Revista da Academia Paraense de Letras 1953 (MARÇO V4 EX 5)
22 REVISTA DA ACADEMÍA PARAENSE DE LETRAS :ttste ficou só com Dona Emília. Levantou-se, foi até a janela. Antes, deu '\lill giro. lento e preocupado pela sala. -Está triste ? perguntou, pousando na janela, perto dela. Dona Emilia fez que não ouviu. · -Confesse, ande, que está triste. Bem lhe vejo a palidez do ros to ... Dona Emília levantou de golpe os olhos, e fitou-o com ar severo. -Triste de que ? Morreu-me alguém ? Se morre u é favor dizer-me, para deitar luto . .. -Oh, não, não morreu, fez êle. Essa tristeza é de coração ena morado, é por causa de alguém que lhe prendeu a alma no baile. A moça alteou a sua bonita cabeça, indignada e, placidamente , de súbito inspirada: - O senhor é aborrecedissimo, é cacete. é teimoso. E não se conhece ... O Bastos recuou da janela , inst intivamente; estava livido, trémulo, enver– gonl)ado. Dona Emilia continuou : -Chega a ser inconveniente. Repare que sou uma senhora casada, com direito a merecer o seu acatamento. Quem o autorizou a falar assim ? Teve outra inspiração, e riu-se comsigo do subitãneo despique, que lhe acudira. Era uma me ntira p ara o a bater e r idicula rizar de vez, o golpe de mise– ricordia no pobre diabo. Pôs um tom acre de ironia na voz e com um sorriso, que era b em um dardo, foi deLxando cair, tranquilamente, estas palavras : -O senhor, a lém de mais, é tôlo. Pois n ão compreende u a que queriamos chegar, recebendo-o em nessa casa, com a intimidade de que quer abusar ? Pre– cisavamos de crédito n a loja de fazendas, e a sua amizade se oferecia a propósito... Dona Emilia corou da me ntira, mas recalcou o assomo do pudor, e pros– seguiu: - Era s ó por isso. Demos-lhe o p é e quer tomar a mão. Acaso se julga m ais bonito que meu marido, par a me afastar da linha do dever ? Ora , conheça-se 1 Tinha-o acachapado. B::istava. Ir adiante, e ra despiedade. A moça voltou-lhe bruscamente as costas e entrou na alcova , onde o marido jã vestido, fazia as guias do bigode , defronte do espelho do toucador. O pobre caix eiro parecia ter a cabeça descompassadamente grande. Dentro, esfuziavam-lhe uns rumores do inferno. O sangue lhe afluira no rosto, congestionando-lhe as faces. Circumvagou pela sala um olha r esgazeado, de doido, e sem atinar com o que fazia, saiu a porta do corredor " despejou-se para a rua, como um doido mesmo. Uma voz às suas cost as, a voz do Azevedo, debruçado à janela, gritava por êle: · -Oh I homem , você não m e espera ? J ã estou pronto. Olhe que esqueceu o chapé u I Vae maluco ? . . . .,.
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