Revista da Academia Paraense de Letras 1952

1 1 tl6 RJ,;V l ST A D A A<JAD!l:~l A PAR.Al!!NôJ,; UI!: LET H,AS EUSTAQUIO DE AZEVEDO Disc u rso proferido p elo Acadêmico Olavo Nu nes, f unda dor da cadeira 32, qu e tem como patrono Natividade Lima, na recepção ao escritor J . Eust áquio de . .\.zevedo, eleito para a cadeira 11. paLrocin ada por C:.trlos Nascim en to, reali- zada no Teatro da Paz, no d ia 27 de julho de 1929 Sr . EUSTAQUIO DE AZEVEDO : Scam andro, filho de deuses. de us êle própr io, pa ra ser imor tal, precis o fóra que os deuses imorlais o transformassem em rio, em cujas águas claras, cor re nt es e murm u ras. iam as ninfas belas às vésperas de suas núp cias, por obra e graça de Júpiter - o Todo Pode roso. - mergu lha r os corp os virgens , brancos e nús . Então, de ntre as canas e os j uncais das ribas, Scamandro exsurgia , ap olineo e risonho. con duzindo-as pelas mãos ao seu palácio e ncantado. De outra metamorfose n~o sei, Sr. Eust áquio de Aze vedo, a não serem aquelas experimen tadas pelo vosso espírito insatisfeito e insofrego , na e vo– lu~ão _c.onsta n!e das idéias e do pens ame nto, que vos fosse i!'lp~s ta. por de ter– m m açao graciosa dos de uses imortais . Ce rto ê que chegais Já imortal ao~ umbrais da imortalidade . Foi essa imortalidade florindo perpetuame nte em m a ravilhosa eclusão de engenho e arte. que lnd 0 uziu minha "MUSA VADI A" , num rá pido i ns ta nte de su ave humorismo, a vos delinear o perfil n uns versos inofensivos, expressão carinhosa de nossa velha estima, nos q uais cataloguei várias d<: vossas obras : Vimo-la um dia, enqua nto fora a chuva do a lto descia em tristes mélopeas, a desflorar virgineas "ORQUIDEAS" no regaço florífer o d ' "A VIUVA" . .. Er a ela a "MUSA ECLÉTICA" do bardo, a alma lhe ench er de luz e de "NEVOEIROS'' .. . Qua n tos "DEDOS DE P ROSA" alviçareiros 1••• e era-lhe a vida assim p recioso fardo .. . Passou por êle muita vez a mo~te de. foice alçada em fúnebres "VINDIMAS'' e ele s empre de pé, sereno e forte ... ~a " ANTOLOG.IA' ", a flor d as obras primas, Ja_ reíulçe, _imortal. o altivo porte desse m1ne1ro pâu das nossas rimas . .. Sr . Eustáquio de Azevedo : .. O vosso lirismo virente , eternamente primi.veril, certo espet·ava encon – trar as portas do Olimpo, pa ra saudar-vos, uma das nove m usas, Erato, pelo menos · Mas o humorismo dos nossos confrades, o clássico humorismo acadé – m ico, por vezes p_ontilhado de uma leve dose de pe rvers idade, quis que vossa velhice glorios a tivesse a recebe-la nesta hora a ngusta a minha velhice obscura . ' ' . Foi 'lma ~erfidia a rmada à jus tiça das voss!'s aspirações. E . estacastes i.urp, eso · Os vossos 1>assos vacilaram a entrada, e a sombra de uma vista passa– g_eir a e~pa nou a cla r, vide ncia do vosso esp1rito. Mas posso assegurar-vos, Sr. l':ustáq_uio de. Azevedo. que isto aqui, é, efetivamente a ACADEMIA PARAENSE UE LJ,;TRAS ; o As,_lo da Ve lt11ce uesam parada é lú adiante. f iló . Ademais, c reio não te rdes ainda ascendido àquela idade assina lada pelo soto, em que os velhos, niio podendo mais dor maus exemplos se consolam em d_ar bons conselhos ; ou àquele per lodo em que o ve lho, na classificação cbausticandt e de Faguel, "é um lenõmenQ. insólito é uma h ipérbole u m tanto J7~rra a natu~e za". ' . Mu!t 0 embora, sem os artifícios e nganadores da moda, que, no dizer conce ituoso do ~:'cl\·c M.:.noel fle1·1rnrdcs, "servem de dizer na cara ao desen– ~a no _que m~nte , ides c umprindo, Sr . Eustáquio de Azevedo, nas expansões sei:nP6 ; e revdet desce,:i,tes das vossas ten dências estéticas, o conceito luminoso .do pstc ogo, e _que a a rte da vida é fazer da vida um objeto de a rte " . Foi 21 oeleza ~as dati_tuctes que le vou t.;oetne a afirma r a resp eito de Schille r que o que mais a m irava _nele era "o grande esti lo de sua vida". Di7:em que os velhos_ gastam u ul tima parte da existê ncia a se re petir . Dai A s entença de O1der ot sõbre volialre • - "Voltaire aos sei;senta anos é o papagaio de Voltaire aos trinta· . ·

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