Revista da Academia Paraense de Letras 1952

REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE L ETRAS 29 CANDUNGA De BRUNO DE ~TENEZES X V II O cadaver de Tc r e7..:i. para ser dado " scpu llur<l. ª" C<'mitério da Vila, é t ranspor todn na mesma rêde, atravessada nos punhos por um c~ihro. Candu niia nã" soubera r!a morle r epen tina de ~ua parcnfa. Ocupado cnm os trabalhos da Colônia, d ivirli:1 seus afazeres entre " í i•Mli7~<:~o dos paiói~ e o ESCritór in cln adminjs tracão Assim. não pudera acompanhar o padrinho de ,·alt a a cr1sa. E. na ho1·n ern que G onz:,ca e n1ais a lguns cnlnnos c-ntn,111 tHl p(n·oRcr1o . su..;tcnt:.indo t1('1!; ombros. p~las pontas rtas traves. ~ rê-de n1orlu;:irin. con, o corpo r ígido dn infeliz, o povo se toma de mãi:oa e rle surpres::i. Assu nçiio. contendo, heroicamente, o chôro, sem de1111ncii:ir n se11 descsporo. vem acompanha ndo os restos mortai, d,:- s un irmii. Gnn,:wa, sr•mblantc e~l.\tico. 11i'io demonstra ounlquer emoção, de inconformado com o incmedi:\\'el. Candun~n e Rornário nprc~,;;;3n1 4 sc c1n saber quen1 ~eria o defunto. E 11111 hrusco espanto flS t()111a ctP c..llbilo. qunndo r epar:im c:-n Gon~;tt;!:-t <? At.:'s\1nçfi0' e dcscobr~1n o rosto descorado da n1orla. "Quando?! Con10 roi ? ! De q ue n10,rreu '!! - pertunlam tôd:=i:~ as bôC.l!--. •·un,a coisa que deu nc!u. que ncn1 tiven10s ten1po de r ez ·• u n1 paclrc-nosso pela alma del:l"' - responde Assunc:ão, numa lingua~:cm aloucada. Cabcr.ns des– robcrt.as , os ho111en s se engolfan, em mudos pens::1n1entos. As n1ulhcres parecem <>st ra.nhas à morte a li p resente. , . . . _ Ana e Josefa. agorn come 1,ospedes do J111z d~ D1re110. sao m"t·sd:1das hus:-ar p:Ha as~istir ao enterramento de Tereza. a pobre mae que tanto ~ofrc ra por causa dcl:1s. Urn contratado de RtHnfll"io se e ncarret!a do re,.. ldô. Eriquonto o próprio Gonzaqa, con, uni carpinR eventual. faz o caixão de m::tcleira :,lia. Candun~a pro- c ura a amortalhadeir,, para razl:!r e_m e vestirem o hábito do falecida. . .. Ap.u:irda-sc A presença tlns filhas. E com alguma demora, volt« o cm1ssan o. ' c.lc ~nco1n panhado das d uas n1oça,;. De<;apei:i-se do a1,im.a' fala apressado c1n l"ru– lhnndo as palavras : -El,"ls disser a en te nAo vinhmn, niio ! Que rezá, f'.