Revista da Academia Paraense de Letras 1952
50 REVISTA D A ACADEMI/\ l'AR /\F.NSE DE L ET&AS Sucediam-se as vi sitas, locais, das redondezas da légua pa trimonial e de sitlos e fazendas, à proporção que por lá ecoa vam as noticias de m inha p resença no sertão . E em certo sábado, o meu inesquecível Capitão João Ba tis ta. p or auem eu já indagara, c urioso de saber se ainda existia . Não faltou. n ão p od.ia faltar, mostran do sempre aquela fis ionomia fra nca. abe rta. s incera . largo r os to ainda liso, tostado nas canículas dos longos ver ões C'llcinantes : c"boclo s erta nejo, tipo do melhor quilate, afa vel, bon doso, falando rasgadô . amigo das horas certas e das horas incertas. Que longo a braco, comovido. aquele com o ue os s eu!' bra– cos pote n tes me cingiram e que e u re tribuia 'fremente de sensibilidade a a uvir– lh e a voz tremula. entrecort!lda nas hH'ocacões in ce:;santes à m emória de pa pai, o seu Cumpadre Mariz. E eu . tenta •1do disfa rçar minha emoção : então. ·meu car o cec itão João Ba tis ta, como vai sua familia , como vai o senh or assim ainda tão bem disposto. tão Corte, aue me parece. º "m tlr~r nf'rn por. o mesmo João Batista que e u deixei ? Como vei o senhor ? " Ah . Rom e u. eu vou aqui pelo tom do c hocalho, na m esma la buta, naquele rojão que você sabe, naq uela mes– m a pisada ... " Ma is emoção me deu esta resposta. P iq uei conturbado. voz p resa na gar– l(anta. a se nti r aquela extraor dinária Cilosófia . aq uela filosofia sâbia de um homem rude do meu ser tão. di tada pel,i exp eri ê ncia e pela retidão do seu p ro– cede r, expressa pela boca. por uns lábios que nunca m entiram , q ue só -fala va m a ver dade . "Eu vou pelo tom do choc11lho." S im l!:le ia certo, firme no ~eu a nd ar pela vid a rpm a nçosa dos se us pagos felizes. só às vezes per t urbada pela ma l– dade das sêcas . Não podia errar. trocar os cnminhos conhecidos por onde sem– ore trafegara . Ia no tom do chocalho d e su;i Consciência, que lhe indicava •el'!ura e íie l as diretrizes . Homem de bem. crite rioso. orientado no trabalho honrado desde a m eninice. seguindo o rasto de se ns majores, como bo1n raste– jador . não podia confundir as estradas largas, o campo limp o, que levam a r u– mos a bsolu tos. com as veredas estreitas e sinuosas, q ue desapa recem s em fim. enga nadoras de quem procura a verdad.e. traiçoeiras nas referê ncias indicativas. A jus t'l assertiva do C'lpitão João Batista zunia-me aos ouvidos. como a~ b_adaladas m usicais do ch ocalho do m e'! cavalinho_ J)edrez, o "Pintassilgo". qne tia J oi,n inha me dera, badaladas de acordes espec1a1s, que eram para mim um canto dife re n te e n tre cinque nta chocalhos de outr os a nimais, que a nimass em a; <''lmpinas de Boms ucesso. a fazenda inesquecível de m inha adolescê ncia. que aindi, eu vejo e sinto aqui de tão longe, q uando acabo de atravessar as fronteiras das 73 légw,s do meu viver par a a h'lnda das 74 que se iniciam . A noss;, Consciénc ia é o tom do chocalho da nossa alimaria, qu e a no~sa escuta distingue ontre m il chocalhos. que procuram dessintonizar aquele eco, que se o~re niz~ em nosso ottvido. como u,n ncaJe nto de mãe . Ah ! o fom do c hocalho ! A Consciéncin q ue não engana. a Consciência d o Capitão J oão Batista ! Velha Consciê ncia dos nossos a ncestra is. que fazia Dom J oão de Castro empe nha r a SU'i honra num fio de sua ba rba I Como é snberhn. cc>mo nos e nch e de or l'!u lho do passado. como nos e nte r nece saber pela filos ofia sã. ta lvez canhestra , do homem do -se rtão paraibano, que a Consciência é o chocalho aue dentro de nós nos desperta pa ra n De ve r. para nos guia r por trilh a• . oue a moral prescreve. que a moral preceitua aos caracteres que medram no Bem e iniciaram a jornada da vida terren,i tateando, engatcando. a nda ndo se– gur n. ao a uvir a lém o som misterioso de um chocalho do destino. guiado rnmo os Magos Errantes pela estrela polar de íinalidadc ir recusável : ou como nave– gantes de mares escuros e tenebrosos, p elo sentido a uricula r das hoias sonor;is. pr even t iv;is da cer teza das s ingrnduras . Pelo tom do choca lho ! . .. Que bom. que grande. que admirável de equi– li brios seria o Brasil se os homens que o gover nam procurassem ouvir e se ori– entarem pelo tom do chocalho miraculoso. que era o reló<?io que m arcava com pont ualidade matemática as horas tral?etor i,..is de J oão Batista, C? pensad!>r r a_bo– clo do meu ser tão na tal. que apesar de sábio fundador de _um sistema fil~sófi,:~. oue a honra e a dignidade lhe insnirnram . entender , obediente ao seu princip10 de acatamen to a uma alta a u torid;ide eclesiás tica, tratar o venerando p re lado paraiba no. Dom Adauto Aurêlio de Miranda Henri~ues de '!'~ for. a quando. ce~t.a vez. s . Excia . Reverendíssima perlus trou os ser to!?~ em v1s1ta pastoral. J ustü1- ca-sc. aliás, o ges to de BAlis ta. porque o velho cap1tao da guarda i:ia.c1onal, <!e~de 0 temp o do Império. só compree ndia. na ~ua mcntabd:)de de precar1as cond1çoec– de cu ltura e traauejo social. que um pont1ficç da I~reJa. bem que era !"erecedor de um tratamento adicional 110 da s ua p roJecao re h ii,osa. ~elo que supo~ que um majorato. lhe e ra cah!vel . Era o bo!'" !' h~n.est_o pensar dess!' homem s1zu~o. ~e conduta irr epreens ível. a quem na 111fa nc1a f~1 grato. afr~ves ?~ s u~ dedicaçao e respeito à memór ia de papai e que, na mocidade. um dia ed1f1quc1-m e ,m te 0 seu fil,..sofa r sent ~ncioso. ,mdand o cr,mn andavEl. pelo tom d<_? r hocnlho de ima Consciência, cuias pancadas o seu e ra n_de e m a1:na nnn o coraçao _rcp,istava meca– nicame nte, " r itmar-lhe os passos medidos. da c-c-r{',za de sua v ida . Que De us me faça ouvir. por ah/u ns ;inos mais_. o rumor do chocalho mn– gico q ue . confortadoramente traçava M rumos pc rfe,toR da ma rcha l'etilinea do conte r râneo João Bati•ta . Helém - Pará, 11-050 , u
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