Revista da Academia Paraense de Letras 1953 (MARÇO V4 EX 5)

32 REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS Nasceu o Dr' Américo Santa Rosa na Capital do Estado da Bahia, a 22 de Janeiro de 1833, sendo seus pais . Jacinto Silvano Santa Rosa e dona Virglnia Marques Santa Rosa. Cedo, viu-se privado dos carinhos paternos e, sem recursos pecuniários, a viuva desolada ficou a braços com a subsistência da familia. inclu– sive a educação dos filho.. Não fôssem os seus irmãos Lourenço de Sousa Marques e Belarmino Gratullano de Aquino, êste profe.sor de Religião e de Gramática Filosófica da Escola Normal da Bahia, e não teria o pequeno Américo, apesar dos seus dotes de inteligência, atingido as culminâncias da ciência a que atingiu, Já então guiado por Deus e por seu Anjo Protetor. Aos 12 anos, Iniciou os seus estudos de humanidades e antes dos 15, estava ápto para os estudos da Faculdade de Medicina, onde se matriculou em 1848, depois de um curso brilhante, geralmente obtido com a nota "nemlie dls• crepante", bastante honrosa, pois, equivalia a sumamente distinta. Depois de um tlroclnlo acadêmico, Igualmente brilhante, recebeu -o Dr. Américo o gráu de doutor, Isto em 1853, defendendo a ruidosa tese de douto• ramento : "Os êrros da terapêutica franceza demonstrados pela doutrina italiana" · Ainda pobre de recursos, já dispondo de grande Ilustração e talento, cheio das ilusões que povoam os cérebros dos moços de todos os tempos, o Dr. Amé• rico aceitou a nomeação de segundo cirurgião-alferes do corpo de saúde do Exército que lhe foi concedida por decreto de 28 de setembro de 1854. Desig– nada a Provincla do Pará para exercer as funções do seu cargo. desembarcou em Belém no mês de fevereiro de 1855. · Recebia o Pará, naquela época, na pessoa do jovem Américo Santa Rosa uma promissora esperança, ·um sábio ainda Ignorado, que viria enriquecer a história da Medicina em nossa terra por feitos valorosos, capazes de elevai o seu autor às regiões da imortalidade, nos grandes fastos da medicina con– temporânea. 0 clinico. Corria o ano de 1855. No dia 26 de maio, o Dr. Américo fazia a sua habitual visita aos doentes do 11. 0 batalhão de caçadores, e nessa ocasião, lhe .apresentam 2 soldados, de semblante cadavérico, olhos encovados, cor pãllda, pulso quase lmperceptivel, fraqueza nos membros, a ponto de não se poderem por em pé. Queixavam-se os doentes de vômitos frequentes, dlarréo abundastissima e grande dor no estômago. Causou ao jovem médico profunda impressão a Identidade dos sintomas no& 3 enfêrmos, pelo que, r epetiu a visita às 2 horas da tarde, em companhia do Dr. João Floriano Ribeiro de Bulhões. São da sua própria pena as segµintes observações : " . . .Presenciei um quadro horroroso, que nunca tinha visto, e que faria arrlplar as carnes a outro que não fôsse médico, porque o médlc-o deve ter um semblante de mármore, lnsenslvel às grandes dores, para que o doente Jamais possa lêr o que lhe vai no fundo dalma. Era, com efeito, uma cena desesperada ; ambos os doentes pareciam dois cadáveres animados por uma fôrça desconhecida ; o corpo estava gla– cialmente frio, contrastando com o calor interno que sentiam, a ponto de não consentirem a menor col;>ertura ; a pele era embaciada, as feições descom, postas ; os olhos encovados, o nariz afilado, o vent~e retraido, os dedos das mãos enrugados, como se estivessem m ergulhados em água fria, por longo espaço de tempo . 0 pulso estava tão concentrado que mal se percebia, a respiração era curta e frequente ; os vômitos e a dlarréa de um liquido esbranquiçado não cessavam . Os doentes sentiam câlmbras fortlsslmas nas extremidades lnfe• cioi;es .estavam numa agitação extrema ; um dêles dava gritos com uma voz rouc~•e medonha ; 0 outro a voz esta va quase extinta. ,Ambos faleceram no espaço de 4 horas. 1,. vista de tais sintomas, não vacilou o Dr, Américo em dlagnosUcar o •

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