Revista da Academia Paraense de Letras 1952

'.REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS Mas se c u fitar-te, o que jamais sen tira Foi-me dado sentir-hoje se aclara, Do desengano a fun e rária pira, A treva em que mlnh'alma se atufara. Quem do ldcal ao templo alou-se um dia, Basear 11a terra amor n ão deveria, Que amõr terreno é e nganador troféu.: Volvem. pois. à Natureza os meus cantares; Se cstrêlas há. tão lindas como olhares, Há almas não há tão puras como o céu ! ... .. 65 Ha quatro anos-, quando os me us quinze anos me segredar~m com todo o ardor as pr imeiras palavras sentimentais da vida. eu idealizei o F reder ico Rhossard apai– xonado. e nunca mais pude esquece-lo, porque a minha admiração por êle nasceú mais de sua desgraça amor osa do que propriamente de sua poesia ... Eu e ra n a– quele tempo um discípulo das lágrimas e êle sabia ensinar ! . .. Depois fui a proxi– mando-me de sua poesia e hoje não quero elevá-lo ao ponto onde estão os poetas q ue nos levam para o Infinito. nem ao ponto onde estão os poetas que n os levam p ara o centro da terra. Não I Quero ape11as crer que Freder ico Rhossar d é um dos poétas que nos deixaram na terra, mas, que entram na nossa alma e não podem sair mais ele lá. . . · Neste momento, deixai que eu esqueça um pouco a Academia para p ensar no mundo. para pensar nos anseios da humanidade, para pensar em m im, pa ra pen– sar em vós e dizer com todo o e ntusiàsmo de m inha mocidade, tôda a suprema convicção consoladora de m inha atitude perante a min ha geração, como c ristão integral ! CrL~tão integral. sim. cristão e católico ! Lã fora .na agitação da vida, os home ns têm vergonh a de ser católicos, porque só encontram no catalicismo :i exterioridade e o i nterêsse do domínio. Talvez a razúo esteja muilo longe desses pensamentos que cos tumamos e ncont ra r lá fóra, na agitação da vida. porque c;lentro da filosofia cristã eu tenho sentido que a solução do problema da felicidade humana consiste na procura do h omem p elo homem, do homem que se perdeu no n\eio da m isér ia originada por s ua pr ópri" a lucinacão m:iterialista. Lançai um rápido olhar para a His tória e respondei por que a humanidade civilizada está quase sempre vestida de lu to. reconstruindo cidades arrazadas, en– tre lá~rinrns e blasfemias ! E eu sei que a vossa resposta é a de todos aqueles que tiram nn1 1ninuto ao tnenos na vida para pensar na D ôr ! . .. A vossa resposta é que todos êsses n1a r ti.rios nasceram do ódio: ódio por educação, ódio por sof r i– mento. ódio por superstição. ódio por ignorância. ódio por saber, ódio por am– bição. ódio por medo, ódio por nacionalismo, mas ... ódio por !alta de Arnór ! ... tl: êste e niio outro o espetáculo tenebroso do mundo sob o ponto de visto hist õr lco. E sentindo êsse momento tr,igico universal, compreendemos, dolorosa– mente, aquelas palavras que Farias Brito proferiu há quase meio séc ulo : ''o egoís– mo chC'ga a tomar proporções a~sombrosas. ele vando o interêsse à categoria de princíp io :,oberano da tnornl'". E il sombra desta época histórica tão impressionante foi que a minha ge– ração nasceu e caminha dentro do espír ito do t empo, mas es quecida de procur ar o homem eterno de que nos fala t ão eloquentemente Alceu Amoroso Lima. Não quero falar demoradamente do passado, porque a minha geração, ge– ração de .-ida e niio de m9rte, tem necessidade de con,preender o futuro, e ê-s t" sonho de reabilita~·fio do Universo que c u guardo no coração, também vive, t1:n• bém palpita. também procura sublimar -se no coraçiio da mocidade intelectual de meu tempo . . Eu procurei unt caminho para se~uir no. [uLuro e encontrei a doutr ina íilo7 soficamenlc snt?rada do Cristo, tão combatida. mas tão suave e em q ue não a chei o cristianismo pessimista de Lawre nce, nem o c ris ti:inismo pusilâ nime de N ie tzs– che. E, ao sabor da filosofia doloroso de Unamuno eu quis ver a agonia do Cris– tianismo e encontrei apenas milhares de cristãos agonizan tes, e entre êJes o gran – de pensador político da Espanha. E senti que a filosofia crist ã crê na vid a, n a v ida como passagem. no homem-total, na tranquilidade espiritual e atividade física c-omo necess idades para a rcalizacão do homc,m pelo homem, dentro de Deus. E ê-sse cristianismo encontrei-o no catolicismo, a postólico, romano. Por que negá– lo ? Seri:i negar a verdade e eu não sei como começar a negar a verdade ! ... E consciente de que o que o mundo tem é falta de Amór, falta de amor que ~e trans forma em guerra, e portanto na ..li berlRcão dos i nhlintos" usando a síntese icliz de Raimundo de Sousa Moura. cu me ~,nto tra nquilo, porque encontrei no caminho cristão :.iquelc "amôr como critério da Verdade", que Ribamar de Moura disse haver encontrado por oul;ros caminhos. .. . .

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