Revista da Academia Paraense de Letras 1952

52 REVISTA DA ACADEMIA PARAElNSE DE LETRAS um acentuado espirita religioso, vm estranho sentimento nacionalista, com os hinios e loas aos nossos aborigenes, e a sentimentalidade triste peculiar à nossa gente. José Veríssimo assevera que cm muitos de nossos home ns de letras da época romantica. que r dos seus pioneiros. quer dos do 2. 0 período, sobressaia o sentimentalismo doe ntio. extravazaclo em poesias lamu•ientas. com a mofineza sentime ntal dos primeir os, de envolta com o cepticismo literário e a desilusão e o desalento dos se,?undos. Na divisão que o nosso homenarreado fez do seu livro HARPEJO$ POJ!:– T!COS, ressalta evidentemente a influé ncia do romantismo bras ileiro da pri- meira época . . Denominou "Harpa Religiosa" à primeira parte; "f:con ela Selva'' à segunda : e "Harpa .Juvenil" à terceira. "Harpa Religiosa" e "J':cos da Selva•· refletem a influência do roma ntismo da primeira é poca, que se des taca no Brasil, pelo caratet palri6tico e pela re– ligiosidade moraliwnte daquela geração, como d isse José Veríssimo . Mas. o nosso poeta. com s ua destacada personalidade. não se deixou absorver com– pletame nte pe la tristeza doe ntia a que aludimos . f:le traduziu suas emoções juvenis. s uas iJ:npressões vista"s com olhos de criança e compreendidas com o sentimento de uma inteligência privilegiada. dentro de um espírito natura l. exteriorizando o que via na natureza com o sentido da realidade. que a s ua imagina<:-âo e a sua ctnoção compreendfr1m. . Assim é que a sua poesia, em qualquer das partes de seu livro, n ão é umcamentc subje.tiva. p essoal e egoística. Profundamente católico. convicção .que o acampanhou até o túmulo. e que lhe deu aquela placidez. bondade e resignação. nos maiores sofrimentos fis!cos e morais que suportou. cantou na Harpa Relil?iosa, o sofrimento de Cristo. a sua Resurreição. imploroµ à S . S. Virgem Maria a proteção divina para a Huma nidade, dominada pela impiedade, pela corrução e pelos s ofrimen– tos. e traduziu, em esplendido canto. os louvores a Deus pelo que sentia de Bom e de Belo na natureza. Foi ;, Deus que confiou a sorte de seus versos, das primacias poéticas de sua juventude, ·em estrofes since ras e humanas. Ao.s 17 anos, nuina demonstração de fé sincera , dizia: "Volve. Senhor, os olhos complacentes Sobre o misero bardo que te implora, N'harpa sonora desferindo D custo Ingratos sons e carmcs ! Desta harpa virgem, c ujas aurea.~ cordas Nunca vibrou, vem hoje reverente Em teu alta r depor como holocausto, O cântico primeiro Se outróra o sangue imaculado e tenro Das vitimas nas áreas imoladac, - Depois vitimas nas áreas imoladas, As cham;is crepit.antes : Em vaporosii nuvem ee elevava A Ti. qual fumo de oloroso incenso, .!'1 Tú, Senhor. os olhos já propícios Sobre a terra baixáras. Não desprezes agora a pobre 9ferend.a, Se bem que indigna de te u Nome-Santo. Mas no ret?aço pa terna l acolhe-a C'um sorriso indulgente : Se o Rei-profeta os inspirados psalmos Cantou. na eburnea lira celebrando Teu nome sacrossan to. Tú lh e deste. Senhor, o estro a rdente, Pois se um bafeja r Teu minh'alma ince nde l!:u n'harpa vibrarei sonoros Mnos. Como Moisés. por teu condão, haurira Da rocha A linfA clara : E nas ondas dos séculos vindouron. Qual encerado csquifP sobre as ál.'uas. Sobre nadando assomarão meus cantos A Te u n ome abraçados I" * * * Na parte Éc.-os das Selvas, o poeta, como lodos os romanticas. na luta con– tra o c.-lassicismo. na r <:hcldia à c-orrente arc·odico da literatura lusa. e no afã de afi rmar o n:iC'ion:ilismo, cx:ilc;a o 1,osso indio. canlanclo-lhe a vnlcnlia, a sua re– volta à escrnvidão lmpostn pelos conq11is t:1dor r•s, o seu sonho de lihcrdacle, os seus amores no selo iinenso e tr:inquilo da lloresta. .....

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