Revista da Academia Paraense de Letras 1952

REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE Dll: LETRAS S3 23 anos. be líssima sôbre a p edra funebre, os lá bios ligeiramente queima do!! P " IO IQX1CO violento. O seu drama fo i o drama dos náu fragos sem salvação. Lutou e bracejou à supe rfície d e uma vida liquida, enquanto p ôde. Quando ·1he faltaram as últimas forças. - as últimas esperanças - s ubmergiu. Soube de uma carta que deixou para o marido. Dizendo mais ou menos isto : Que seu último e nsejo de fugir dêle. fr'lcassara. Quem terá sido éste último ensejo? N ão sei. Eu f ui, covardemente, um dos primeiros. Mal me r efaço. agora, meu car o a migo do enorme pavor dessa tragédia ... Vê, portanto. como eu sofri. como eu ainda sofro. como e u fui vencido sem n•1nca ter sido um vencedor. Acalma-me. pois , o espírito com as tuas palavras amigas e dize, dize com lealdade. se é p ossível n gente ser indifere nte a um drama interior como ésse. . . Fiquei alguns segundos 3em responder-lhe. Disfar cei m e u olhar. que durante a s ua impressionante narra tiva, estava cravado sôbre a fronte de Mário, sentindo a gra nde nngústi'I que tanto o 11flig ia. Rato-lhe. e n tão, car inhosamente. no ombro : - Sofres muito. eu sei. Foi a fi;,talidade que te fez co-pai:ticlpe dêsse drama cheio do seu pró prio sofrime nto. Não compr eendeu o afeto do seu marido; incen– diou-se de paixões pelo jovem que a fascinou; encontrou em · ti o mais nobre, o m<1is digno. o que. talvez. lhe pe netrasse melhor no coração, porque lhe r e primiu o desejo para lhe d a r um p ouco de espiritualidade no a m or . Ruth d orme hoje no regaço da terra que a a gasalllou para sempre. Amanhã ninguém mais se lembrnrá dessa m ulher que foi v itima de su a exaltação e de s u a fraqueza. Ninguém. Sómente a quela criaturinha que ela deixou e que h;i de crescer , e QU<" ainda pode ser , •ítima do mesmo destino. O trágico destino das a lmas transviadns. Os olhos de Mário e n ch eram-se d e lágrimas. Eu n ão pude, não tive ânimo d e prosseguir. Caminhamos s ilenciosos como duas sombras . Apertamos as mãos em despedida. . Aquele silencio traduzia, certamente, uma grande amargura e uma grande tristeza em face do inevitável da contingência humana. •

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