Revista da Academia Paraense de Letras 1952

26 REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS BAILADO DE MÁSCARAS F.RNES•ro CRUZ CARNAVAL DE OU'I'RORA No t.impo e•n que os Dominós, os Pierrots e as_ Colombinas predol!'inavam nos salões paraenses, e os bailes de_ máscaras _era'.11 re3;hzados _naqu1;Je amb1enJe ro– mimtico de que nos falam as crômcas da pnme1n, decada deste se<;l!lo, havia em Belém um famoso dansarino. conhecido e aplaudido pelas suas habilidades coreo- gràfica~.ra O Heliodoro Taveira, pseudónimo com que encubro o verdadeiro perso– nagem desta história, antigo e divertido folião, hoje homem laborioso e circuns– pecto, vivendo das recordações do passado, exatamente..con,o convém a um velho para quem - ..a vida é um sonho e como sonho passa . No sua mocidade, o TavP.ita e nchia de esperanças o coração inquieto das moças casadoiras. Para tódas tinha sempre pendente dos lábios uma promessa fa– g ueira. Mas, nunca se deixou ferir pelas setas ardilosas à e Cupido. O Heliodoro pensava como o poeta : "O n1elhor dos a.mores dura u1n dia ou pouco mais . .. " E, nssirn, nunca deixou o amõr criar raizes profundas no seu coração. Cos– tumava dizer que a preferencia que as moças lhe dispensavam, e que tanta invejà cau~ava aos outros rapazes elegantes e simpáticos como êle, provinha tão sómen– te da tama de se, tido como o melhor pé de valsa de Belém. Era o dansarino que elas queriam e .amavam. Em represá lia, o Taveira en– ganava-as como podia. Quantos anos j,i se ·passaram sóbre as av_enturas galantes do Heliodoro. Uns trinta, presumidamente. Eu ainda e ra menino, e já ouvia falar no nome dêsse dansarino famoso, com a admiração que as cousas superiores nos despertam. o ..Ateneu Comerciai" era o clube onde costumava exilJir as suas habilidades. Folião lncorrigivel, aproveitava os s untuosos uailes de máscaras que o Ateneu costuma– va oferecer à Sociedade fina e elegnnte da terra, para nesse an1biente de sonho e de al~gr_ias rondar o coração das moças, pertu~bnndo-as com o perfume dos seus msdr1ga,s e o incenso das suas pro1nessas n1cnt1rosas .. Depois, o tempo tudo !ez esquecer. O uome do Taveira desapareceu das ro– tas mundanas da cidade. O Ateneu encerrou. um dia. as ~uas atividades sociais Os Do1!1inós. os Plerrots e as Colombinas dei'faram de _ser as fantasias preferida~ nos bo1!es de masca~as. A~ testas modernas sao bt!m diferentes daquelas reuniões romantica, do prmc1p1O deste século. Tudo se modiricou !... No c-arnavai passado encontrei-111e com o Taveira. às proximidades da As– sembléia Paraense, que realizava a sua trndic1onal festa carnavalesca LJo _-·sereno" o Heliodoro olhav~ os pares que se divertiam no borborinho das; dansas. Tao empolgado est~iva, que na.l chegou a notar a tninha prese, 1 ça Toquei-lhe de leve no ombro. · - Sei que está record ando o passado não .; verdade '! O Taveira apertou-me a mão e 1·esµond1:u : - A..,er tou. Estavu. realmente, n,e le1111Jrando dos bons tempos do Rov.,1, do Sport ClulJe, do Ateneu... , - E deixoll de dansar ? - Já estou velho! -Fra ~1e::1n)~ntt:, niio esta assirn tJo vPlho como diz. E, ademais _ 1 • quem to1 rei. . cone u1, O '1'.,ve1ra acomp:inhou com :i vista um casal de, ''ciganos" • momento ;is _escadarius da Assembléia. i,; só depois que O ainoros~ ue s u?'ª ,nesse mtenor Ja 11d:ilgn sociedatle, foi que me respondeu : Pal" surn1u no - u,•1Xt,' _de dansa1· em ple na >nocidade, quando ainda 8 1 · dansar111u cn1t,i:1to corria os quatro cuntos de Btlém, proporclon n ~nha fama de feliz da!. s.tua1,;o-,s e ntre as_ damas bonit.,s Jo 1111 ,u tempo I an o-me a ma'" -D.:sengano de a mur ? •-A,1 tes fosse. l .do.:1-me. As palavras dü 'favel.-u cheiravam a romanc-e Fiz e .-le, •e•" -tUerer penler ú espetu<:uiu ,;ulJerbo que O bail; da ·As .-me ?e curioso, c:ionava, d..ondo ao ~eu esplr1to a ,.en,:oçilo deh elosa da snnd dsemblda propor: me.;mo a , ua história. ...,.. a e, "ºntou-me ali

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