Revista da Academia Paraense de Letras 1952

REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE D'E LETRAS 51 SANTA HELENA MAGNO CURSINO SU.VA Jl:m ai:c'lsto de 1943 a Acl\demia Paraense de Letras realizou uma susl• extraordiná r ia pua comemorar o centenário do nascimento d e Carlos R lp6Uto d ~ San ta Helen a Magno, patron o da cadeira n . 35. Ocupou a Tribu na do Siloi;eu o a tu al d etentor daquela catedra, Desembar– gador Cursino Silva, que pronunciou a seguinte brilhante conferên cia : "Exmo . Sr . Presidente. senhores acad émicos, senhoras e senhores : A surpresa com que recebi a i ntimac;iio dos senhores acadêmicos. par a fa– lar sobre o ma ior dos poetas Rma?õnicos no centenãrio, do seu n ascimento. estou certo n ão será menor oue a d os autores dessa coersão inte lectual, exercida contra um estranho ou egresso das le1ras, ao sentirem que a ombros frágeis impu– seram tarefa esmagadora. desiludindo-os a iinperfeic;ão e a desvalia da obra. Não me era dado fugir desse tra balho. de esq uivar-me as suas düiculda– clcs. suprindo a pequenez do tempo com o es forço de um desejo, porque se tra– tava de prestar uma homenagem a um grande ,·u lto das nossas· letras. e solver uma dívida ele nossa geração p ara com aquele que honrãra a nossa terra e a ela déra tõda a luminosidade do seu talento e tôda a harmonia en canta do ra de !--uas emoções. E . também por causa mais intima, de carater puramente particular. fra– queza de coração, contesso. talvez censuravel orgulho, qual o de eu ter nascido na mesma gleba em que abriu os olhos para a Vida o grande poeta paraen se. CARLOS HIPóLITO DE SANTA HELENA MAGNO nasceu a 13 de agôsto. de 1848 no engenho Santa Mn ri,1. é margem direita do rio Tauarí, Município de Muaná . Seus bió>trafos asseveram que apôs receber de seus pais a instrução primária. veio de Muaná parà Belém continuar seus estudos, matricu)ando-se no scmimírio . A época, porém, em que se deu esse fato ainda não foi estabe– lecida . Sabe-se. no entanto. que já em 1863 cursava êle o Semlnãrio, pois em 12 de Novembro dêsse ano, aos !5 a nos de idade , recebia, em sessão presidida por D . Ma cedo Costa. o prêmio de excelência . (D. Lustosa.D. i\Iacedo Costa, pag. 82). ~m 1867 seguiu para Recife. e em 1871 formou-se em ciências j urídicas e sociais . , . De volta ao P a ril, aqui exerceu a Rdvocacia e o Magistério, ensinando Geo.1?rafia no Liceu Paraense. cuja cadeira obtivera em brilhante concurso. Viajou pela E uropa, e faleceu nesta capital, a 30 de outubro de 1882. Da obra de Santa Helena Ma,:no pouco se conhece, e, se não fõra a presti– mosidade d o ilustra do Dr . Elias Viann e do brilhante e,•critor Raynero Maroja, facu ltando-me aquele a leitura de "Harpejos Poéticos " . e este o contacto com o livro inédito " Ondas Sonoras", boje não poderia eu transmitir , a os que m e ouvem, a sonoridade comovente de lindos versos, e oferecer à vossa contem– plação espiritual .a vida ser ena e olímpica de um artist,i refletida na sua poesia. Dela, dir-se-it como Sílvio Romero dis se de Alvares de Azevedo - "O poeta da LIRA DOS VINTE ANOS foi um talento possante numa organização demasiado franzina" . Santa He lena Magno possuía 11mn inteligência pre coce, extraordinitria , r<'velando u m11 nnsia isopitãvel de snbcr, devorando livros, escrevendo versos desde os 14 anos. quando para o comum dos homens essa id ade é a quadra des– cuidada e inconsciente da vida . Criado num ambiente familiar de di1m idadc e respe ito, h aurindo d e ·r11·. pais edu cação religiosa a mais apurada e sincern, que seria durante a su a vida o estimulo, o seu a lento e o seu confôrto, semelhava a ~ssas flores erectas, b!'a!1cas e puras. que cmer,gem elas úr(uas cla ras e tranqmlas dos lagos Ama– zon1cos . A pureza de costumes ele seu lar. a religiosidade que nele reinava, a vida simples de um pequeno sitio, plantado naquela natureza p lácida, sem contras– tes fortes, com sua unifor midade perene . que r no verde amarelo d a mata, quer no manso deslizar do Taua ry de águas barrentas, imprimiram n a .alma e no sentimento. de nosso poeta aquela serenidade, aquele equi)ibrio, delicadeza e hondadc, aquela pureza. que tanto engrandecem, exaltam e singular izam os "cus versos . Esses traço, significativos de um es pirito superior são nitidamente per– cebidos. quer nas poesias de· sua in f:incia. que r nas produzidas na sua j u ventude pa~c;ada ern Recife, a1nbicnte que exerceu ~r~ndc infh1~ncia sobre o seu estro .' Nascendo. e escrevendo os versos do HARPEJOS POÉTICOS, na tronsi– ção do 2. 0 p eríodo cio romantismo no Brasil para os seus últimos dias, n ão lhe era dado csc-apar ,1 . ua influência, nos seus mais nítidos c111·acteristicos, - 1 1

RkJQdWJsaXNoZXIy MjU4NjU0