Revista da Academia Paraense de Letras 1952

88 REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS E no peito lhe dQrme sossegado, - ave saudosa erh cárcere doirado, o velho coração, sonhando e rindo .. . E do Marquês de Lassy esta sentença : "Quando a gente começa a d eixar de sonhar. ·ou a sonhar menos, é que está prestes a adormecer para s empre·• E nós, Sr . Eustáquio de Azevedo, ainda sabemos rir e sonhar. Encarais a Vida com um sorriso alegre de humorismo aos lábios. e a festejais nunl a .uave revoada de finas ironias : Vim ao mundo em setembro, por máus fados, na zina mais alegre do verão ... Antes nascesse em dia de Finados ou numa Sexta-feira da Paixão... Sempre a lutar, sem pingues resultados, na mais heróica e nobre cavação, nunca pude por mal de meus pecados, guardar no fundo d'arca um só tostão ! E não há jeito de, no peráu fundo tomar pé, tomar fôlego um segundo e achar minha Mascote favorita . .. O coração, porém, me bacureja que a vida hei de ter, f orte, sobeja, de um gordo abade, ou fino jesuíta . . . Tendo em atenção a indisciplina de vosso espírito insubmisso, rebelde às imposições das fórmulas preconcebidas, por isso mesmo que não se deixou fixar nesta ou naquela escola, preferindo esvoaçar sõbre tôdas, e as tendi?ncias dispersivas e fugidias da vossa musa eclética, é de esperar. das novos escolas revolucionárias, que acabais ainda, na vossa velhice não "em gordo abade" ou "fino jesuita", . mas antropófago. . . • O que é certo, Sr . Eus táquio de Azevedo, é que a velhice n ão no~ apavora. Um dia, contemplando uma velha, secular mangueira, cantei à sua som– bra as minhas aspirações, ao tempo em que os cabelos brancos me coroassem a fronte: Se esta m a ngueira secular falasse, quantos sonhos de amor, quantas ve nturas, ao farfalhar da cúpola fremente, ela, talvez, num hino nos contasse . .. A majestade tem das catedrais, .. E, certo, fôra aqui que celebraram, neste trecho ideal do paralso, o seu amor nossos primeiros pais . . . Ante essa velha, secular mangueira, eu me descubro respeitoso e crente como se fôra o túmulo sagrado ' dos sonhos todos da mulher primeira . Alta, soberba e múrmura, se elevo a fronde a ugusta, onde minh'a lma escuta, a goi-iear na música dos ventos, a. volúpia inicial dos beijbs de Ev:i . Essa velhinha tímida que vejo, encarquilhada, e trôpega, e tão branca, tivera aqui o seu primeiro idílio, aqui colhera o seu primeiro beijo. Ésse velhinho pálido, ofegante, todo encurvado e trêmulo a seu lado, talvez fosse o seu último namôro e foi, de cet·to, o seu primeiro amante ... Sob a ve rde parágua, que ressóa ao chilrea r dos pássaros, os dois, Vêm recordei· as coisas do passado, e a árvore gigante os a bençoa . • • . ' . 1

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