Revista da Academia Paraense de Letras 1952

Rl::VlSTA DA ACADJ,;MIA PARAENSI!: JJE Ll!:'l'HA$ 53 Sente-se a influência de Gonçalves Dias nos versos do Écos das Selv!ls, quanto ao metro mas o nosso poeta não o (mitou, não o copiou. Suas poesias trazem a impressão de sua notável peYsonahdade. No Canto do Selvagem, ou– çamos estas estrofes, cheias de vigor descritivo do meio cm que se estadeia a valentia do tupi : Quando ruge a tempestade, Com horrisono estridor, E repete a im ensidade O seu éco aterrador ; Quando os troncos ululando Vão pelos ares voando Nas asas do furacão ; Não me acobardo e aterro Nas por invias brenhas erro Frecha e tacape na m ão ! Quando o ar fendem os r áios E ronca a voz do trovão, Entre susto$ e desmaios Não me bate o coração 1 Olho plácido a tormenta Que ao berço nos acalenta Quanto infantes à correr, Travar luta os elementos Vemos, e as folhas cóos ventos De nós em torno rugir ! Quando nuncio da campanha Se escuta o márcio boré, E acesos em viva sanha Vejo meus bravos de pé, Avante, qual rocha viva Me posto, na fronte a ltiva Tendo o plumeo Kanitar ; Entro nas chusmas cerradas Fazendo largas estradas Como o ráio a fulminar. Assim passa a curta vida Filho da tribo tupi ; Na paz, em ocio volvida A sombra do burití; Na guerra, em lides sangrentas Tribus fazendo odientas Respeitar sua nação ; E quando a sorte é-lhe infesta Não cede : como a floresta Cai, aos golpes do tufão l .. , São versos em nada inferiores aos dos melhores poetas de sua época, não obstante laborados nos 17 anos. A lira Juve nil foi parte escrita aqui no Pará e par te em Recife . Os ver– sos daqui foram produzidos entre às ·14 e os 18 anos, e os de Recife entre 19 e 20. Quando surgiu o livro do nosso homenageado em Recife, no inicio de t;rnndes acontccin1ento;,; cuHur:"\Js , con1 a invas ão das novas idéias transfor- 111istas, e de scduccntes conccpçut:s jundicas criadas . pelos juris tas alemães, de que ~e Jizeram nraulo$ Tobias Bá1Telo, $ 1Jqio Rome ro e outros, este último, que comec;ava a exercc:r a cntica litl!rá r ln, escreveu sobre os ITARPEJOS POÉ– TICOS. Api-uv.,itou e~so oprutunidode para iniciai· o lrnbalho de demolição do romonthuno, i.{lle agolli:lnvn, Investindo couL1·n :1 poes ,a purnn1ente subjetiva. pessoal, insince1:,, que só via uma face da viJ:i . r~ra um mundo novo que s ur– g ,a, era un1a Cllrrcnle ldf'rarin c1u<: se io i 1npor e para isso era necessário d~struir o que exis tw do romootismo, que so no B ras il ainda dava sinais de v ida, 1nas que! 11.'.10 pnssnvn dr u1n :u1acronfrmn nos pnises de 1naior cultura . De modo que u ntnque>, a cr1t1c:i, er:rn, m ais contra n corrente literária do que mesmo contra o valor do poeta . Isso porque Santo Hele no Magno, se na Harpa Religiosa e nos i,;cos das Selvas ainda cro o romontico de ~ua -,peco, na Lira Juvenil vemo-lo objetivar– se, compreender e traduzir em seus , er,;os a natureza canta ndo-lhe a beleza das cores, o encanto da vida que nela <•xiste em suas variadas manifestações. Não se encontra nes.us su as poesias, a mofineza sentimental, e êsse estilo lamuriante dos que José Veríssimo chamou de nos talgicos da desgraça. A s ua musa também se comove com as dores alheias. Dedit'a ndo umu poesia 0<1s órfiios, incrcpa os ricos, es ligm.:itlzondo a sua avareza :

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