Revista da Academia Paraense de Letras 1952
72 REVISTA DA AGADEMIA PA!tAENSE DJ;! LETRAS tar10 : "O Lemos n o P ar à tem pintado o diabo ! . . . Está se tornando o maior polit ico do Nor te ! Cha n ce I Ha bilidade ! Atitudes másculas ! . . . ~ era . P ais estava ali, perfumadíssimo com "Mes delices·•, · de Hou bigan t , (êle era u m a mante das essen cias ra ras), regula r estutura. tez branco-.ro_sado, gordo, saud á vél, grandes olhos pardos, bigode e ca belos bra ncos, a diça~ clara d o Carioca, e com u m todo de satisfação irônica e bondosa. Mas perfeito homem de sociedade . _ P edi auxílio para a edição do jornalzinho. e éle riu-se com proteçao jocosa:_ Está bem, vou ver . . disse: e sério então fez várias p er guntas . Em seguida , grato e confuso. me despedi, deixa ndo-lhe a minha moradE! num pedaço de _pa pél,. Os corredores e ante-salas já es ta vam cheios de en orme turba de pala– cianos politicos . No d ia seguint e, à n oitinha. ao c hegar do Armazém, minha m ãe um pouca inquieta disse-me : - Veio aqui um soldado a tua procura, era um um bombeiro; e deixou éste e nvelope a ti dirigido . Abri-o. Dentro ha via duzentos mil reis envolvendo um ca rtão, que dizia: "Com os meus cumprime ntos·•. - An tônio Lemos. Deixe-se dito que " O P ará" foi editado, e profusamente dis tribu ído pelos amigos de Sua E xcelê ncia . gesto que o sensibilizou. E u por êsse tempo tinha 1.6 anos. Nesse n úmero colaboraram 'Francisco L eão, Olinto Sales, Ma rtins San– ta na, Randolfo Serrão, Roq,,e Menezes, Alvaro Ferna ndes. Re nato Via na, Aires Palmeira, Te rê ncio Porto, e e u, que era o corde nador. •.rodos, naquela época, juvenis in telect uais. . V No tempo do " velho'' Lemos, Belém vive u a época d o seu maior fastígio. Sendo o maior empório de borracha no mundo, o seu comércio nadava em ouro. A cidade vivia a s ua fase verdadeirnmente esplendorosa e romântica. Eram · fes tas suntuosas pelo Carna\'al, verdadeiros carnavais de Nice . Regatas dignas das dos Doges de Veneza, realfaavam-se· p eriódicam ente. Os dinhe iros da P refeitura, embora gas tos cm jardins ostentosos, a pare– ciam a ródo. Met ade segu ramen te, do calçame n to da cidade foi feita nessn gestão, que durou de 1897 a 1911 . O Inte ndente Antônio Lemos onerou com empréstimos o Município de Belém por m uitos a nos, com o a r gume nto que os fu turos cidadãos iam gozar os me lhoramentos feitos, porta nto, lhes cabia tam– bém pagá-los. A Inte ndê ncia n aq uêle tempo r e ndfa muito menos que hoje, se bem q ue o dinheiro fosse mui to m ais valorizado . • E por tôda a parte, a figura do homem s uperior dominava. Asilo d e Mendicidade, Forno Crema tório, Mercado de São Braz, Curro Modé lo, o velho Mercado remodelado com mais um anda r . o Orfana to Antón io Lemos, Compa– n hia de Fôrça e L uz (P a rá Ele tric), Ed ifício da Sant a Casa, com enorme apare– lhamento cien tifico ; o Corpo de Bombeiros. de organização m oderníssima , que possuía uma banda-orquestra, que rivalizava com a da Guarda Municipa l d e L is bôa, então famosa, - e ram obras públicas que ia m s urgindo sem descon– tinu a r , mercê da ope rosidade megaloma n íaca do Inte ndente. O Se nador e nfecha va na sua mão, t)a rle do poder público. Com o politico, indica va as nomeações ao gover nador, cabendo a este fazer as demissões. Era Com a ndante Supe rior da Guarda Nacional, Provedor da Santa Casa. Minis tro da Ordem Te rcev-a. Intendente · de Belém, Redator-Chefe-proprietá rio da "A Provê ncia do Pará ". Senador do Estado, P res ide nte do P a rtido Republicano Paraense, e linha uma infinidade de ca rgos honor íficos ma is, que o tornavam o homem m a is influ ente da circ unscrição pa raense . " O pode r de Antônio Lemos, dizia a Oposição, - bem se pode chama ,· a Bastilha das liberdades do P a rá". E a pe lidavam-no irónicame nte, , de '·Le roy B eaulic u " "Bob o alegre", " Siâ Aninha", e tc. Da outra banda , a "P rovíncia'' rcspo1l dia em dlapàsão equi– valente. As cousas as vezes chegavam a térmo de meterem à baila as -famil,as de Le mos e do Governador. Nessas ocasiões, o p~u chinchova , e a c:a pa ngacla comondoda por J osé Marcelino agia sem p iedade dando ba nho de pixe nos advers ários, ou sur ras de umbigo de boi. Certa vez, J osé Marcelino ch ega j unto ao chefão e diz : - Pronto Senad ô, o serviço esta feito. - O homem a pa nhou convenientem e nte ? - "Nbõ s im, Se nadô" .. . Era o Dr. Diogo Holanda de Lima, q ue usando de uma crítica atroz, sofre ra as consequências do seu ato . Mas d epois disso, cm ple na democracia libera l, outros surrs1s 1.i:m se d ado, outros jorna is têm sido empastelados, sem que o té rmo Bastilha h a ja s ido de novo invocad o. Quando se ina uguro u o govi:rno de Joifo Coelho - candidato impõsto p or Monte n egro, q ue, usa ndo de inexplicável ingra tid5o se c,chava desp c,.itado com o e nor n1e pt·es tigio do Senador Lemo~. esqueccndo'-se que fôra ielto go-
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