Revista da Academia Paraense de Letras 1953 (MARÇO V4 EX 5)

' RmSTA" rlk ÀOAnEMik PÀRAENSE DE IfflAS tt clados, a chave do segrêdo da pobreza ou da riqueza da imaginação de cada um dos seus autores ? Não serão documentos suficientes para delatar neles um sentimento de inferioridade, obscuro e sutil, que procurava, no seu estilo, uma compensação ou uma cobertura ? Els um dos problemas mais interessantes e mais complexos do romance brasileiro. DOIS HOMENS - DOIS PROBLEMAS Os dois problemas talvez mais singulares - e sem nenhuma dúvida os mais interessantes da literatura brasileira - são dois homens : Mact;,.ado de Assis e Raul Pompeia . Quanto mais medito, quanto mais estudo, quanto inves– tigo a lite ratura brasileira, mais decididamente me inclino ao exame e à análise desses dois romancistas. Creio mesmo que eles são o centro de interêsse mais importante da nossa literatura, do ponto de vista psicológico. Machado mais rico e complexo na sua aparente simplicidade. Mas ambos extremamente fas– cinantes para as aventuras espirituais da inv~~tigação psicológica. · O PROBLEMA RAUL POMPEIA "O Atheneu" é mais do que um "diário intimo" : é uma confissão e um desabafo. Embora realizado s~m a intenção deliberada de uma Introspecção, êle tem um sentimento catártico . Foi o complexo de frustração de Raul Pam– peia que nos de u "O Atheneu" - a vingança de um timido, de um esquisoid~. de um ressentido, de um re voltado, cuja infraestrutura neurótica explica o seu fim trágico. A sua cólera punitiva desaba , implacá vel, sôbre todo o Colégio Abllio: não exclui ninguém, n ão se atenua nem se aplaca dia nte de nenhuma criatura nem de nenhuma circunstâ ncia. Rude, áspero, amargo, Pompeia se compraz na des– crição do mal. Transf erindo tôdas as culpas do seu fracasso pessoal ao. pro– cesso educativo do internato, m as timido diante de velhos tabús que respeita, P ompeia concentra t ôda a s ua revolta nos seus mestres e colegas, tra tando-os com uma severidade inexorável. A sua galeria de professores, bedeis e -alunos é pungente. Com excessão de Sergio e de Ema, os únicos personagens trata– dos com amorosa doçura, são todos os outros m á us, grotescos, crueis, invejosos e pervertidos . E este homem que triunfou na vida, que conquistou afinal situa– ção eminente, guardou até o fim, nos s ubterrâ neos mais obscuros do coração, como acontece de resto aos "ressentidos", uma mágua sem remédio, uma revolta s em redenção. Isso explica a sua secura, a sua ausência de generosidade, a agressividade e a amargura da sua atitude . Outra coisa que capta a atenção no estudo da psicologia de Raul Pompeia : uma certa Incompreensão dos pro– blemas, das inquietações, dos sofrimentos e da afetividade da adolescência . l!':le n ão sentia os problemas alheios - porque para êle só existia, absorvente e terrivel, um problema, que era o seu . Esqulsóide, sem amigos intimas, sem confldêntes (o Sr. Eloi Pontes informa que êle só tivera "amigos de rua"), sem efusão afetiva, sem capacidade de comunicação humana, êle não compreendia a beleza envolvente da amizade . Era seco e distante. A ninguem abria- jamais as portas do seu coração fechado e est éril. Sua p obreza afetiva êle a transpõe' para as páginas a um t empo ama r gas e belas de "O Atheneu" , onde não se sente, nem de leve, um cálido sopro de bondade, um ligeiro frêmito de ter– nura, a compreensão e o sentime nto das gra ndes afeições huma nas . Dois ou– tros romancistas, na litera tura brasileira, estudaram a adolescência : José Lins do Rego e Otavio de Faria. Mas como a viram com olhos diferentes I Ambos foram mais compreensivos do que Pompeia, embora nenhum tenha atingido tal– vez a grandeza e a beleza de ·•o Atheneu" , José Lins do Resto e Otávio de Faria voltaram a este tema com menos força a rtistica, com m enos estilo, mas com uma cacidade infinitamente maior d e compreender e sentir o drama da aàóles– cê ncla . Ambos, nos seus r omances, são mais agudos e generosos no estudo da

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