Revista da Academia Paraense de Letras 1952

.,. REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS 35 ERNANI VIEIRA de RODRIGUES PlNAGÉ ...... No quarto de hora literário de 4 ae m aio dêste ano, ocupou a Tribuna oficial da Academia, o poeta Rodrigues Pinagé, que pronunciou a seguinte palestra sõbre o saudoso poeta amazonen~c Ernani Vie_i.J"a: ''Sr . Presidente. Srs. Acadêmicos. Exmas. a utoridades presentes e representadas . Exm~s. senhoras. Exmos. Senhores. É sobr emaneira louvável êsse empreendimento da Academia Paraense de Letras, levado a efeito mensalmente ,nesta casa e honrosamente acolhido no setor cultural da planície, instituindo o programa de divulgação dos nomes e obras de poetas e prosadores que arp1i viveram. e consun1iram a vida, pensando e mane– jando a pena, molhada por alguns, em "manso lago azul", e, por outros, na sua maioria. em proceloso mar de esperanças fugaces e contingências fatais. . Todos, modestos ou não. alimentando o grande sonho por uma glória 101:1- ginqua e sedutora, aparentando não verem em sua mesa o cálice das amar gas desi– lusões que a vida lhes oferece. a cada passo. e _sôbre as suas cabeças aureoladas e nobres, em vez da corôa de louros - a espada de Damoc1es. E nenhum dêles, até hoje, conseguiu substituir por umn corrente de ouro masslçô êsse fio dutil no qual se dependura à inexorável ameaça. Entre os que trazem como nós outros êsse pendor impressivo para escrever algumas linhas em prosa ou em verso, aparece qLfase sempre irremedi:1velmente subju gadora. uma infalível predestinação para o infortúnio. Tnfortúnio a que ninguém conhece ou que ninguém experimenta antes d e se arvorar a pensador e a rabiscador ... Quero c rêr que êsse substantivo " inrortúnio" , com a sua bagagem de misé– rias, recalques e amarq'ores, é um omõnio de "escritor", de "jornalista", de "poeta·· e de tantos outros c:inzeladores da palavra escrita. Em todo caso, o infortúnio não é uma enfermidade nova no organismo da literatura contempor ânea nem tampouco uma resultante da filosofia humana. Ao contrário, êle é que, 11<1 maforia dQs casos, se embuça no ca pote da Filosofia, para que a gente possa. como disse Raimundo t:orrêa, "parecer aos outros venturosa". Essa e nfermidade a que me re_rir o, não é nova. Ailig ira aos. capitães da_ Sa– hedoria, desde os primeiros séculos. Depois de prostra r- Home1·0. prostrara Camoes ; vitimando Guerra Junqueiro. propagara-se o contágio pela América latina, pros– trando Fagundes Varela e Euclides da Cunha, Olavo Bilnc e Humberto de Campos, Augusto dos Anjos e Antônio Taverna rd, Vespas iano Ramos e Ernani Vieira. Todos ésses lwn inosos duetos do templo de Minemos ine, a deusa da Memória e das Musas. foram estigmatizndo- pelo fe n o em b rasa do infortúnio. Mau grado essa predestinação incoercível e fa tal, as gerações que s ucederam a tantos már– ti res da Idéia e da Forma. têm-ll1e prestado, de conciência e de justiça, as homenagens que merecem e os louros da glória de que se revestem os seus nomes e as suas obras. Entre êles. porém. é necessário pontificar, um ::,pagou-se na morte e es1-a quase a pagadt> na lembrança dos s eus contemporâ neos no m eio cultural da terra onde brotou pnra o principio e. longe dela me rgulhou para o íim Ernani Vieira. Franklin sente1)ciou · - ··Queres ler razão ? Morre 11 Cinquenta e seis anos jã passa ram. Ernani Vieira, ainda não t eve razão. Não teve razão, até ôntem . Hoje, a Academia de Letras, pela m inha palavra, tece, no religioso silêncio desta hora. uma grinalda de profundas saudades à memória do pranteado vate amazonense, cujo astro incendido no amor adoles– cente tanta .vibrarn. cantando as belezas e a~ graças da planície tropical. Ernam Vieira nasceu em Ma náus, no dia 3 de fevereiro de 1896. Era filho, em primei1'as núpcias, de Artúnio Vie ira e de dona Lucinda Vieira L aluê, já falecida. Dêsse casal nasceram também Aurea Vieira Santiago, residente nesta cidade e viuva do extinto cidadão Goclofrecio Suntiago, cuja casa_, Ernani frequentnva assiduamente, e Argentina Vieira Moreil·a dos Reis já falecida. Seu pai. também poeta e jornalis ta Artünio Vieira, conla atualn; cntc 87 anos de idade, com uma ro1;rn de brilhat.tcs sc1·viçvs prest ados u imprensa nortista, l 1

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