\l;:1 rezo lá mcsn10 . .. Disque a inãc não ;:'lbe nçôou nen1 pcrdõou elr1s... . • - E que fe;,, o ,Juiz? -- interroga Romar,o. -Até êle e " mulhé dêle aconsclhnro as duas prn v irco,. Elas que 11ão qu,- ~ ero n1C'S1n o . .. Cruz:im-sc olhnrcs comcnf ndores entre os presente~. Um silêncio dolor o,o •1c;:uc-sc õs úllhnas p.:ilavras do infnr n,an(c. Romario diri~c -sc ao ~rupo onde esl.5 GonzagA e outr:is pessõNS e !ai." n CandtmJ!a : . - Eu 11iio cnnt 'lvll com is to .. O Jctln e. scpu!tnr o cndavcr sem n p rescn(la de las. No q uadrado de terra, de que o mato tomara conl11 erp cima da~ sepultur;i,a, de rru:tcs tronchnl-- ;1 que <·hama:"'l ceniitério. para <"rtVflt'o1n A~ covRs é prcci::;.o con vC1cor volun t:"1r ioc;. N;io ld1 C"ovciros nem adtninii:-(rador. Unt tipo n1cio a1ou– r::ido é que abri'.' e fecha a capc-ln corrc-ndo hoatos na vila, de oue êlc " namora" os cada veres dC' don:>:clns. romo sC' ÍC'hscm su::is noivn~ . .. O ter,·e no é peclr c!!'OSO e ns fnr mig,is dr-fendem o seu dirl'.'ilo de propriedade. P orisso. leva-se al,::umas horas para cavnr os "!;ete priltnos··. Finalmente, dão por tcnYJi1t1'da a , epulturn e avtwrrta-se o enterramento. Làhios m ur chos de beatas rez::un te,.~os e orac•'>rs dolentes. Os h omens fi– <'Atn cm respeitosa afituclc a nte a rc,il id 4 de da vida. •~uc ali t•'rmina. O cortejo f ú"'lcbr c pnr nv~. ele ,·<-'7 ern o trnndn, n fim ti<' 1·cvez.;\ren1 ns que conduzem o caix~o. · u:-.penso no bnln1,r,im d,~ rJ11ns cordps, por f;alta de art!ol;,,s anr opriadas. O C<"'ln1jnho n11rn o ccn,it&rir, crti~VA toni:ido pelo 1nato. E nquanto C";:1n1 inhhv;in1. o ho1nc1n que 1rouxe1•;1 :1 rC>spn-=.t;.1 rtc .r'\n:1 C' .To~ef;:t. « ont;( r1 R('lmario: -;-Elas p l'imér o ficBrO br a11quinh'1, que só uma cera, sem p intio de ~a ni:rue 1\du,po1:; perµu ntnrn do que ro1 e con,C'I 1 ve lhn 1inhn rnorrido. Eu rlis:;e O\H' ele r•~prntc, corn \P-Yt? dA ciuc deu nela. A n~ais mo<'inh:.t Cr'•rr~u chornndo p 1·a de ntro J\ 1. cresceu u•n nf'r voso n::, outr a. ela Jic-0~ con, OF o 1 h,..... hrilhancl,.. ,.. nu· r11-rcs– pr>nd,;u q ue e las ni'io vinham, niin. Que não queriam nrnis s,iber de ninguém dn r~m1ll_~- F u _nind'? di~-;;,.. rt11f cr~ unHl nbrig~ção q ue f\ P.<',t<"' t0m ,.o,n !;cu~ defun to. LI~ nao 9uts nH11s me ouv1 •.? entrou. sem ;;tendê ncn, "'I q 1 1C o Juiz di:?.ia - E r c– ~1,.~tnu. _r1tosóíirf\ · Filh.,s cinoucl,.. ~t'-nio. seu do11VL •pn1 ;irgucn1 pra q u c-1n n n xfi _ RJrrc-nta9 c nrnn elns nlln(:~ v 1 ! Gon1.~t,.n. nlho, _s,,.c-o'-- r t1nro!-' co1no oue num c•$lado ri<" ;_,nntin. ou\·e n5 ha~ '!~lC<i etc 11...~rr a "?dtU'f"Ctd::i E--.~:ll'l"'lnndo-~e n;\ tampa do C"ni ,;i<"'..l\':,:;unçfin ~otu~:t rl is~ • 1,:-f11m<'nte e ('~ nd u nl'n "q, itU1I-> rlcln . ()~ hocados de lc,rr, 1 1'Mdt17<'1TI um sc,m pc~ado e l~•J;ubr..,, c<;11,10 :;e ~~_liv.?ss~m b<it~.1clo :-io <'orpo tia m, r,a. Çnn.·~gu sente uma opres6aO no peito, mas fica ale o fim, qua ndo term ina t udo.

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