Revista da Academia Paraense de Letras 1952

i Amor de outrora, límpido e fugace, sonhos, segredos, ilusões, quimeras, tudo ressurgiria aos nossos olhos, se esta mangueira secular falasse ... Por âla, à noite, erra cantando a coorte das meigas almas, cândidas e puras, dessas velhinhas tôdas que se foram, arrebatadas pelas mãos da Morte ... E quando, no alto, o plenilúnio assoma, nas estreladas noites de verão, tenue véu de noivado, luminoso, desce e lhe envolve a faríalhante coma ... E ao romper festival das alvoradas, pelas esmeraldas húmidas das !ranças vibra a fanfarra estridula dos pássaros, saudando a luz em fortes clarinadas. . . . Possamos nós também, um dia, em francas recordações, velhinhos já, saudosos, sob essa eterna cabeleira verde, sorrindo unir nossas cabeças brancas ... Mas, que Importa a vossa, a minha, a nossa velhice, se a nossa alma e moça uinda e o espírito imortal ter<> ,reful&:ências primaveris de mocidade pereneÊ~· poderia desafiar aqui, nun1 surto de erudi~ão inóqua, documentação que fartasse em pról de espíritos que só se firmaram nas let.,;as, nas artes, nus ciências já em plena razão, em completa mas vigorosa maturidade, e até ai• e-uns, n~ perlodo que se classifica de decrepitude. Mas. para que ? Se vós mesmo, Sr. Eustáquio de Azevedo, podeis fo.r– necer provas do assêrto, opondo aos instintos antropófagos da mocidade qtle se levanta contra o nosso passadismo, yigores de uma velhice moça, pelo menos nos arroubos da Inteligência. Ainda há poucos dias, pondo em evidência urna das modalidades ·cto vosso espirita de escol, pro~uzistes êstes versos modernos, que não desmere• cem dos melhores que por a1 cogumelam : Teu sorr'iso, teu olhar, tua doce voz ... Afastam para longe azares e desgraças ; prodigalizam a ventura ; formam, de teus encantos, a trindade celestial, bendita, encantadora 1 Teu sorriso, teu olhar, tua doce voz.,, Teu sorriso é balsâmico e divino, aplaca as dores dalma e faz da vida um paraíso, um céu 1 'J.'ua voz vibra no ar como os sons d'arpa eolia 1 Teu olhar faz-nos crér que também és uma Santa 1 Tereza de Jesús na mocidade 1... · Bendita trilogia, do amor e do consôlo, da paz e da véntura ! !,;ternamente unidos, meu anelo vos quer, eterno de luz 1 Desfile tua voz, qual caricia inefável ; desprenda teu sorriso a flor de teus encantos ; teu olhar me entra nalma, assim, mudo, e expressivo a dizer tudo, num grande hino de amor ... Teu sorriso, teu olhar, tua doce voz 1•• , . Eu poderia continuar,. Sr .. Eustáquio de Azevedo, a me aptoveitar do brilho de vossos versos pera iJummar os meus com o clnrâo que dêles se irradia Burlaria, assim, . a ironia do~ . nossos conirndes - na qual entrou um pouco daquela perversidade a que Jn me referi - determinando que vós poeto consagrado e com uma vultosa bagagem de livros aos ombros, tos!f!'lli r~ceb.klo por um poeta inédito.

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