Revista da Academia Paraense de Letras 1952

30 REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS E na volta do cemitério. um amhicntc a preens ivo e lrá,dco dominava aque– las almas. Candung;i C'On segue li.ccnç;, com Roinnrio para ficar com J\ssunç~o e Gonza– ga no barracão. ve,. a familia se esfacelando, a_cab~dn para sempre: A ma sorte and~ no encalço déles. T ereza mo,-rera. como se vira: Gonzaga, poderia esl-a r c,om o pe na cova. de um dfa P"rn oul'ro . acabrun hado e doe nte. como andava; as filhas. ge– n iosas e egoistas. nunca mais entrariam no bom caminho. Dali, p,ira pior ... Res– tava As~unção. sempr e trabalhadora. e nvolta numa C'OJl~t nntc m<>l11nc'>lia. Esquiva a re uniões e Cestas. P se u sorriso era triste. torna~1do c;cm vida a sua boniteza. Perdida a companhia de Tcrcza, jo11:ad» naquele fim de mundo. como conseguiria ela viver? Gonzaga passa horas seguidas numa completa mudez. sem puxar con– versa co1n ninguém. Cãndunt!a. irresolu to. não s:thendo que p;1rtido tomRr, pensa em propor ao padrinho levarem avante a con~trucãí' de u,na casa. a dedicarcn1-se ao plantio do a lgodão, de roças maiores naquelas terr,,s favorecidas por Deus. E a imagem gentil de Assunção perpassa-lhe nas insoni11s e desejos. Seu co– ração reclama êsse outro, para pulsarem juntos. ltle todo estremece ,\ lembrança da mulher antegozada. Balido por C'St'.ls ã nsias. quando enfim, num c::iir de tarde. cheio de paz e s uavidade. Assunção busca água num l'iaC'ho próximo, Candunga procura meios de avistar-se com eh,, como se fosse cas ualme nte. Um pau-darco patriarcal esfolha as J?emas soltAS de suas ílôres esvoaçante;;. Do n1ato cm tôrno. vem tnn ch eiro bravio. de resinas e folhas aromáticas rnachuca– dM. J!: como se a nature7.a se recolhesse, numa prece vesperal. Um casal de inham– bús aninhados geme " ~UI\ des oedida ao sol que al(oni za. A moca. como que em– bevecida, deixa-se envolver pelas emana<'Ões s ul(estivas do crepúsculo. -Assunção. cê sozjn ha por aqui ? - s urpreende-a Candunsa, aproxi– mando-se. A essa voz indiscret::i, num gesto de s us to e medo, a interpelada volta-se e depara com o apaixonado, que a fita amorosamente. - Quf'ro conversá com cê, Assunção, - torna éle, com na tural enlêio. - Módi que não me falou Já em casa ? Cê me vê todo dia ... - susMurra ela, olhos fitos na linfa azulada, que marulha e ntre seixos . -É um pedido que que ro fazê ora meu padrinho, mas antes pcrciso lhe ouvi. Assunção. · -l\1as aqui no mato, Candunga ? --Não brinque não, Assunção, me ouça agora ... - ele :wança Hlguns Pa&- s o~ e se chega ao seu bem querer. Assunção olha-o nos o lhos e flrfa Q ~C'io moreno tocad;, da emoção do momento. Candunga toma-lhe as mãos lrnmidas, de terem me r gulhado na água corrente. -Se cê quisesse, Assunção. bem que nóis podiH sê feliz atê o fim da vida.. - Nois dois? . .. Como assim ? . . . Eu não nasci pra sê feliz... · Candunga sente a dor desta frase no intimo. Não vacila na pronosta : - Sim... Nóis mesmo. Ass u nC'.iiO . . , Depende de si. . . Arrcsponda ... O q ue e la diz fere-lhe fundamente a alma: - Pod~m~s não, _Candunga. Gosto muito de cê, como am;;:o, como irmão. l\o1as pra casa nao deseJO. . . . -Intão cê_ tem outro_ em vista, Assunção, cq gosta de arruem me dir;a ... - Gosto nao . .. Lhe Juro por Deus. pcl;,s cinz"s dos meus . . Hei de morrê ~orti-ra. como Nossa Senhora quisé . .. Ao poen te se processa a mutação do cenário. A~ sombras, prc<luiçosas e co– Jeantes, descem sôbre a mata. acl'lriciando os rumores das nsns P trilos dos inse– tos. Os namorados estão sob a umbela florida do pau-darco imp<'rial. Chovem cas– ca lhos de ouro. da árvore robusta. Canduoga lamenta-se : - Eu é que n~o. ~enho ningué~ . . Meu~ pens11mcntos siio todinhos pra cê. Assunção . .. E cu ate Ja sonho com cr ... {magine . . Integralmente mulher, dir-sc-ia ela que rer divertir-se com a paixão de- clarada : _ - Bobagem sua, Candunga. : . Busque se esquecê de mim namorando por ai. . Cê é rapf\7. s ortêro .. . Te'l1 tanlll moça que lhe quê ... -Não diga ass im. Assunção . Cê m e martrata dcrn;.,is ! - suplica 0 apaixonado. Afoguc-'!da e :iríanlc. ela retira as m ãos rústicas, Já meio abandonadas. que Cand unr?a retem c-ntre as su as. E olhando-o com tristeza, os cílios molhados de liignma11 sinceras: - Canduga, me escute. niio posso sé s ua m ulhé, nem de ninguém mais sou uma disgraçada. Cê me matava dispais . . Eu sei.. . · · A voz déle tem um acC'nto de espanto : - Eu, Assunção ! .. . Lhe gu.~rendo tanto bem ? ... Modi que, cntãc, eu lhe mat:'t 1 - Cê- mesmo. Candung11 . .. Cê dizia que cu lhe ing,me,. o corac-ão do e namorado bal~ forte. Seu espírito ::inseia sondar os m<>livos c!E!'ta con fissiio in,..spc rad,i. T~ ,, numn inquietação rlC' todo o St'll ijCr que éle in~ daga, condoído e interessado : - Mas por que isso, Assunção ? . . • O que lhe aconteceu '/ . . . Eu lhe fazé mal ? Eu lhe matá ? Tolice sua.. ,

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