Revista da Academia Paraense de Letras 1953 (MARÇO V4 EX 5)

·-114 REVISTA DA ACADEMI4_ ?ARAJ;,NSE DE LETRAS 1 1· NOTAS DI,TER.SAS A MORTE DE ACRiSIO MOTA No dia 18 de agôsto de 1907, em sua primeira pógln::i, a "Folha do Norte" publicou a seguinte noticia sôbre a morte de Acrisio Mota, patrono da cadeira n. 3 da Academia Paraense de Letras : "Ainda não houve tempo para amortecer a dor que nos causou a irrepa– •rável pêrda de Antônio Macedo, o amigo cujo falecimento assistimos dia a dia, horá a hora, e, abruptamente, como para nos tornar conhecida tôda a escala selo sofrimento cruel, de novo tomamos da pena para noticiar o desapareci– mento de um companheiro não menos prezado - ACRtSIO MOTA. O desfêcho Inesperado, neste calmo declinar de tarde, em que à mesa -nos chega o estalido óspe'ro dos tipos, causa-nos tanto apêrto de coração, que .hfu> . nos sobram forQll.S para a nema dolorosa e antes tôda a n ossa tortura .moral se nos manifesta numa irreprlmivel vontade de dar curso livre às lágrimas. • l'.: .que se nos representa à memória a figura simpática do amado compa– _nheiro, ainda no primeiro dia desta semana, sentado ao nosso lado, sempre atraente na Ironia graciosa a propósito dos mil e um nadas desta monótona vida provinciana, enquanto não -chegavam as longas provas, que êle, numa voz pausada, lia e exJjurgava dos êrros com a paciência de um beneditino. " : _. . Apesa.r de Interromper de vez em quando a leitura, para o sorvo, cm longos ha'ustos, do ar que lhe faltava, a placidez do semblante, a disposição .do .espirlto, nada acusava que era essa a última vez que êle nos vinha amd– .llar na ingente tarefa que nos Irmanou para as alegrias como para as tristezas ,e, como estàls vendo, até para a morte 1 • • · · A r epentina enfermidade que o levara ao leito não a supunhamos capaz de lhe arrebatar a vida , cavando funda a sepultura que n ô-lo rouba à estima e abrindo mais um Impreenchível lugar nesta tenda de co'mbaté, em que cada soldado: cada companheiro, cada amigo, cada irmão 5e p urificou na cadinho da dedicação, ao fogo lento dos sacrificlos de todos os dias. Compreende-se que a amizade assim nascida e assim enraizada parti– cipa da propriedade dos aços da boa têmpera e foi por isso que só a .morte teve energias suficientes para arrebatá-lo do nosso meio. Mas não queremos que, relembrando o morto que rido de h á poucos mi– nutos, haja lugar para resentlme ntos naturais em quem n ão desconhece a amargura dos martirios longos. E passaremos por alto a referências às injus– tiças de que o fizeram algo, deriva ndo da injúria das colunas envenenadas para o ataque corporal, na rua. Nesta hora, só tem cabimento a expansão do afeto imenso que êle nos mereceu. Basta, para isso, que recordemos que representou para a "Folha do Norte" a pessoa de Acrlslo Mota. Quando veio neste jornal a sua esclarecida aptidão, havia êle deixado a secretaria de "A Província do P ará": mas nem por isso lhe mereceu menos ardor a nossa campanha, nem foi dos que menos sinceramente têm amado esta humilde oficina de trabalho. E era de ver a espontaneidade encantadora com que bordava o comen– tário desprentencioso sôbre o fato de ocasião ou traçava a noticia sensacion al, sem omitir um detalhe Interessante, sóbrio e preciso na adjetivação, sempr e çorreto e elegante na frase. Pono de um famoso talento, servido ,1>or um preparo n ão vuli;ar, não

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