Revista da Academia Paraense de Letras 1952
REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS 45 O poeta é um mundo, s im . Porque s ua alma é templo e pureatório, é riacho azul e â~ua furtada, é absinto e sãndalo, é rio e onda, é floresta e fruto. é discórdia e consôlo. é ódio e piedade, é luz e sombra. é estrela e ch'1rco, .é henc;ão e maldição, tudo dependendo do instante que vive. se de éxlase ou de luxúria. se de sonr" ou de encantamento. se de ilusão ou de des – vario, se de bonança ou de mel,rncolia. se de quiet urle ou de fome. se de re– volta ou de reílexão. se de paixão ou de esquecimento. se de desânimo ou de ebpe ranc;A, se de bondade "º n~ 'lnJ?ús ti'.1. se de fé nu de descrença absoluta. Um Deus, também . Um De us poroue profeta. Um Deus porque um bom. Um Deus porque um jus to. E um Deus pe>rque um Artis ta. Se Deus. que é a fôrça de nossa fé. criou a mais humana de tódas as filosofins humanas. tão humana quo jamais aceita pela humanidade egoísta e insaciável. a de igualdade entre todos os homens. os poetas brasileiros tê m criado outras tantas filos0fi11s e lutado e sofrido, e se sacrificado e morrido por outros tantos ideais. Castro Alves é um exemplo excepcional. f azendo de sua poesia o hino e a arma emocional em favor da libertação dos escravos. Eis a razão porque são contados os homens de espirita em todos· os luga– res . E depois, assim cdmo o coração é à vida do corpo e a palavra amor sem– pre anda iunto da palavra saudade, deve haver s empre um motivo maior para a existência da poesia e, principalmente, para a glória d e um poeta. A VIDA DA CIVILIZAÇÃO E A MORTE DA POESIA Hoje em dia, sente-se. com profunda mágoa , uma quase indiferença pelas coisas superiores. A arte está atravessando sua fase crítica, perigosa, aguda. decisiva. Ou ela resiste ou desaparece . Ou os eleitos do Sonho reagem ou a beleza da vida desaparecerá e com ela o amor. É impressiona nte a "debãcle" sentimental presente . A civilização - imensa civilização. responsável pela maior hecatombe his– tórica de lodos os tempos, civilização infinita que, nos excessos dos luxos. dos prazeres e das vaidades se debate no maior drama de fome e de miséria moral de todas as épocas. civilizacão do deboche. da pornografia, da desventura. da degradação do espirita. civilização inconsequi;nte e desumana - êle -mecaniza tudo, entorpecendo sentidos e animalizando sentimentos. Tudo hoje é objetivo . A própria arte se restringe ao imperativo do prá– tico. Não é o excesso da dor - porque nunca se sofre u tanto como agora - que está eliminando a beleza emotiva da vida. Não I É a ânsia de ser rápido. elétrico, digamos, no próprio sonho. Para que despir um corpo, deixá-lo nú aos nossos olhos para melhor sentirmos a alma, se podemos atingir o cume da volúpia sem libertar das sedas tôdas as formas da mulher ? A a rte sofre o avanço ciclópico da civilização que está mata ndo, pela fome, o corpo, e pela máquina. o espíríto. todo o esplendor maior da vida. Entre a pintura que recla– n1ava reflexão e in1aginação, prefere-se o traço a nanquim, n1uitas vezes se~ expressão natural para o próprio autor . Mercantilizou-se o espírito. Eletrif1- c_ou-se a alma. A_ sonância do dinheiro é mais alta do que a voz das consciê~– c1as. H~uvesse ryoJe escravos negros - os brancos sempre existirão. somos nos -:- e nao haveria um 13 de maio, mesmo que exis tisse um Rio Branco e um Tito Franco de Almeida. Há fome de tudo cm t ôda parte. F ome de esperança. meus senhores, que sempre é a última que morre ... Tudo é prático. Para que sonhar ? indagam. perdidos na sua i gnorâ ncia convencida, os nulos. Para que sonhar ? E como se sofre sem sonhar ! . . . Transformaram a mulher - expressão maior da arte. símbolo da vida, c1,1nto eterno de coragem e de felicidade - numa m era necessidade do instinto . Tiraram-lh_e a beleza dJI_ alma para tornar _sem encanto as rimas voluptuos~s de seu cmp?, E a fam1hn se de ba te na mllts negra perspectiva de desapareci– mento coletivo . . E eu me abalanço. _n11;us sen,hores, a a firma r , mesmo que poeticamente convicto, de que essa a11gustin sentida em tôdas as faces essa tristeza em t?dos ?S _ olhos. essa n~asculiniclade dolorosa das mulheres,' q1,1e se despersona: llzam Jnbma~1c r~.te pa_ta, sensualmente ao 1nenos , irnpressionar os homens, e uma consequenc,a lóç,ca do_ desaparecime nto do Amor . · Sente-se - e e questão de querer olhar a vida com os olhos vivos e '.'ealm~nte nossos - que em cada a!ma de mulher, mesmo que seu corpo vibre aos a1rebatamentos de nossos deseJos exaltados. há uma lágrima silenciosa e uma revolta profunda contra os homens SobeJas e robustas razões teve Lúcio D' A'lnbra quando escreve u num dos seus cele bres romances de amor : ' . "O amor não é dueto, não é um monólogo . Mas com quem pode ho.1e cantar a mulh_er ? Todos lhe tiram a poesia: isto é. o canto. Todos a rcduiem s1mplcsmen,te ao sexo : isto é. n prosn. Seriío nma ntes ~stes que hoJe se 01erecem à mulher e namornda '/ .\mante - re trocedamos uo ~empo -:- é Byron, que, em •S. Tc re nzo, se a lira no ma.r durante ª. n0t!e e va i ter a i:iado com a mul.her que o esp e t a. Mas estes de hoJe suo qunnclo muito compnnbeil·os de ceia ou de
RkJQdWJsaXNoZXIy MjU4NjU0