Revista da Academia Paraense de Letras 1952

R~VlSTA DA ACAOEl\lIA PARAENSE DE LETRÁS Oh I tú meiga v1sao, sombra divina. que nos sonl10s de n1inha fantasia vagas, envolta em candida neblina Mais bela do que o dia ! Tú, que nas roseas nuvens d'alvorada no vespertino véu surge, vertendo n'alma angustiada um balsamo do céu ; Tú, que da vida nos pragas desertos, nas agruras bravias do caminho rebentas uma flor de cada espinho sobre os passos incertos, Tú, que da vida a tela me entretedes, de gentis bordaduras; e a sêde d'alma sofrega arrefeces num lago de venturas ; Oh ! na terra mansão se acaso existes, se não és criação da mente ousada, desterrar de meu peito as sombras tristes, oh ! vem mulher amada. Vem, descerrando as dobras que te ocultam do místico sendal ; que eu veja e palpe estremecendo e viva a filha do ideal ! . .. 57 O amor não lhe causa sómente o prazer; não é vinho capitoso que ton– teia, opio que faz sonhar. E também a expiação, o sofrimento, pois coloca tão alto o obje to amado, que não pode atingir. Cerca-o de uma aureola de divin– dade e de pureza, sofrendo com a repressão das paixões. que gritam dentro de si. E quando a sombra do lascivo anhelo tenta arrastar-me ao mundanal paul penso, meu anjo, nesse olhar tão belo 1ngenuo e puro e como o céu azul ! Ai I nunca desças dêsse trono aéreo onde minh'alma se cómpraz ·te ver ; Ai I nunca rasgues o gentil mistério a njo, dominas - servirás, m ulher ! Deseja para si as dores que possam alancear a sua amada, os sofrimen– tos que ela tenha 'de passar na vida. E dirige a Deus a prece comovente nestes versos lindos : Como o lírio do deserto, Senhor, ela é branca e pura, a forn1osa criatura, a virgem do meu amor, Vê de s ua almR no fundo n ã~ há íél, não há veneno : tudo é candido e sereno como o fizeste, Senhor ! Mas ela é fragil e a vida é triste e cheia de espinhos: orlam da vida os caminhos despenhadeiros fat ais : Se a flor sorrir-se u'aurora de aromas enchendo o vento, pode curvá-la um momento a furio dos vendavais 1 Faze, Senhor, que sua alma lago de azul transparente, onde revê-se contente o formoso arcanjo seu , a meiga flor da inocência guarde sempre imaculada como em sacrário fechada, como uma bençfio do céu. Ela é a estrela formosa que a minha noite alumia, (loce fanal que me guia

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