Revista da Academia Paraense de Letras 1953 (MARÇO V4 EX 5)

'f I' REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS Irritou-o a imposição ; e planeou revide imediato. Reuniu o povo num dia de feira e, entre gritos sediciosos e estrepitar de foguetes, mandou queimar as t(lboas nyma fogueira, no Jorgo. Levantou a voz sôbre o "auto de fé", que a fraqueza das autoridades não impedira, e pregou abertpmente a ~nsurre_lção contra as leis". Sumariemos, servindo-nos de referências da narrativa, detalhando as vio– lências que se organizaram, provocadas pelo atentado : - Com a repercussão das ocorrências na capital do Estado, havenc1o c!I nmotinados tomado rumo do norte, pela estrada de Monte Santo, seguiu groasa fôrça policial para "prender o rebelde e dissolver os grupos turbulentos". Não excedendo, nessa "êpoca. de duzentos homens", a tropa alcançou-os em Masscte, lugar desabrigado e estéril". "As trinta praças, bem armadas, ata– caram Impetuosamente a turba dos penitentes depauperados, certp.s de as ·des– troçarem à primeira descarga". , Enfrentando-as os "jagunços destemerosos", foram lntelrame11te desbara– tadas, precipitando-se na fuga". "Realizada a façanha, os crentes acompanharam, reatando a marcha, a heglra do profeta, demandando o deserto, certos do amparo da nat!ll"çza selvagem". Para forrar a derrota, "oitenta praças de linha" partJr,am para subjugar os fanáticos. Mas não prosseguiram além de Serrinha, de onde retomaram· sem ee aventurarem com o sertão". "Antônio Conselheiro arrastou a matula de fiéis a que se aliciavam, dia a dia, dezenas de prosélitos, pelas trilhas sertanejas fora, seguindo prefixado rumo", e acampou em Canudos. "velha fazenda de gado, à beira do Varsa– Barris. "O lugarejo obscuro estava em plena decadência, quando IA chegou aquele, em 1893". Iria se estender, proliferar, temido e trágico, o arraial entrincheirado, contra o qual se chocariam quatro expedições de corpos do Exército e de Po– licias Militares, até a consumação final, depois que os canhões arrazaram a assombradora colmeia de barro dos casebres, destruiram as torres das igrejas, fizeram silenciar os sinos e as rezas dos crentes, ao toque melancólico das trindades ... Daqui por diante, só a pena vigorosa do angustiado revelador de "uma sociedade de pastores e guerreiros", desconhecida da civilização lltorAnea, com leis e códigos de honra por ela criados e defendidos, identificada com a natureza agressiva e ao mesmo tempo homisiadora do sertão madrasta, poderia fixar nos capitulos esculpidos no mais áspero e lapidar vernáculo, o que foi ª desvairada luta do homem rude acossado nos muros frágeis do reduto ental• pado que êle defenderia além da morte. Antônio Conselheiro, como figura central da "guerra mlstlca" que se agigantou em Canudos, serviu apenas de deflagrador da erupção dos substrac– tos eugên!cos que se caldearam naquele mundo bravio, onde, "com sua pele brônzea, seus olhos meio obliquos, 0 sertanejo é O mais autênUco represen– tante dos primeiros cruzamentos raciais na terra recém-descoberta". O acontecimento editorial de "OG Sertões" não teria sido notório apenas pelo surpreendente inquérito que O autor divulgara, da campanha de Canudos, recebido sob conceitos sem reserva dos maiores criticos daquele momento, como Silvlo Romero, Araripe Júnior, José Verissimo, Joaquim Nabuco, Medeiros e Albuquerque e a Imprensa diária e periódica. Entretanto, temperamento retraido aos elogios consagratórlos, Euclides da Cunha menosprezava O êxito inesperado que a sua obra vinha alcançando, como relembra Gustavo Barroso, em recente pesquisa _ "Segredos e revela– ções da História do Brasil" _ numa justa homenagem ao jubileu de "Os Sertões": "Nenhuma obra Jamais entre nós deu tamanha glória ao seu autor. O curioso

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