Revista da Academia Paraense de Letras 1953 (MARÇO V4 EX 5)

REVISTh Dh ACADEM.IJ \ PARAENSE DE LETRAS 33 . • côlera-morbus epidêmico. Dêsse diagnóstico resultou uma variedade de oplnlões ç uma balb(Jrdla terrivel, durante a qual" alguns médicos diziam ser o côlcra-morbus catástlco, outros o cólera-morbus esporádico, enquanto ainda outros diziam tratar-se de colerina grave. Apenas os Drs. Cantão e Tupl– nambá concordaram que se tratava do cõlera-morbus epidêmico. Vendo o . seu c)lagnpstico fortemente combatido pelos seus colegas do Hospital Milltar, ex• clamou um dia tristemente : "Permita Deus que eu seja um máu profeta". Infelizmente assim não sucedeu e dentro em pouco, se alastravà o tnai por tóda a cidade, produzindo alarmante mortalidade. ~ que o vitus tinha vindo, com efeito, no bojo da galera portuguesa "Defensora", que já o tràzla da cidade do Por.to. Relevantlsslmos foram então os serviços prestados P.elo Dr. Américo l!m favor dos infelizes doentes do terrivel morbus. Sempre se o encontrou no seu posto de sacrlflclo e de honra, pronto a expor e dar a sua vida pelo bem do próxlmo. Po.r êsses fatos grandiosos, foi recompensado o Dr. Américo com a carta Imperial de 29 de abril de 1859, pela qual lhe foi conferida a gra• !luação de cavaleiro da ordem da Rosa. Já' era então considerável a popula• rldade do ilustre médico entre o povo do Pará. · O estilo do Dr. Américo Santa Rosa. Ao tempo cm q11e o bacilo assentava os seus arraiais, fervia :à dia· .:ussão entre os médicoz, nela tomando parte, outr,osslm, os leigos no assunto, os lntr.ome.tldos, CJ.!!<? argumentavam bàrbaramente, dai resultando, muitas .ezes a explosão de sarcasmos· e Insultos que alvejavam, de preferência os poucos médicos que sustentavam ser a · doença reinante o cólera-mórbus epidêmico. No meio dêsse pandemônio de idéias, extravagantes ou aceitáveis o :nr. Américo Santa Rosa conservava uma serenidade de pasmar, convicto da certeza de seu diagnóstico, baseado nos princípios mais evidentes da l?atologia clinica. Vale a pena assim ouvirmo-lo na sua argumentação sadia, no seu estilo Huente, no modo elegante porque cambate o adversário, sem o ferir, seni acrl~ monia, mas sem ceder um palmo das suas convicções arraigadas, sempre tendo t>or objetivo a verdade cientifica, sempre visando o bem da coletividade. "As opiniões dividiram-se, diz êle, uns sustentaram ser o côlera-morbui!I esporádico ; outros chamaram-no cólera-morbus epidêmico desenvolvido no pais : alguém deu-lhe o nome de cólera asiático, mas a opinião que teva mais vaga foi que a epidemia era o côlera-morbus asiático. Antes de declararmos a nossa opinião, cumpre-nos analizar cada uma de per si, apreciando os fatos em que se apoiam, as bases em que se sustentam, a fim de penetrar com o escarpelo da critica no âmago de tõdas, em busca da verdade. A segunda opinião é de um prático da marinha, Dr. Saulinicr; êlc divide o cólera-morbus em 5 classes : o esporádico, o catéstlco, o sintomático. o en– dêmico, e o asiático, e decide que a moléstia do Pará é cólera catástlco. Ouçamo-lo : "o cólera catéstlco é aquêle que nasce de uma constituição Jetcrmlnada de atmosfera, da exageração da estação, seja pelo frio, pelo calor ou pelas chuvas ; ou ainda da !alta de alimentação de boa qualidade ou pelo Incremento da população e portanto, da aglomeração de muitos lndividuos, ou pela mudança das éguas potáveis, devido às chuvas excessivas QU is sêcas não costumadas". E êle viu tódas essas circunstâncias reunidas no Pará : o calor era excessivo, as chuvas que calam quotidianamente tinham faltado, a carne verde desaparece do mercado, o povo alimentava-se de pclxc salgado e abusava das bebidas alcoólicas. Tôdas estas causas geraram o cólera catéstlco. E porqu~ i:5.o seria o cólera asiático ? Começa a diiiculdade para o Dr. Saulinier po.rquc êle 'não

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