Revista da Academia Paraense de Letras 1952
.,. REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS 5 GUERRA JUNQUEIR.O AVERTANO ROCHA PRELIMINARMENTE - Comemol'o, hoje, a imortal Pátrio Portuguesa e o m undo das le tras, especialmente o Brasil, o primeiro centenário do nasci– mento do ramoso poeta Abílio Guerra Junqueil'o, já consagrado um dos ma io– ~;~111tl~~~us de s un roc;n ou mes1no no dize:;,r de U nârnono ·'um dos maiores do Considel'o-o sem favor, um dos maiores clássicos do id ioma pótrlo. O professor C:ll'l1clro Ribeiro d(1-11os u111n dC'flrilqiio um t~nto lonr:n e complicnda do que seja o autor cl:\ssico. Vamos repct.í-Ja para daí deduzil'mos, co1n jus liçn. que o nosso crninente ooeta é u1n c lássico udn1ir i\vel do lincua- mãe. · "Entre outros, esclarece o professor Carneiro, deve o nutor clássico reu nir os seguintes canicteres : tlff conhecimento perfeito da Hng,ua em que escl'i:vc, conhecer. bem a índole, a fisionomia par ticular, lodos os seus modis– mos e ndemais , todos os seus segredos , os reconditos tesouros dns suas minas ·prec iosas: fnln-ln e escrevt!-la coJn pureza e isençüo, evitando adorn!l-lo e adul– terá-la com construções que tendam à desvirtuá-la e a bastardá-la, - ser claro, fugindo a ésses torneios viciosos e obscuros que tornam o discurso difuso, ~rouxo, arrevecado e embaraçoso : ser elegan te, pintando e repl'esent:indo as ldéias e os pcnsan-1cntos com beleza, distinção e certo saincte dl! er açn, que tanto o.viva, ~nhno e robustece. a elocução : adapt.nr e aproprior sen'lpre os palavras e o est(Jo à na tul'eza das . idéias e dos pensamentos enunciados, de m9clo que todos os sentimentos nobres ou vulgares. tõdas as paixões violentas, tódas as gr::rndes comoções lodos os conceitos ele,·ados ou obscul'OS, tenham na língua que os traduz e 'rotogrofa, sua adequada e verdadeira expressão"'. ~or isso n1es1no. Junqueiro jc\ ten1 s ido denominado 1 ·0 poeta da Raçn 1 '. A pritneira vista, essa expressão porece nada significar. pois tomando. o voclíbulo "raça" como sinõnimo. .de Nação, ·significa ria a pe nas ··poeta nae,o– nal" expressão ainda de scnlido equivoco. Se disséssemos simplesmente ··o poeta nacionar· jâ de cel'tO mudo, pareceria fiéor d iminuído aqu.;1e . outr o vale portugui,s que é a maior G lória da sua raça e de sua· gente: o 11nonal Luiz de Cnmões, autor çi· "Os Lusíadas". E não devemos neste instante des:i– tojar Camões cio luga r mais alto que ocupa, como o maior épico d a língua por– tue uesa, pois o que Aviventa o li,-ro de Camões é a l'ajada heroica em que ainda ninguém o excedeu na literatura moderna. Entl'etanto, nb seu liv\-o PATRlA, Guel'l'à Junqueiro fez estremecer o própriQ sentimenlo dessa rajada heróica. Sem " Os Lusíadas" talvez n ão fosse possível escrever a PÁTRIA. Camões foi quem, com efeito, despertou o sentido épico do destino his– tórico de Po1:tugal. Mas, nem no poema famoso de C~mões se hó d e ~.nconu-a~ urnn f1gura-s1mbolo tão umpla e profundamente nac1onal como n o DOIDO da P,\ 1 J'RIA : "Di-lo-eis, sentado à porta da choupana. eremitâo misterioso, extãtico vidente, olhos nó mar, a olhar sonambulicamente ... ··Aguas sem fim. Ondas sem fim 1... Que mundos novos de estranhas plantas e animais, de estranhos povos, ilhas verdes a lém... para além dessa bruma, diademadas c;le nurora, embaladas de espuma 1. •. Oh, quem fõro all'avés de ventos e procelns, r.uma barca ligeira, ao vento a brind_o as velas, ::i dcmunclnr as ilhas d 'oiro fulgur:.ntes, onde sonha1n anões. onde vivem g igantes, onde há topásios e esmeraldas a granél, noites de Olimpo e beijos d' ambar e de mel ! e cis1navn e cismava... As nuve ns eran1 r.rotos navegando e,v silê ncio e paragens ignotas. . . _ Ir co1n e las. . . Iugir ! . . . Jugir 1... Unia n,~nh!l, louco, machado em punho, a golpes de 1it5 Abateu impiedosamente o roble familiar, há mil a nos g·uardando o colmo do seu tar. Fez do tronco num dia barca veleira. um a njo à pl'ôa, a c.:l'UZ de Cri_st.o na b ande_i~a. ·,·. Manhii d' hel'óis ... lev:rntou J:erro ... e, v1s1on111lo, tôbre ns úguos de Deus Coi cun1prir seu iadário. Multiclncs ac,uclindo ululavam de espnnlo. Velhos de hnrhn~ centcm\rias, ros to cm pnmto, 1 \ 1
RkJQdWJsaXNoZXIy MjU4NjU0