Revista da Academia Paraense de Letras 1952
18 REVISTA fA ACADEMIA PJ\RAENSE DE LETRAS r am ao l'0U gô3to. i,:nnham um novo sahor cm cont.,cto com as platéine populareB. Perdem a nobrezi< llterl\rln. ndqulrindo 11m• crostn folclóricn. cm qut> r.c mlstu~ ram 0 ~ Rei,:rcd03 e superstições cotctl\•as. O temn \'0ltn il sua belew p rlmÃria, P. prlmltt\'R Pxperlõncla, e é nesse estndo lnfusórlo que Lcsslni; e Goethe captam os elementos para as duas obras n que "" lançnm ; o primeiro ntormontado por um eJ'cess<> de mclonnllsmo que afugenta n lmn1:em. dclxnndo-a lnncabnd a ; o S('J?Un– do, aloni,:nndo a concepção do "STURM UND DRANG", parn encher de PA<'&la e de audácia o humanismo prisioneiro do século XVII. Onde. porém, teria Goethe captado a essêncln de seu poemn ? De ond e lhe \'Iria " Inspiração? · A perguntn não par~ce fácil. Atravni; de umn dai; VPrl'ÕM do VOLKSBUCH ? Como espectador de uma dns ndapt.nçõ~s populares num teatro de m!\.rlonetPB cm Franc!ort. Strasburgo ou Lelp7il: ? Do convivlo com Parncell!O, com o qunl nzern amizade cm Francrort. no ano de 1769? Lendo os filósofos, os m lstlcos, os alquimistas. os astrólogos e teólogos de sua época? Nini:uém o po– elerla responder com absoluta segurança. O tipo e as nventuras elo vrlho mág ico podem ter sido captados aqui ou all, em relatos fantásticos do VOLKSBUCH. n os d ivertidos program~s do FAUSTSPIELE ou mesmo na observacão pessoal ele um dos mágicos que com êle se relacionaram . O que. porém. não lhe forneceu a l1m– de nrm lhe romecerla nenhum dos elementos em que ee subsidiara rol a maravi– lhosa fôrça de exprêssão que faltara a Marlowe. :i Lcssln!);, a todos os seus nnte– ctssorcs. e com a qual logrou perpetuar a pnlxf,o da ciência e do sonho, vivendo a sua obra antes de escrevê-la. Universalizando numa figura o seu mundo Interior. Vejamos. porém. em que plano se encontram. coincidem ou se desentend em DON JUAN e o DOUTOR FAUSTO . Um e outro representam os dois polos da vida. Estão distanciados por dl– vert1as concepções do mundo. Entretanto, há entre· éles ati:o que os aproxima e estabelece o contacto entre a mntérla e o esplrlto. Sem o dualismo de sua alma. FAUSTO seria uma a rrogância e Insípida criação literária, um semi-Deus eictra– ••lado, sem rome de curtosldade e tcntacões. São precisamente as solicitações de 1n•t,lnto que lhe dão calor de humanidade. :icordando a outra existência que néle dorme . Para melhor despertá-la, Goethe põe em Jógo as fôrças <lo mal de que Me– flstó!elcs é o condutor experiente e oportuno. Desencadeia a velha luta entre as tentações efémeras e a promessa da vida etem r,, fo7,cndo entrar cm Jôso aa dua11 fórç~e qur sempre dividiram o mundo e cm tómo d:is quais a humanidade se 11pal– xonou ainda mais no fim da Idade média. O dl:1bo fl~urava ai como o grande ecmeador das prazeres terrenos. n fonte geradora do pecado. o fabulário do VOLKSBUCH nos d á conta da sua presença e pin ta-o com tôdaa as singularidades de seu génio, catl.-ante e atrevido, manhoso e mutável. GoethP abriu-lhe as por tas do poema e rê -lo entrar na história de Fnusto. como a sua sombra ~ a segunda alma - . avivando o dualismo que apaixonou a Rcnno– cençi,. - Mas - ocorre-nos uma pergunt.:, - éss,, l\.teflstófele~ tentador e opor– tunista. que circula nas velas da obm e <1uc conclui com os homens pactoa ele vida selados com gótas de sangue. é mesmo demónio existente <'m tõdae as coa– mogenlae. a ardilosa s('rpente dos Jardins do Paraiso, o sntan do Lino de Job, ou denuncia n" sua fisionomia e 'nos seus hábito~ cumplicidade ou mistura com ou– tras criações hu'!'anas? Vejamos. E nn observação do fenômeno que rcsl<le. precisamente. a influên– cia de outras espécies na presença do Herói de Goethe. Para fa7er dêle a "ant1- tf'&e e a ,segundR a lma de FAUS'l'O", nA.o recorrr ao demónio usual da'< cosmoloinna. nPm mesmo à personagem que lhe corresponde no rico fnhulárlo do VOLKSBUCH um outro slmbolo da ten tação. mnll; fPltlc,•\ro e humano nos seui. processo~. sucede ao génio do mal. cmbom consPrvando -lhe o nomr. Chama-se Me!lstófcles, mas •· em verdRde, DON ,JUAN, o elemento com que Gorthr te<'<' as Rventuraa de ,eu poema. dialogando com os dois polos da vldu. Baetn fixar a cena do Pacto. quando Fnusto rer.ebe cm seu i;ablnete de tra– balho, para assinar sua renúncia à vida etrrna <• ndcsô.o às drllclas terrenas. o impenitente Jogador. Como lhe aparece êle. O seu 5ell\tndo eu. o Instinto secreto que O acompanha ? Vestido à espanholo, com sru í!lbno carmesim. a capa 110 vento deixando ,•er a espada lu?ldla como um rnlo; C'RhPIO ondulado e lustroso. bi11:odc atrevido. barba pintada e um gru nc\c frltro nc1:ro cc,m pluma~ da3 Ilhas. dando a Impressão de um fidalgo d~ um qundro de Veh,sqnrz tae feiticeiro conviva que cheg11 e que o rsllmula n aband onar a Inútil ta– refa da ciência para viajar o mundo, conhccen,10 de· perto as tcn!Rçõea - a ver– dadeira alegria de viver - é ele o Meftstórcles clá881co dos livros sa11.rndo11 ou re– vrste outra compleição mais próxima dn nnturezn hunrnna? Nem há que duvidar. Baseando-se na t radição antiga, Goethe Introduz em EU& obra o diabo sob a forma de um dragão. lanc;ando-o no c~mlnho de Fausto ~m uma ~ncruzllhada da norestn elr Spes~•r. n,,s <'~rcanlns rtr Wlttembcri;; mas. dêpols (> soh o h6.blto de um moni:c e sob a capa Pspanholn dP um cnvalhelro do• 08 de Felipe IV, que Mcrtstófelcs se comprai< cm vlslt/1-lo. temp Afastando-se dos rei.nos cio lendário mcdln:,1 pam emprtst.1r ao seu poem~ ova !Orça mais próxima do seu tempo <lo que o prlmârlo satunaz do VALKS– a1ü~â, ooetbe captou cm DON JUAN o reverso da sabedoria de FAUSTO. E com
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