Revista da Academia Paraense de Letras 1952

REVJSTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS 49 PET 1 0 TOM DO CFOCALHO ROMJ!U MARIZ FILOSOF IA D E SERTANEJ O Ê num tumu lto. que me atropel11m <' retenliva - as recordações daquêle tempo recuado. Eu volt:wn :,.os Sertões de mi nha terra n at iva. tocado de saudades 'ntraduzivcis, por um pnss,ido que me embriagou de felicidades a meninez e me atirou no mundo de restas e emhosc'!das. de águas limpidas e claras: de f\guaa r e– vol tas, hostis e toldadas. que jogavam salsu{?ens às costas escarpadas por onde ·nuitas vezes s ingraram emba rcacõcs despilotadas, sem portos determinados e de 1ue e u e ra passageiro indiferente. entre turmas indiferentes de destroçados da vida ... Eu levava na menle tantas lembranças. w11as nítidas. transparentes. outras con!uns, que se embnralhavam. deseJ1contradas, de pessôas. de coisas, paisagens indecisas. ,·isôcs eter n:is - mamãe. minhas irmãs, .Julieta e Ester. parentes em multidão. tão cheF,ados. tão íntimos, que os via dó mesmo tamanho, na escola. nos 'Jrinquedos. nos pass(•ios de c"rneiros. ,i tarde. pela cidade. nos banhos de açu des, nos rios c heios. nos engenhos. nas fnzendas, pélo inverno ,e isto em alvoroço, numa :'insia louca de chegar ... . . . . . AÚ~ ~i..;~ ,.;,iqí,I~ ·1;,~c;,·_r.:is~ô.' :iá 0 i:,~;s;a~· 1'1° ho~a· àé,' i,.;g~lt;s: bati i~ i:,ºo'r'ta; 'ci~ ve lha cidade serta nc.in do Rio do P eL'<c. - Sousa, da qual repito. esmagado em invocações, o que disse um dia : - "minha terra natal, aonde os per eiras em flõr r,erfurnam as tardes outonnis e a <'itiran, s ilvestre, quando os orvalhos dos céus c nsopnm o solo querido. brota e se e nlar:a festiva no beiral das choupanas". F o– ram dois meses de e ncantos. que até hoje a inda não se npngaram nos re{ôlhos do esquecünent.o. · · M11s. n ão é isto. certnmcnte. que a pra,. no leitor tolerante. e eu mesmo p res– sinto que vou desviado dn filosofiB do 1'natuto sertanejo E que filosofin é esta, que filósofo é êste, que a exprime cm três palavras, na r ude naturalidade de sua sabedoria inalil ? · P reciso re;:!rcdir ao~ n1eus dez anos e trnzer à ribalta a figuro. curiosa desse forte varão das ro<:as dos meus pagos. que des de aquela idade eu conduzia no pen– samento, nas minhas afeições infnntis e mais logo na minha gratidão de rapazinho, ià,entendido no m undo. Dou-lhe o. braço e trngo-o a êste palco, em que estou a conta r página int ima de minha vida, porven tura sômente do meu interêsse . Aqui está o Capitão João Batista Ele era proprietario de uma fazenda-sitio. nas proximidades de Souza, umas nuatro ou cinco lél!uas . Amigo dedicado de napai. venerava a mcmmória de seu "cu mpade doulô Mariz" e me dispensava a mim. na sua simplicidade quasi i ngé– nua. um t ratnmcn to pntcrnnl. que me prendia. indo o seu afeto camarada ao pon– to d e, e1T1 din1; de feiras, a que ia de quin7ena en1 quinzena, ao ali chegar, loao procurava a residêncin de meu 1io. que me crinvn. o dr. Antonio Marques da Sil– va Mariz. a q uem se lignra estreitamente. cm política e negócios particulares, de– pois da morte de pnpai. Nest:'IS quinzenas. sempre çaidM aos s:ibodos, o capit ão ,l oílo Bnti~tn prt•stnv:-1-mc dt'licncln, cot;clin1í5stmn :t~sistência. que na minha vi~fio de crinnçn 1nnis rne <lespcrtnva111 sh'npntins e o rncu int.er ês;:;c de m ctlino. por aque– le homcniar riio. aqurle cabúclo Jeol. p:irn 011em eu lhe era a continuação, uma r e– encarna<:iio de seu grande nmir.o dl'sap·tt·,,,•ido Entre outras de suas manifesta– c;;õc!-i t-arinhosns. urnn crescin aos meus olhos, nnqucln idndc. P egava-me pelo bra– ço e levando-me n um canto da sala ,::rande. ali enfiavn dois dedos no bolso cio co– lete. ti rm·a quatr o dobr ões de cobre, de quarenta réis. dizendo : "Está aqui nnr·, compra r doce". Mria pataca. Aquela riquezn ern uma festa, um dellrio. cn· ·, ,,._ tilhados por primos f' companheiros outros. de folgançcs e pcraltagens. Estas alc– gd m;, este"- jnstnntc"' etc p:1ss0Acir;1s sntis façõcs nfio n,e fnzintn esquecer pnpai, na vida e terno. e nlntnfie, en1 companhia t.lc mcu,s n\'fo paternos. isolada de cinco fi.. lhos. E diziam que era Deus que nssim queria tamanho crueldade . . . . . . r-:· ~i~ . .,;~.;~;,; S~\11'~ n~Q;J~lc. ;·.~\:C~I~(). ci~. i ôó7. "on;. C\~"c-- p·~-1~. t1iúm~. ~~z· ~i~ 1namãc, Adc-linn de Aragi;o i\lttriz, c1uc auH quinze anos llguru cu dc~Uno oo t>r. Mano<'I Mnria Marques Mnriz. meu pai. Qua n tas visitas. ele contomporiincm, cnros nlegrc~. que e u queria rccon– nhrr<'r, chnm~-los pelos nomrs e tinha dt',vidas na reminiscência de que fossem ela t ru11a Uo m<.:u li•tupo, ,.,nhora nquclw: fi,oonon-iln«4 ,•i tivc•~M 1 m a tn c r ntrnr pc•lo coracr,o. nn l<'mlJrnn('u infinitn dC' um dh. n esf11mnr•sl' n11s gua<"hcs da saudade. F.u olhava nlonito. cm riso ele choro. e· tcntnVa pcrruntnr oncl,• <•stnvnm Benedito. João Fontes. Pnulino do podre Juvéncio" E n •nê. Zcú•. Manduca. Augusto, Cor– nt':lio. P rotasin, no,·Hivnl, 111 imbs e componhciros do Colécio de Gnldlno For– miga, o latinista emérito e educador pelo temperamento, pela snbedoria e pelos pendores didá ticos ? ...

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