Revista da Academia Paraense de Letras 1953 (MARÇO V4 EX 5)

~ REVISTA DA ACADEMíA PARAENSE DE LETRAê Uma Revolução No Outro Mundo J. 1\1. HESKETH CONDUR() Foi tal qual entre os homens, mas foi muito diferente. No principio as queixas apresentaram-se esparsas, no B ras il, na França, no Canadá. e .sempre abafadas pelas ga r galhadas impiedosas do m onopolist a pilhérlco, que brincava descuidado · com os destinos do universo; depois alastraram-se, tor– naram-se murmúrio geral. O murmúrio cresce u, avolumou-se, transformou-se em clamor público ; a revolta estalou. E tal q ual entre os hom ens, compreendeu-se que era preciso dar novos rumos á coisa pública, vcriíicou-sc que só os técnicos poderiam traçar os rumos novos. M.'.ls .. . foi diferente porque no r eino vegetal não exis tiam músicos que pudessem ser promovidos a estadistas, nem a especialistas, nem nada . . . Os acontecimentos a que nos referimos desenrolaram-se em •tempos dos mais recuados, todavia os docume ntos existentes permitiram -nos reconstitui-los, conhecer seus antecedentes e su as consequências, como passamos a narrar. Então, no reino vegetal h avia um m onopólio - o dos transportes, cujo con– cesslonãrio e ra o ve nto, único agente que podia levar o pólen de uma planta p arn outra. E tal qual ent re oz h omens , o vento a?msou do monopólio. Br incalhão como só êle, ·hoje la nçava às ãguas d e um igarap..',, todo o p recios o carregamento, como ontem o dispersara cm direção contrãria à desejada, r indo sempre de tudo e d e todos, ameaçando até m esmo os homens, que já viam chegar o dia em que ficariam sem alimentos, sem medicamentos e a té sem roupas . . . visto como os vegetais não se multiplicariam m ais. Foi qua ndo as que bcas contra os e::travios generalizaram-se. E sboçou-se o movimento de repúdio, r ea!izaram-se multas mesas-redondas e a revolta def la– grou, encabeçada pelas orquldáceas, aristoloquiáce:J.S e figueiras, que organizaram uma coligação e conquistaram o poder Ao novo govêrno, um progr ama único se impôs - evitar o contato do vento com o pólen e criar outr o meio de tra nsporte. Confiada a execução dêssc plano a técnicos de diversas especilllidades, n ão tardaram a surgir verdadeiras maravilhas : as flores das figueiras, re unidas em inflorescências, passa ram a ser encerradas cm receptáculos que são os figos, onde 0 vento n ão penetra ; o p ólen das orquidáceas foi aglutinado em bolinhas, as poll– nlas, cujo p êso n ão permite o tra nspor te pelo vent o;; e nfim, os processos de defesa inventados fõram inúme ros e dos mai~ var iados. Quanto ao novo meio de transporte, foi sugerido que as plantas lavrassem contratos com os insetos . Mas, com o e ntrar cm relação com s a nimalzinhos ala– dos ? como dize r-lhes que as plant as estavam resolvidas a trocar favores com êles ? Para r esolver o proble?1ª• imaginou-~e um novo d epartamento técnico - 0 da publicidade, do preconicio. i;: o tra balho foi intens issimo. Do arco-iris fõram emprestadas as côres com que as flores passar am a e nfeita_r-se : ~mas preferiram as córes únicas, outras es– colheram diversas cores, nos mais caprichosos mosaicos, outras ainda, quiseram as cõres combinadas duas a ~u'.1s, três a três, de tôdas as m aneiras possiveis c n!hn. No "depar tamento d e publl~idadc vegetal" tiveram pois origem verdadeiras jOIQ.S vivas, com as nossas orqu~dãceas, a Cattlcya violãcra, majestosa' em sua bela rou– pagem, as Oncidlum p~i~ulata, aqu_elas lindas bonequinhas amarelas, dispostas em grande cachos,_as Cipripe ~lum, mimosas chlnel(nhas de minúsculas Cinder elas, te e tc.. E tudo cores n a turais, produtos das próprias plantas, nada de anilinas. e ·• uma outra secção do "departament o" estudou as preferên cias olfativas dos insetos e as flõres p assara m a pe~fumar-se com os mais capitosos olores, a tivos uns suaves outros, es tes a radáveis pa ra homens e insetos, aquêles repugnantes ar~ 05 homens, mas em briagado;es pa ra os Insetos, com o o das a rlstoloquiáceas : ~rubu-cáa, jarrinha, pap o d a p e ru, et c.. ( L =

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