Revista da Academia Paraense de Letras 1953 (MARÇO V4 EX 5)

REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LÉTR~S MENOTTI DEL PieCHIA E O PARA A emenda Baleeiro p ôs de fogos acesos a bancada paulista. Tirando os que se ausentaram por v árias circunstâncias, os que estiveram na Câmara bateram-se aignamente por São Paulo, certos, aliás, da _vitória, perdida esta_ apenas pelas de– f ecções imprevistamente verificadas em outras bancadas com cuJos votos contava– mos segu~.amente. amarrados, que estavam por compromissos. Na altura regimental em que se travaram os debates, sómente poderiam falar os autores das emendas e s ub -emeÍ1das e os r elatores, pelo que a São Paulo só foi posslvel dar dois advoga– dos na tribuna e -aquêlcs que a sorte escalou, não podiam ter sido nem mais efi– cientes e nem mais brilh::mtes. Ulisses Guimarães e Arnaldo Cerdeira. O deputado Ulisses desenvolveu sua argumentação com tal lógica jurídica e com tal calor retó– rico que O grande deputado baiano, meu caríssimo amigo Nestor Duarte - um dos mais tremendos e m e tralhantes a partis tas da Câmara - me confidenciou : - "O Ulisses está perigoso e brilhante demais. . . Precisamo~. nós baianos, neutra U:znr essa eloquência ... " Para votar por São Paulo, Ulisses e eu perdemos a viagem a Terezina. Es– tavamos escalados, com outros deputados e senadores, em missão oficial, para Ir ao Amapll, e aproveitaríamos para percorrer o norte. Para votar na segunda dis– cussão n Já rarnosa emendu, fizemos um vôo da mágica região amazônica ao Rio, l&rgando os companheiros em Belém e deixando de visitar Fortaleza e Recife. Por i.,;so n ão pude obter uma visão de conjunto sõbre a parte setentrional do pais. Belém, flanqueada pelo braço do rio-mar, vista do alto, pareceu-me um oasis. pois o avião, por longo tempo, sobrevoara uma região de matas selvagens e não rai·os trechos de chão desertico. Da altitude atingida pelo "Constelatlon". divisava-se parte da ilha de Marajó, fecunda e vasta, na qual se desenvolvem uma bila pecuária. Ao prosseguir viagem num bi-motor da F. A. B., pude exami nar melhor a ilha que rasga em delta a imensa embocadura do Amazõnas. As ter– ras amazónicas, colocadas n a torrida r egião tropical, inda dependem de melhor es– tudo para .seu aproveitamento para fins agrico1as. A ciência e a técnica modernas - que ambicionam até recupe rar os desertos africanos - encontrarão elementos -pa ra extrair riqueza vegetal dêsse chão no qual, agora, uma agricultura primá- n a, só tira proveito econômico das regiões de sólo quimicamente mais apto. Ma– raJó .me pareceu região r ica e ubere. Os marajoaras com quem conversei - tipos fortes, bem nutridos, comedores d e carne - me parecem dos melhores tipos hu– manos do Brasil, a indicar a fartura da terra. Gostei da nobre e antiga Belém, capital esplêndida onde, porém, a vida é cara. Serviram-me de cicerones êsse jovem e culto banqueiro que é Gabriel Her– ·mes e meu velho amigo o presidente do PTB. No seu grandioso tentro, 0 gêruo camvenelro que foi Carlos Gomes, já estão marcada eternamente pela glória, pois regressara da Italia para vir morrer no Brasil, trabalhou, como seu diretor, pela cultura paraense. o teatro n ão dclustrava tüo gra nde nome como seu orien– tador, pois ú S maiores artistas cio mundo e as companhias mais importante&tinham t em.1>orada fatal em Belém, então centro dos mais ricos da América do Sul m e r– ce do Aureo iastiglo da borracha. O oligarca Lemos amou com e ntranho amôr sua cidad e e a ela deu uma s untuosidade que ainda resiste aos anos. Lindas às ruas ensombradas pela.s colossais mangueiras. Largas as praças e as avenidas. A catedral aa 111ctrópo1e paraense é de uma solene majestade na luxuosa unidade da sua de .. curaçao, tão bem harmonizada com sua sólida a rquitetura. O pincel de um mestre o novencentista deu-lhe p aines realmente artistlco. O museu Goeldi documenta p.recioscmente a vida e o "folclore" do norte. Alguns velhos palácios coloniais ve– tuslDs e liarmoniosos no seu barroco portugues, relembram o fastiglo das ar'isto– crà ticas familias que tiveram o comando das finanças e da política da privincla e com.o ~ota cheia de graça de pitoresco, o cais de "Ver-o-peso" torna um crõmo co~ lorido e marinho uma das partes mais comer ciais e vivas da cidade. Meu brusco regresso me impediu de um contacto maior com os Intelectuais ·que haviam preparado uma acolhida tõda especial ao humilde r epresentante das letras paul.istas. A política interferindo, imperativa e brusca. nos planos do es– critor itenerante, me privou da alegria de part icipar de uma festa da inteligência paraense. Isso n ão Impediu de encontrar nêsse povo uma acolhida comovente, filha

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