Revista da Academia Paraense de Letras 1952

8 REVISTA DA ACAü.EMIA PARAENSE DE LETRAS Os "Simples" são um hinário panteisto onde o lutador cansado de luta r e de esperar as soluções desejadas canta em novas esltofes os têm as e te rna– · mente humanos e eternamente poético da inutilidade do esfôrço, da simplici- dade campestre e da serena mansidão da Nature~a. _ A Velhice do P adre Eterno, convenhamos, e um panfleto contra a Igreja, excessivo e injus to, como todos os panf'letos. Mais t arde, diria o p róprio Guerra Junqueiro referindo-se 'à sua mais re– nomada obra. ''Se a escrevesse hoje, ter-lhe-ia dado outro caráter. Hoje sei mais e basta-me, por exemplo, conhecer melhor a vida de São Francisco de Assis, êsse super-homem admirável, pa ra ver e sentir o valor de uma ins titui– ção capaz de possuir e merecer uma tão extraordiná ria figura ! " Valha isto, e ntretanto, como um ato de justiça à Igreja Ca tólica tão dura– mente espesinhada no livro imortal do imortal vate português . Aliás, o sentimento da justiça em Guerra Junqueiro era sutil ; mas, nos seus de rradeiros tempos melhor se acentuou, obrigando-o imper iosamente a refundir os seus últimos trabalhos· pru·a neles apagar tóda a alusiio e tôdas as palavras ou afirmações ousadas onde ardesse a flama do ódio ou pudesse ofender a convicção mesrno ingê nua dos crentes. Na Velhice do Padre Eterno, Guerra Junqueiro tez vibrar mais s is temática– mente, do que em qualque r outro livro, a corda do sarcasmo. O riso de Jun– queiro é o de Eça e o de Ramalho ; é o riso de uma época cheia de critica simul– tâneamente destrutível e construtora, cas tigando e educando. Por vez~s uma ironju leve : ' "ó Deus forte, ó Deus justo. ó Deus clemente para que eu seja um verdadeiro crente com muitíssima fé nos teus assombros, tu que fizeste já parar o Só!. Digna-te. ó De us, "lançar sõbre êstes ornbros" um capote espanhol ! É um milagre tão fácil, tão vulgar, que qualquer aliaiate o arranjaria co· a simples condição de lho pagar'' . Outra vezes, se torna violento e exagerado, derivando mesmo para 0 exagêro bocageano, onde parece se ter inspirado. Assim na MORTE de o . JOAO: "Um nédio fradalhão de larga venta, avinhado tonel de santidade'', ovisinhando-se de Bocage : "Bojudo fradalhão de larga venta. abismo imundo de tabaco esturrro·•. Perdoemos, entretanto, ao poeta í!sse a nti-clericalismo cético que vezes, n~s faz sorri:,, ~ em .. outras pâgin".ls tern m<;nos graça do que intençiiop~r a ter . Sao simples piadas para fazer rir a galeria. Fato entretanto mais e teristico da vida de Guerra Junqueiro, é o seu panteismo místico de q carac– vamos ocupa r . uc nos GUERRA JUNQUEIRO, PAN'l'EISTA Tinha Cuena Junqueiro um verdadeiro pendor religioso pora as da naturez::i vendo em todos os se1·es e em cada uma das s uas pnrticui obras reflex o cln próp~·i::, d ivindade_ 9uic;!' a pr~pri::, divindade fazendo de tuJ'i um conrusuo J:,mentnvel dos mod1f1cnçoes l11n1tas, resu ltantt•s dos a trlhutos d uma tância infi nita. a subs- Na s ua adol,"scend:1. ~oi ~uerro .Jun_quc_ll"O ledor contumaz das G . de VirgtUo tracluz,dns por Cos lllno. i;: ass11n mtPressnnte a clescriçüo eorgtcas !az em seu livro ··o Simples" do trnjelo cio ('nJ•ro de boi que 110 rr:~ue nos manhã, leva um eastanheiro : ' cura da "Pela e., trncla, que entre ccrc,jais ondeia uma pe que, ruehn, - tt•O.. Jn-ró.. Jú : ' vai ca'nwn,Jo e r:uiondo o c:a,·r o parn n aldeia Süo dois bois enormes, e n car1·ndu c heia co;n ur11 crast::1nheiro upodfc.cido j a li:. s~i;,i;i~~õ,;: ~-,;1~· i)~~i"~é;.:l;c_:,;~ ·ói: ·i ,;i; i 1, nos su lcos que :1b1·c, canta a cotoviu as boninns rie1n-se e 3n1atlura o p[10 1 Méri-ós. à~sÔtli~.~- ·.;õ;. irúi;;; -~i",;.~:·. · .... .... .... o poe tn e nco,llrn no seio d a r,a turpz:, a· ,rlél:1s r-ternes da verd justiça do dlrPiln c do nmor, p1•111c1pton 11111rl:11nu1,t:11s d:1 cr:ndutn dns {:i;;ei: julgand!) ainda _en<'onlrnr em a ~._nturez:,, como que a ponte1zac-do de~sas idéias e princtpios . Dissera na VILUICE .

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