Revista da Academia Paraense de Letras 1952

40 REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS DISCURSO DE POSSE DE G EORGENOR FRANCO Em sessão sole ne realizada a 23 de agôs to de 1946, no salão nobr e do Teatro da P az, foi empossado na cadeira 38 o acadêmico Georgenor Franco, que pronunciou o seguinte disc urso : A I MPR F.NSA, O J ORNALIST A E O ESCRITOR Éco de todas as vozes, quando a liberdade não é o cla rim desarmonioso das mentiras oficiais ou da vontade de govêrnos de fôrça ; luz sagrada, porque sem• pre a man ifestação viva da mis teriosa capacidade criadora do homem ; seiva pura a alime n tar , a fortalecer, a sustentar e a reanimar as idéias nobres e os objetivos capazes : estrela. mesmo que cade nt e, con fonne as va riações e as contingências da época ; sa ngue, sol, luz, energia, válvula, gargan ta e tribuno do povo. a imprensa tem s ido e será sempre, por todos os séculos e em tôdas llS idades, a grande escola da c ul tura humana, a oficina luminosa onde se solidi• ficam caracteres, se plasmam inteligências. se libe rtam espiritos, se revelam te n– di,n cias. É ela a Universidade onde a liberdade é a disciplina empolgante . A imprensa, colocando o homem em contacto direto com o m undo e a vida , nos se us mais var iados aspectos, desper ta nele todos os sentidos para as r ealida• des humanas. Dentr o do jornal se formam não apenas os grandes jornalistas, mas também os escritores, os· p oetas, os cr onistas, os "conteu rs". Foi assim . f: assim. E assim será sempr e . Felix Pacheco, num lanço ex pressivo do seu discurso de recepção n a Academia Bras iieira de Le trns, d isse, com felicidade : •·o jornalista deve conser var sempre, na banalidade prosaica dos fatos, como nos a rreméssos tempestuosos a que assiste aquela par cela de ilusão, que t udo redou ra e sem a qual nos perderíamos nos desertos vazios e sêcos que a mor te espalhou p elo mundo com o as antecâma ras de seu sólio . Ai de quem vive apenas preenche ndo a vida, na inutiJidade de vê-la decorre r, sem o orgulho de pa r ticipar ativamente dela. Por sua vez, Cons tâ ncio Alves, ao tomar posse de s ua cadeira na mesma Academia B ras ileir a, definindo, magis tralme nte, o jorn~lista. assim o descreveu : " O jornalista sem assunto será como um_ su jeito sem vintém . Mas quando essa pe n úr ia alca nça quem possui vocação para O oficio êle n ão pensa e1n sair à rua, para esmolar uma idéia pelo ainor dé De us . Ar roja-se à tira em bra nco, que nesse momento difícil p a• rece alongar -se em estrada sem fim . E não raro, feito o a rtigo, terminada a crônica - quando 0 autor repassa, n a leitura, por êsse caminho de papel que ainda h á pouco. o inquie tava com a s ua alvura de areal, surpre~nde-se ao ver o deserto pov oado, a nimado, tra nsm u tado por figuras que nem sempre lhe apa receram em d ias de a bundâ ncia, p or imagens da mais sedutora beleza, exprin,indo, como nunca, a ironia, a ternura 0 conter,tam e nto, a piedade, o amor". ' Nas longas noite~. qua ndo a música áspera e meiga das linotipos d á 1.orma gráfica à n ossa imaginação ; quando a noite fria se assemelha a uma cicatriz a ne~tesinda pelo_remédio da nossa e nergia r1::signadora ; quando a cidade ce di verte nos c1nen1as e nus teatros. nos _casinos e nos cabarés : q uando a.s mu the1·es ve ndem o amor, conser vando bvre da gargalhada sórdida do di• nheir o s ua alma e o seu verdad.eiro amor - que semp re será de u m só . quando :;enthHos o cansaço dos n, usculos e avaliamos o extensão in,C?nsa de nos~a responsabilida de ; a n te o cochilo do - revisor, a palidez do contínuo bai xa ndo llS provas pela caçamba, a pilhé r ia de um companheir o mais heróico n::i batalha s upe r-humana do ganha pão. é que 1 ós compreendem os bem a dor do mundo e damos ra zão a Júlio Cesar quando disse que "todo homem que pe nsa é desgraçado" . L ongas noites de frio. de fome e de cansaço gerais . Alta madrugad a 1'.ervos agi~ dos ,_ pálpe bras pesadas. o lheiras fun~ns. o jornalis ta _ 0 anian: tico Jo rnal ista, esse do qual nos falou Consta nc10 Alves - desce as escadas da redaçao rumo ao lar, ond e a es posn ou o amonte - mas sempre e sem re u ·a muine r - o espe ra com o corpo também cas tigado pelo abandono quf 0 profis~ão do es poso ou cio amantt.! ll1e impô" ...

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