Revista da Academia Paraense de Letras 1952
REVISTA DA ACADEMI A PARAENSE DE LETRAS 19 ele conr,Ut11lu o eixo dn natureza humana. jogando com um símbolo poét.lco a opo– sição ria mnt.~rln <e do rspirtto. tssc vir tuosismo de colher n lenda nem cscraviz.~r-se a ela é qnc snlvou o plouo de obra. lcvnndo-a à eternidade a que não chegaram os ensaios anteriores. nem o drama de Mn.rlowe. nem . o est,udo .inacabndo de Lessing. nem mesmo as tcutntlvar. dos primeiros manuscritos de Weimar . Goethe couhecln, certamente, a fôrça lírica de DON JUAN: apreciara aa e•'"s mnnhnR no tnbloé!o ctns mn rion<'tf's rir l"rancfort ou Strasbur1?0. Através das versões populnrcs nuc lhe rorn<'ceram os PUPPENSPIEI,. levou nvente a clnboraçtlo tlr ~eu poema. airltando nele o eterno conflito entre o corpo e o alma, traduzindo em lm:,gens a curiosidade do pecado e a melrmcolln dn gracn. Sem a ajudn ou sem a cumplicidade de Meflstófeles, Fnusto ser ilt um h!'rol, erm aventura. Por sun vez. sem ns cnmblnntcs e sem n transformaçAo a que ~e st•bmet<', f!ltrando-sc no tipo sugestivo de um cavalheiro espan hol do século XVII, o lendário demônio (lo Cr istianismo não alcançaria na escala diabólica êsse m \&to dr. cni,;cnbo e slmpntln com que se presta a ser nn alma de Fnusto o reverso da medalha, a outra parte de um mundo lntér\or. O Mertstófeles do poema de Goethe não dispõe dos podere_s sobrcnaturais 011c se lhe atribuem em tôdas as cosmolog\ns. Desde o momento em que, desn – ftado pelns Imprecações de Fausto. consen te em vir ao seu auxilio, nos bosques de Spesser, ajudn-o nas suas hesitações, mas não lhe resolve todos os problem.,s. SQbra-lhc experiência, mas falta-lhe a cRpacldade mágica de decidir tudo o que o outro deseja. Assim, por cxemolo. quando Fausto se encontra nn run com nnucla raoarlc;a lni:êm.in que dcverlr. ser o sonho e o c.,lvárlo de sua vida. a lrrc– sll\t,ivcl Gretchcn pleiteia de Mefistófeles que o seu capricho de homem seja satis– feito no mesmo instnutc. Pnrn Isso assinou com êle um pacto que lhe pcm1lte E07-"r "SUR L'HEURE" tôdas as delicias terrenas. Do contrário não teria asslnndo o pacto. E ameaça de separar-se dêle, ,ip nn mesma noite aquela jovem não esti– vesse em seus br~ços : "Uud das sag ich Ihm kurz und gut : Wen ntcht das susse junge Blut Heut Nncht ln metnen Armen r uht, So slnd wlr llm Mitternnch l geschledeu". Qual não é a sua surpresa quando Meflstófeles. que élc acreditava 1rrecus~– V<'lmen te poderoso, confessa que nenhuma Influência pode ter sôbre o coração de ~una Inocente: que para conquistá-lo, forçoso é usar de paciência e manha, os untcos caminhos que lhe abrirão nquelas portas fechadas. E até. que. Fausto con– siga a chave do quarto de sua amada, o c(1mpllce desvelado tem de trazer-lhe OB presente~ que excitarão o apetite da mocinha e u rdir com a alcoviteira Mnr tba a intrigo amorosa que possibilitará os primeiros encontros. Scmelhn_ntcs processos, que ~$Capam ao? sortilégios da hierarquia do Diabo e re aproximam da renlldade humana (Martha é uma dns tantas variantes da Trol– t~convcntos. ela Cclcstlna ou da Brlgida de DON JUAN) fazem pensar que o Mcfl•– tofcics de Goethe, apeado dos poderés sobrenaturais que desfruta nas sncrns escri– turas, nada mais seja do que o BURLADOR DE SEVILHA, natumllzado pelos ta– })lndos_ volantes dos PUPPENSPIEL com() mandatário das paixões terrenas. E amor o que cxperlmentn Fausto pela mode~ta e Ingênua burguesa a qu em promete umn palxáo eterna ? :l,;le fala umn llnguagem árctcnte, cre que, em rea– lidade, seu amor à Margarida lhe trará . uma felicidade definitiva e insubstltulvel, mas esquece que Já se ei1contra sob a aç!io do Pacto, que os seus sentimento!!_ es– tão submetidos aos ardis de Meflstófeles, governado peln astúcia e dlalétlcn deste. Em verdade, Mr!ist.ófeles é agora a sua bússoln. Tôda a vez que Fausto pensa trnnsformar seu desejo em palx!\o, seu vicio em amor, o realismo frio do compnrr-, desfaz a purezl\ do sonho e o derruba dn montnnhn. Preso por um comp•·"ln r-s? Indeclinável, desfalece sempre citante da lóglcn perturbadora do Demônio. sucum– bo àe suas rnzõcs. f: Me!istófelcs quem arma ns intrigns e desgraças que o arras– tam ils impaciências dn cnrnc e li cegueira do Instinto. É êlo que o decide, o tímido sedutor hesita ô. porta cio quarto de Mnrgnridn: é ele que lhe dá o nar– cótico com que n mpariga fará dormir a mito severn e vigilante : é êlc que provoca o duelo com o Irmão o!cnclldo e sedento de vingança ; é êle que o leva n esquecer no turbilhão dos prnzeres os desditas dn noiva ; é êlc que plasma a tragéctll\ do amor criminoso e Insatisfeito ; é élc que debilita a resistência e atiça a cupldoz ; t êle que dá ao amor de Margarida a sua co1·õa de espinhos, fazendo-o floresc<'r no Infortúnio; é êle qttc anula em Fnusto os passiveis escrúpulos diante tln !no– céncln, emprcstnndo-the o sua vontade, pnra que este a transiormc cm ação. f: êle, enfim, que faz do sábio ttm herói. quando pensa,·a fazê-lo um mons– tro. E:lc, o eterno pecador lnsa1,tsfelto, cuJ:i audáclR desafia o céu a medir-se .-,om ele. Chama-se Mcflstófcles ou Don ,T\l'tn. sua tarefa acende o drama da vida P da morte, selando-o pnrn tl etcrnldndc co111 u1nft rosa de. sangue. Blut lat oin ganz besoudrcr Salrt.
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