Revista da Academia Paraense de Letras 1953 (MARÇO V4 EX 5)
• REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS 31 das e annllzava. com uma perfeição admlr/ivel, qualquer das suas estâncias. Creio que dai vem o culto que ainda hoje m antenho pelos Lusladas e a admi– ração extraordinária e Íf!COmparflvcl por êsse vulto m aior da raça latina que rcput" ser o Imortal vale p orlu1?uês, Luiz de Camões. Os Lusladas eram então explicados com ns devidas interpretações mitológicas que se faziam mls tér, para ~ua m elhnr compreensão. Ainda mais : a nalizl1vamos Camões no seu vocabu– lá rio prenhe de latinismos. ou scJa ..de vocãbnlos imprei::nados do sentido latino. a uc fa1em de mnis seduccnte brilho os maravilhosos versos do poema hnortall– zado pnr inúmeros gerações. E assim , pouco a pouco, nos !amos famlliorlzando com cerbs ex pressões encantadoras, como "solso ar gcnto", "auri!ero .Tejo", "voz a ltlssona" além de outros de apreciável sentido estético, já introduzidas no llngua portuguesa. O outro, dos meus mestres de idiomas pátrio, foi o sapientlssimo professor Sevcrlano Bezerra de Alh11n•1er<1ue, e êste já o vim a conh ecer no antigo Lyceu P a raense. atual Colé,;ilo Pais de Carvalho. Era o famoso professor, natural da te rra de Iracema. De lá, viera, para entre nós, educar várias gerações e ntregues ao seu saber profundo. No seu e nsino, ocupava-se mais da parte relativa à Gra– mática da llngua portu,::uesa. Deixou Inéditas umas Postllhas que alnd::i hoje, seriam aprecladlssimns, se, porventura, publicadas. Sabia também o la tim e conhecia r e,;!Ularment e o hebraico. As suas lições ainda vivem na m inha me- · mória e mais do que Isso vive na minha reminiscência o seu vulto lncompa– rãvel de homem afável e delicado, despretencloso e extremam ente modesto. O terceiro finalmente, foi o Dr. Américo Marques Santa Rosa. . . Im– pressionou-me adrniràvelmente. desde que o vi pela primeira vez. Mestiço, de compleição robusta, andar claudicante, um tanto Inclinado para a esquerda e para traz, a sua ílgura varonil atraia desde logo singular simpatia, p elo ar de bondade que expontãneamente irradiava do seu semblante h armonioso e sereno, de homem habituado ao estudo e no manejo cotidiano d os livros. Na cátedra do antigo Lyceu Paraense, ainda mnls o admirei ; os seus ensinamentos saiam à flux dos lábios, com uma naturalidade pasmosa. Entremelando as suas lições com o lndlspensàvelmente necessário de Gr~ mátlca, ocupava, grande parte do tempo, com o estudo do análise lógica. Em a n ãllse lógica, adotava, de preferência, o sistema inglês. Incontestavelmente mais dedutivo, m enos mataflslco que o francês, sem se deixar , entretanto, influir de .tal modo que se pudesse dizer que relegava o sistema eclético, t ão de uso e voga nos estabelecimentos de ensino mais graduados daquela época. Ocupava-se, outrossim , com esmêro e afinco, no ensino da "redação". E , a propósito, vem a pêlo, lembrar um episódio curioso e deveras Interessante para mim. Certo dia o obnegado mestre havia determinado que dissertássemos, fazendo sucinta des• crlção dn cidade de Belém . No meu acanhado modo de ·dlscretear e redigir, enumerando o que de mais belo possuln a nossa cidade, inclui entre as suas belezas os antigos traplches então existentes, ocupando o espaço hoje ocupado pelo sumptuoso Cnls do Porto. Ao lêr a minha !}!sonha descrição, o querido mestre não p oude deixar de esboçar um ligeiro 'sorriso acompanhado de um amargo e paternal comentário : que gôsto extravagante I e acrescentou "os tra• . piches são t ão feios". ~ que eu estava numa época de plena adolescência e a "beleza" que via, n ão era p ropriamente a dos trapiches, mas o panorama que se descortinava dos traplchcs, a Impressionante Bala do Guajará, encerrando as belezas da própria natureza paraense, na plena posse do Rio-Mar, o grande rio encantado, já repleto de copioso folc-Iore, que sempre constituiu as delicias da literatura indígena. Foi assim que comecei a admirar as qualidades de espírito e de coração que ornavam O Dr . A:mérlco Santa Rosa. Vamos, pois tentar traçar-lhe o perfil magestoso, realçando os dotes Intelectuais com que Deus o dotou, a sua bon– dade, a sua d edicação à ciência de que foi apóstolo e quis ser digno mártir. Traços biográficos do Dr. Américo Santa Rosa.
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