Revista da Academia Paraense de Letras 1952

44 REVlSTA DA. AOADEM LA l'ARAl!:NSE OE LETR /\S É s ublime e maravilhoso quando diz, nestes vers<ls onde há música e sentime nto - um belo quadro retrospectivo de su a vida , que ficou gravada em s ua re t in a : "N11nca pud e esquecê-lo. Forte e belo, :,os olhos d a sa udad e ê le re torna. des ferindo com o pêso do mar te lo, :is sonoros pancadas da bigorna. E qua ndo, •leva ntando as m_ãos, trabalha, vejo no seu t-rab:ilho matutino o aço corar de m edo, na fornalh~. e o ferro obedecer como um menmo. E, na f orja, o carvão, ásp ero e bruto, acionado por músculo possante, trocar a negr a túnica de luto por fugitivas chis pas de diamante. Junto à bigorna, olhando-te, a!taneiro, uma peque na testemunha havia . que te ajudava, ó velho e bom ferreiro, a ganh:,r o te u pão de cada dia . Hoje são mudos a bigorna e o mafüo, o le rro não tem sôpro n em tem br ilho. mas a vontade santa do tra bal ho ca nta na :ilm:, e no s:,ngue do teu filho . Chama d e amor , humílima e opulenta , vindo com ela, vou para on_de vai. É a têmpe ra da luz que me alimenta e que trago da forja de meu pai" . Poeta. prosador, jornalis ta de gra nde nomeada, sócio e membro da Aca– demia Bras ileira d e Le tras, onde ocupa a maior cadeira - de Ruy Barbosa - bacha ré l em ciências jurídicas e sociais pela Unive rsidade do Rio, membro correspondente da Academia B rasileira de Letras, da Academia Portuguesa de His tória, da Acad emia Amazonense de Letras, membro da Academia de Ciên– cias de Lis bôa, ex-preside nte da Academia Paraense de Letras, chefe da re– presentação brasileira à Exposição do L ivro em Montevideu, representante da intelectua lidade nacional no Ce nte ná rio de · Portugal, grande oficial da Ordem de Cristo. comendador da Ordem de Santiago de Espanha e hoje membro da Embaixada Brasileira em Madrid, Osvaldo Orico é um nome universal, como escr itor, como diplomata e como brasileir o ilustre. Mas é acima de t udo poeta. Como poeta é s uperior ao "conteur" e ao cronist a . E eu creio, de ntro da minha ina balá vel convicção de es teta e da minha certeza de compreen der a vida e as m ulheres, que o poeta é um filósofo, um mundo e um De us. E , no primeir o, como filósofo, e ncontro ap ôio na afirmativa de A. Aus– tregesilo, num artigo publicado na "Fon-Fon, de dezembro de 923, quando es creveu : A filosofia é mais um dom de sentir do que de pe nsar : pa rece o e nunciado, capr ic hoso p a radoxo . O fi lósofo, é v~rdade, pensa é m edita . Mas, reconhece-o Austregesilo, no fim assalta-o a dúvida. "Tôda filosofia te r mina no poema m isterioso d as belezas da a lma que se compõem de sentime ntos, em todos os se us aspec.'t()s pcrsonais ou sociais, m as sempre sen time ntos . . . O filósofo sente pt nsando" . 1 E que s ua ve filos ofia vamos e ncontrar nas "J uras de Amor'', de Osvaldo Orico : P a rn Juras d e amor e Hndas frases podes abrir o ouvido ; as m ais lindas palavras são fugazes, um m inuto de pois terão morrido. Mata-os os lá bios assim que as pronuncias. Núo te causem receio, porque q ua ndo uma sai , quente, do seio, no caminho do ouvido fica fria. As p alavras q ue queimam siio bem poucas. (Escu ta a voz a miga) pres cindem de J'oupage ns e de bocas e en tra m no ouvido sem q ue o lábio as diga . ..

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