Revista da Academia Paraense de Letras 1952

REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS Senhor, basta de luz, das nuvens no s udá rio amortalha esse sol, o facho incendiá rio de fulgores letais : Descerra agora , ó D eus, do abismo a catarata e aplaca a sêde atroz, que os home ns, punge e mata em torrentes caudais. ðb~i. ~~. ;,;ã~~. :..:... dci~~i . ~~i~ ·a . ~;~~ú ....... . 110 regaço do misero infellz, a quem a angustia intima desola e a fome abate a palida cerviz t Esses que a Come esqualida tornara e estendem, a pedir, suplices mãos, são todos filhos desta pátria cara, innlios na crença e no sangue irmãos. * * * 59 Senhores. Eis ai o poeta ; eis, ai a sua obra . Já expliquei os seus versos : disse das épocas d e sua laboração, dos meios em que viveu. e as influênc,as de les recebidas. O poeta foi o produto do seu meio, e nós n:io o podemos julgar senão em face do tempo em que viveu . A força determinRnte do meio atua sobr e os homens e as suas obras . O meio flsico, biológico, social, exercem cada qual, dentro de sua órbita, o tra– balho silencioso de difer enciação, d e determinação. de finalidade sobre os homens. E dentro dessas influências, no turbilhão de forças intimas, de ordem f ísica e psiquice, foi que o ·nosso poeta viveu e produziu . A sua poesia pois, d evia refletir todas essas forças, nas suas qualidades e nos SPus defeitos. As influên cias ex ternas foram por ém contrabalançad as. perderam su_a força absorvente, por encontrarem poderosa reação d as qualidades individuais do poeta . Seu tale nto, sua cultura, pois conhecia latim, francês, cujos grandes escri– tores lia e traduzia como Hugo e Lamartine, sua fé sincer a e pura, sua esme rad a e duca ção, seu temperamento de doe nte. se refletem nas suas obras, legando-nos essa poesia de fé de delicadeza e de inquietação . Um ano antt!s d e s ua morte. na aná lise mais p rofunda que o homem tem traçado de sua própria vida, na poe!-ia o MEU ANIVERSARIO, êle sintetiza' a sua obra como a expressão do seu sofrimento, do seu amor e dos seus cantos : Sofrer, a ma r, cantar, eis m inha vida . E a vida conscientemente sentida que se ma nifesta pela dor e pelo amor· Só o sofrimento é capaz de transformar o homem , de fazê-lo um heroi. um mâ rtir ou um d esgraçado . Só o .amor ê capaz de fazer a sua felicidade. A poesia, a e xpressão sonora de ~odas as nossas emoções , é o traço de uniao entre as r ealidades da vida e as 1deahdades dos sonhos . . Nessa tria de, que foi o completo mundo d o nosso poeta, está de finida toda a sua existência. Sofreu as dores físicas <lo mal insidioso que o abat eu ; carpiu so- 1nmentos morais que a angustia de seu ~spirito o to rturnva, prese nciando a luta travada elltre o bem e o mal, e ntre a m iser1a moral e a perfeição, e ntre o ,mpudor e a pureza . Sofri t mais de uma vez agudas farpas, senti cravar~me a dor no corpo enfermo, e em seus nculeos estende mi11'alma e fibr a a fibra a comprimir raivosa . ~ o grito la ncinante da a11gus tia de 1:1m desesperado, d e um torturado pe– las dores irreprimíveis que lhe s1úocam a vida, de um sonhador que vê se desfa– zerem os seus idéais, carinhosa e ardentemente criad os pe la sua al ma de predes– tinado. Dia nte de tanto sofrer , de ta nta a ngustia, pa,a escapa r ao d esespero. r ef1:1- g ia~se no único abrigo capaz d e lhe d ~r . !1 resignação 11ecessária que o subtrlll 3 ao dominfo d as fo rcas malsãs - a Re Lig,ao.

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