Revista da Academia Paraense de Letras 1952

REVISTA DA ACADE?-IIA PARAENSE DE LETRAS 27 - Era um sábado de carnaval-, principiou, evoca ndo uma época que já ia bem longe. O Ate neu realiz:w a r\essa noill! um cios seus elegantíssimos bailes, de saudosa e grata recordação. Compareci fantasiado de Dominó. Bela fantasia de seda azul celeste . com enfdte~. n.:,gros e r,uizos dourados. Os salões a present avam um :is pecto encantador. O que Belém possuía de ma is distinto estava ali, rendendo as suas homenagens no Rei insuperável da alegria . Logo ,\ minha chegada fui en– volvido por um grupo gracioso de Colombinas. Fizemos roda. Gritamos, pulamos e tlansamos. E daí, em diante. entrei. como se diz hoje, no "frêvo". As horas tantas se,Hi que algo me fa ltava. Ern o a r . Deixei o salão e procurei uma janela onde pudesse respirar à vontade. A Ináscaru n1e sufocava, e o 111eu primeiro cuidado, por tanto, foi tirú-la. Obser vei, c111.,,o. que n~o estava só. Um outro Dominó, pen– , a ndo. certamente como ell. tinha também procurado aquele refúgio confortador para desca nsar. Olhamo-nos. Era uma mulher, urna morena linda como um anjo, ~e ó que os anjos tem o s uprema ventura de ser more nos . .. A ssin1 que 111e viu quiz encobrir o rosto. ~rn e.scussdo, eu reconhece-la-ia em qualquer lugar. P edi-U1e. por is~o. q ue se ~onsi:rvasse corno estava. Ela concordou, e daa em diante. não nos separamos mais. Horas depois fiz-lhe uma apaixonada contbsiio ele amor. l'omos de novo dansar e. nc!sse momento. cheguei a pedir-lhe um beijo. recltanclo :ios seus ouvidos uqueles versos maviosos : "O lJe ijo ... é út!m unia confissão, q uc s e sei;reda na bôca e se ouve no coração''. Ela sprriu. Mas não me respondeu. Continuamos o nosso idílio pelo resto da noite. E quando tivemos de nos separar. findo o baile, foi que me contes,ou : - Devemos esquece r aqui. tudo quanto se passou e ntre nós dois ! - E por que ·/ . Per cebi que a linda masc:irAda se perturbava. Havia algo que me ocultava desde que nos encontran1os. P o1· 1nn respondeu : . - E ucccss:.1rio qutl saib!l ... sou un1a tnulhcr cornpron1et\da . .. fl.oiv~a, e em v e~perus de c~snr . . . Confesso que a s urpresa da rcveln<':iO me tez emudecer . . - Admira-se ? perguntou-111e, com as maos presas nas mmhas. Também estou :iclmlrnda de haver gostado tanto das paluvra~ de amor que me disse esta noite I Mcis n:io queira ser o culpado da minha infelicidade. Esquei:a-se de mim ! Cah.>u-::::~. ·c:u, H1eu caro arn igo, continuo .º pensnr c~n,o poetn. que, •' . . , As n 1ulhcrcs são o sunlJolo d, v 1c.ln : lindas e ntentirosas. -Um:1 cilada esplendida. e riorid3 rccnruaria de rosas . .. Font~ viva dt: angustias e carinhos n1a.rginnua de rosas e ouriçada de espinhos .. . ,, Tive paro rnun que :1.queln mulher r epresentava uma cilada ti minha vida. Porén1, o n1eu dese10 de aventuras, 3 n1inhn 1uocidade irríqui~ta e a n1inha insen– dlJiliuude pelo dur alheia, me induzira•)~ a pr~ssegui1·. Depois, nque_les_ olhos, aque– la 1.>oc~ chvinomente tnlhnda p:irn be1JOS. nao me deLxoram r.1c1ocmu1· m:ils. E 1 or11Pi •n1e cu1nplice de u1n:1 tr:.dc;f,o de qu~ ctepoi:,; 1ne arrependL M:ls j:\ se tlnh:arn p9!:.:;-ado dOl!-- m eses. . o '1\-H P1r:i p:1ssou o lt:!n\'O pelo rosto e concluiu : - Vc.:111 ug<1rs u dc~1ccho Jr:1111!'\ti~o" deste Uaile de m áscaras .. . --Cert:1 uoitc, conti nuou, ~ncontreí-1ne con1 o Aguin:.1ldo X avier , meu antigo con1panheiro de LravCS!-tdl ..lS inlJnlls e umigo dvs rna,~ diletos que pns.sula. Contw cc u A guinnldo '? - Pois bem, posso garantir que o Aguina ldo é uma >'lim a ge nerosa e forte. hornen1 ~Jncc:ro e hones to c orno poucos. EstuvmrtC\s cl po1·tn do '"C!.lft: da P az". En.. 1rnn1os. e h>co de jnicio. fnJou- ine con1 intensa alegria : - Suurs qu<; vou ca::.inr ·? - Meus pnr abens ! E quando seril o g rande ncontPchnento ? --:. P ~u-..,1 a se-n1a11a . E quero que ~cjas un1a dns tes1e,nunhas do ato, vnleu ? N:.10 pudla rl:!cusur nada ao Xuv_,er. _E _1>ara festejannos o encontro pedin10:> beb!das no gnrcon. _R(_'li:mbramos os drns tehzes da nossa inllincin e passamos em revasta_ as no.,,;sns ultuuas d\"c.:uturas 0111orosas. Contei-lhe, dcsse naodo, 05 meus aniurcs con, u hndu '!1:.1sc111·adu, ""º esqut!cenclo de lame nta r, jocos:imente O desti- no duqut::lc pobre noivo. ' Xa~ie~· ~-,u.-se 111ullo e índ:1gou cio resid<:nclu du bela mascarada. E eu du.se 0 n_OJne d,., 1~u:.1 1-: o n u tH1.'1'U da c .. ,-,a. N ute 1, c:,,ue 1·1e!'t~(; 111s ~,nte O m<::u m, 1 igo em– palidec•eu. Nao ligue,. n,, -,n1·,111u mnlor irllP\Jl'l:.anc1a •w caso 1,;s lontes depois ll er- guntou-,ne : ' - t,; o nome dessa mnça ? -.Maria Dulce 1 ,

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