Revista da Academia Paraense de Letras 1952

REVISTA DA ACAD EMIA P ARAENSE 0 .1!: L ETRAS 3 Só cu pcrnrnncci fié l . Só cu não 111ud cL Sõ cu .fiquei paJ.·a te 111urmu... rar , aos 35 anos da t.u.-1 idad e. o que não tivera coragen1 para confidcnciar•te quando es tav,is de JS. A )e,ildarl c dfl-m c o direito de fazê-lo neste m o– mento. Depois. é it moça que faço es ta confissão, e pai·a a exprimir , desando o cam inho, a fim d e a encontrar tal como a comecei n amar , p er dida e n t.rc as letnbra nc;as mais s uaves e n1ais ca1·as do 1ne u corayão . Que me reservas tJ.1 ? O rjso da indiferença . corta nte como um l átego, ou essa piedade c heia de u nção cris tã . que s e tem pelos dcsgrai;ados . e q ue n ão é ni.enos c ruel do que aq uêle ? Eu de mim n ão te peço n ada . J á é consólo p ode r, enfim, solta r um gemido. ALEXANDRE HAAG Sucedeu-me õntcm enconlr,ir entre os meus papéis de há_ 39 . ltn os um bilhe te de Alexandre Haag, e o bicho carpint eiro _da saudade mquictou-mc o coração . Conheci Alexandre Haag no fas tígio das posições sociais. E ra. u cs~e tempo. en genheiro-chefe db Distrito T elegrá fico, e distinguia-se p ela la rg ueza s em medida das s uas despesas pa r ticula res, c ujas p rincipais ver bas eram aque las que o a lcool e as muJhe1·es cons umiam . . . Vi-o beber. mui tas vezes, no extinto "'Refor m-Clube" , de pois de ceias mag– nificas. quare nta garratas de cerveja e pagar o utras tan tas a am ig os incon– tinentes. Não conhecia o vi nho comum. Regava a comida a champagn e "CHcquot·•. Desligado da esposa. por se.r impossível amolda r as fogosidades do se u t emperame nto à serena compostu rn da exis tê ncia doméstica, vivia cm con – c ubina to transitório com as raparigas bonitos que aparecessem n o _m e~cado, ;iposentava-as e~ p rédios apa laçados, ens inava-lhes a arte da equitac;ao e q uando as gen tis e noveis a mazonas snbian, equilibrar-se , garbosam e nte. na garupa, não era raro e nco ntrá -las con1 o .seu nababesco senha,!, trotando pela Avenid~ _da República, ao passo cadenciado de soberbos alazocs, q ue êle n1csn10 adqu1r1a.. A fa ma ju.st i,ficacta de gastador impenitente, cujas a lgibeiras pareciam nü– nt1s incsgot,'\_veis, aliava o engenheiro Haag uma tradição d e fôr ça física, que ma~– tin hn a d is tan cia os mais destemidos campeões do n1urro naciona l e os s e us mais e11carnl1;ad?S inimigos, q ue eram q uantos lhe invejavam as suntuosidades da vida pnnc1pesca . Certa vez, desavindo-se com o meu pobre Frede rico Rhossard. de quem e ra amigo, projetou-o com um for midá vel ponta-pé das escadas d o "Refonn– Clube" para a rua, con;io s~ se tratasse de imprim ir um "s hoot" d ecisivo numa bola de "chautch u·•. O Rh_ossard gozava , também, da fa111t1 de impcrtérrito brigador e o fat o ecoou form ,ctávelmente no meio boêmio. No ter reno intelectua l não era menos d eslumbrante a p~s_onal_idad e . de Alexandre Haag. Falava dez ou doze línguas, o volapuk e o a rab1co 111clus1ve, e disp unha .d~ u m conhecimento geral elas ciências humanas.. . Era h c1to supo,r-se que êsse homem tão bem ,iperccb1do _para a Juta, cor teJado pe_lo govêrno imper ial, que O t inh a em gra nde conceito. p udesse chegar ao termo da existência cercado ctos ouropcis da mesma fama ; m as a roda da fo_r t_una desandou-lhe e, como nas mutações. dum espetáculo d.e m á - gica, o ccna n o dessa vida t umultuosa t ransformou-se ra p idamente_. . . P reso e processado sob a imoutação dum desfa lque adm1111s tra t1vo,. -:o– mcçou a se ntir entre as grades d a ·en:xov ia os prime iros a r repios da pc·y •na Teve que trocar , depois q ue dali sruu, acurvado ao péso do desprezo p ublico . as viandas finas dos banquetes opi paros pelo bife in constante e córneo, s er– v ido no~ ~·reservados" dos "fregcs-inoscas'' imundos : o cha n,p~g ne dos. J.?OS.. pas\os r uidosos pelo cálice de cach ac;-a bebido R pressa nas ba1ucas de m flma classe; os ternos de roupa cla ra ves tidos num dia e aband onados n o ou tro, pelo casaco de a lpaca s urrado ; 'as carruage_ns de tejadilho aber t o, d erivan do pelas ruas. nas tardes lumjnosas ou nas n01tes e nluaradas, pela cJ:iatice d.o bonde urbano ; a flutuante d e pe rfil eslavo e grande nome. 01·nada ele Jóias caras e cobe1:t~ de tecict,os per egr inos, pela r;imeira a nônima. que chama, . es tafada e me lt1ncohca~ente, os t ranseuntes por deshoras,. elas portas dos gineceus ; o havana de c~nza branca e aroma ca pitoso pelo mau cigarro d e. fumo desclas– si[icad o. e nfun , lodos os confórtos da vida íni.-abolantc pela ú ltima e p ungit iva miséria, que é nrna nhecer e anoitecer c·om fome. es tender a mão a um suposto amigo e recolhê-la vazJ;i, ir a um r estu11rt1nte, onde outrora fizér amos d is – pêndios. loucos, pedir ao hoteleiro u1,1a r"tci<,jo a crédito e sofrer o vexame de ouvir-lhe uma negativa ríspida e vé-lo dar-nos as cos tas sem p iedade - fechado na a lgibeira e fechado n a sensibllidndc com o um bloco lnconsuW.

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