Revista da Academia Paraense de Letras 1952

.. terra, REVISTA DA ACADE?vUA PARAENSE DE LETRAS "6 Natureza, a única bibUa verdadeira és tu 1" e no outro verso : "Atiramos-lhe um ventre e dá-nos uma flor". 9 A própria morte com a aceitação serena de q uem cumpriu seu destino n a merece do poeta os lindos versos a seguir : Levará no esquife para os séus a palma da gra ndeza m:msa, da vi r tude áusdtera. Realizou no mundo a perfeição d:i alma. porque foi bondoso com·o a L ua é calma porque (oi um santo sem saber que o era ! No ambiente bucólico em que Junqueiro expõe o s eu pensamento busca a p32 do espírito na simplicidade do povo camponês, dizendo : "Noite escura 1 1. . . e nigmas 1. . • Ai, do que eu preciso. 13oieirinha linda. linda d" encantar. é dessa inocê ncia, désse paraizo, da alegria d"oiro que há no teu sorriso, da candura d"alva que h á no teu olhar 1••• " • Nos Simples. Junqueira jnaugura uma estética inteir11mente nova na poes ia port4guesa : pretende que a poesia t ranspunha os s eus limites e na vida universal explicàda pela ciência, busque novos motivos. Só Guerra Junqueiro, com efeito, nos poderia representar poct,c::imente a sintcse do exigêneo com o hidrogê neo pela faisca clétric::,, para ::i rormação da água: "Alma das águas quanndo se casaram, Foi com beijos de luz que se beijaram". Outro passo· interessante : "Quando uma lousa cai sôbr e um c::idáver mudo, dizem "tudo acabou" . . . E principia tudo" . Revela-se também o poeta pan-psiquistn neste t1·êcho da ORAÇÃO A LUZ "Matéria bruta, · Não vê, n ão fala, não escuta. Não pode amar. Sem se tocar. Quando se toca é que se liga, Tem de ser densa para ser amiga. Na rude e baixa natureza. O amor é solidês. a a.feição é clurew E por isso o cristal É um verdadeiro santo mine ral. tsse panpsiquismo ele Guerra Junqueiro n 5o é extranho à ciência. Quando nos diz que o cristal é um verdadeiro "santo mineral"', nos f~z lembrar a hipótese cientifica que vê no cristal o alvorecer da vida ou, se qu1- zern1os, o intermediário entre a matéria bruta e n n1atéria viva. Buscando demonstrar poeticamente a inCluência que a Lua exerce no oceano, escl'eve o poeta os -famosos versos·: ··i;; o m a r. o vasto mar prorundo e soluçante. vendo surgir da Lua o pálido fulgor, ::irqueia enormemenle o dorso tl'iunf::inle, Con10 u1n le5o rnivoso ern convulsões d. an1or. Arqueia o dorso enorme. ele va-se às mon tanhas, Tomt.,a s6bre si mesmo em rude cataclimo. Arranca mil trovões elas rábidas entranhas. Levanta-se outra vez, cai outra vez no ab ismo" . . . _o ponteismo de Guerra Junqueiro, estimulado pelo vida b11c6lica da sua 1aianc1a, pelo profissão de lavrador a que sempre se dC'dicou o se u honrado pai, teria de ser s ufoc:1do, veremos linh:is abab.:o. pela lembranqa que lhe ficara de jfllfl ci~~~~~ /n::le cujo ren1inisc~ncia lhe ocorre nu1no 1c-rnUl':.l in1cns:.t nos versos ..Minha mãe. m inha m5e ! ai que saudade imensa do tempo em que ajoelhava. orando, ao pé de ti". Junqueiro pretendia antes de morrer coligir seu pensamento filosôfico nu:;:'.' obro de lôlego que teria denominado ''Unidode do SERº' . Niio c hegou a ~t~-c~~- 31 : e~su 01?ra que _seria a maior, na su::i própria ex pressão, said:i do seu Gt ~ pr,vilcg,~do - F_o1 melho1· que assim tivesse nronteci<lo. 1 't rn_J unc1C1<!11'0 ro, poeta. poeta de rac;a. pacto de sentimento, poetn de r\~;~ 0 na<;uo, poeta de pensamen to. poeta de a<;5o quase cliríomos, poeta de pro– varlad que nos clava os . versos mnis admirá veis,' sob uma gamo musical e mais as e atraente. Foi o poeta das h.iperboles e das a ntiteses, das preocupa- ,

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