Revista da Academia Paraense de Letras 1952
REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LE'l,'RAS 21 LÃ NO BAIXO RIO DOCE J. M. Hesketh Condurú Quando começnrnm n expenmentnr o motot dn "Goitacnzes", n vitrola 1ec hoda deixava escapa r n voz de Estefânia de Macedo, cantando baixinho "Cerqulnhn dt! puu n pique", enqunnLo eu saboré:1\'tl o gosLOso c!\fJ cnplKaba que Muudlcu, a "mãe preta" de meus fUhos torr:nn a socara uo plHio, de mistura co1n erva-doce. As detonações das explosões s ucediam-se tumultuosamen te, porém, pouco o pouco foram adquirindo cadência, até que se tornaram rit.micas. Tudo estava ok. Sorvi os últimos goles do moca e momentos depois ouvia seu Lionel, o mestre da la ncna bater com as juntas dos dedos na porta, avisando : - Meia-noite ! Estamos prontos ! 'l'ambén, eu estava pronto. Bspanquei a da nçarina da caixa de fósforos, a pontaços de meu cigarro, levantei a gola do casaco e, deixando o aconchego do lur, busquei rápidamente o porto, a clé.sslcn escadaria cavada no barranco. Al.lm elo 1uro1 que seu Llonel conduzia lá uu frente, n principio ,1penas percebi o pô~to meteorológico, aquela mal'lcha muito clara. rea lçada pelo -con– traste c:om o escuro da relva e da noite. Mais habituada à vista, entretanto, nao tardei a distingmr, por aqui e por ali espalhadas, outras manchas meno– res e 111enos claras ; e.ram os nossos bois que run1inavan1 plàcida.n1ente. En– qunc.w Goltacazes clormln, velavam eles, apesar ele huverem la butado o clli. !11Le!ro, a arrastar pelos caminhos sinuosos ela mata, a :.:orr11 sem roei"ª· pejacl!l com os lenh0s que o Peixoto e sua equipe de lenhadores abatia e afeiçoava putn O:, nossvs rog61.:s .: n calde1ra da us1uu ter1110- elt:t.rica . L á est.ivam todos os doze bois de Goitac;azes, bois sem pedigrec, bois ser tanejos, la0 possantes como tratores e tão mansos que não faziam mal a uuul criauçu. l:!;Je.s lluvian1 grn.nJeudo a tnlnhu atniznde, u tulnha grat.lcJdo. no d ia em que os encontrara obedientes ao tanger de meu filho que, na inocencio de seus três para quatro anos, entendera de imitar o que via Sard inha fazer e nu como o 1Vlowg11 do Kipling, corr1a pelo campo, aboiando e, com uma va- 1·1u1u1, toc.:.udo os a nimais para o curral. i,: nei11n1m ctdes se lembrara de rebe– lar-se, nenhum dêles desobedecera. Tempos depois, quando chegou o caminhao, o prime iro caminhão visto por aquelas plugas, so com a fôrça e a docilidade dos bois, que sabiam obedecer nos ~non1entos precisos, conseguirnos tirar do n avio a p1·ec1osa carga e fazê-la rolar µor sôor-, os pr.:uchóes "specaclos e pelo barranco a rrampado conve– n 1eute1nente. Surpresos pela nossn presença a desoras, os a nhua1s 1nterronlp1nrn n ruminação e al~:avam as caoeças, como <J.Ue aguardando atentamente o grito convocatorio. l!: estou certo de que, ~e ouv,ssem o apelo do carreiro, naquêle instantt n1esn10 o atende rian1, emoora n ão ignorasse1n que prenunciava a cnntf:l que os JUng1ri a i;\ zorra. Lado a Jaoo, filosofavam talvez, aquêles dois bois que o jugo irmanara de tal J'orma q uc nao mais se ~<:paravam, a inda que ~em canga . J?or st,relll os Hlo.is fortes do Uando, eran, os esc0Jh1dos para constituir a pa1·elha da reta• j; uurcla, a lJ:lrclha que., n uniu ordem do !::inrdil1hn, estacava. Jirmuvu-se nos cuscos ~ ugucuLa\lh e puxao das our..rns cinco JunttlS, obl"igancto-as a pnra.r tu111be1u . Mais adiante, rum111ava igualmente, a vaqu,nna apreciadora de genipapos. cuja presença na ~o. ta de Jantar .assustara rn1nna n1ulher no dia en1 que. ao pessor ~oo u i;enipape 1ro, ::ipanne1 a.Jguns irutos que est.avan1 por terra, sem ,u.1tur que o J 1111nut espre1l,avn e nein cuidar que t:Je nu~ .s.cguir1a . Entrando e1:1 ca:.a, de1xc1 vs gen•papo~ sobre n n1esu, enquanto ia a trocar dt roupa. A vaqu1• 1111:.. !1co1npanuou•u1e, irnnsv ós os aois aegruus da soleira t! 11tul'lducnvn o p1td\1 de uu prCdll~t.;ao, qu..indo 1n1nna mu111er. cneganao na saJa 1 e ncontrou aquela ines– pcnuaa VlSl L~l, Que ne,n &cquer conouc.ta. Ao aun1::1rn10s o porto. ã lúa espiava por entre as r1uvens e per1nitia ver, no sope do ba1·n11,co, a "Gon acates · com scu motor trepidante, o pessoal n postos t: 1nltd1a cs1>regu1çuac1ra a popa. Nn outrn mRrgem ao n o, uu1 pouco n JUSantc, encimando outro t,~uranco 1nais a lto que o nosso, cerca de 1neio qui- 1011 ,ct.ro dtsL~u,t.~, ct1v1sava.•3e v 1euque de pa111,c1rns que, ele long~. qunn<lo cte::1cü.1• n1os de LoluL1na, ::1nunc1uva-nos .L1nhares. Ah e ra L111hares, uma vila e ntao decadente, mas orgulhosu de q uati·o colS;..\S : elos 1Jrusó1;8 aob condes <.!UC lhe ctern1n o nome, eh-\ J..at•ou de JlllJt\ranu com n llhu du lntpl!rador e da lamih:.1 de Calmuns que abrita,';'a. Ness:i .'.!poca. tul\·c ✓• _npcnns Atnu Gul11uu-Uc-H t,,1 F•11or,c11lo Pc1xot.o ntl1vlnbnssc 1 n que elu virlo n mí'rt·~~r o Lltulo que hoJe oaLcnta de "pr111ces11 do cacau". A crençu rle que o 1'Jwobromn p rosperru•ia no baixo Rio Doce suge rira a 1:sses bnl:mos a nquisiçiio dt" terra~ capLxabas c o e ntus iasmo de Filogónio er11
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