a inte rpre tação da obra d~ a rte . F oi Bi.n e t que m imaginou o m é todo direito d e observação n ool6gi ca. A ob– servatão etologlca foi instituida p or François Mentré , qua ndo se prop ôs estudar as es pécies v a riedades da inteligência . Kre tschmerr fez, n a Alem a nha, o estudo blotlpcloglco da c ria çã o a rtística . T ôd as essas ciências, a final de contas s e n ão nos dão a cha ve dos segredos da c riaçã o a rtistlca, nos facilita m uma aproximação r ozoá, ·el d a lntimidcde do fenômeno. Segundo o a u tor, ant es e acima de tudo, um homem , só pode a su a obra s e r bem conhecida e estimad a , quando b em conhece– mos o valor huma no, p sicológico, t emperame ntal, ca racter iológico, isto é pslco– . somattco, daquele que a criou. • • • Preliminarme nte, p ar a ser s incero e h on esto, de vo con fessar que nem sem– pre tem sido feliz n ciê ncia na e~plicação da a r te . o fe n ôm e no s rtlstico , fugidio, ml:!!!erioso,.e s util na ~ua m a ravilhosa complexidade , es ca p a muit a v ez à compre– e n sao e à m terpretaç.io d os homem: d e laboratórios . Porque a a rte quase sem-
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