Revista da Academia Paraense de Letras 1952

REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETltAS "Na mão de Deus. na sua mão direita, Vai enfim r epousar meu coração... " Parn concluir e mocionado : "Dorme o teu sono, coração liberto, Dorme na mão de Deus eternamente !.. . " 11 A RETóRICA DE GUERltA ,JUNQUEIRO . A arte oratória encontra em .Junqueiro um dos seus mas brilh antes sequazes. A s ua r e tórica ni\o é vasia, nem scperficial. Ao calor das suas paixões nobilíssimas e de seus not:\veis empr eendimentos, Guerra .Junqueiro dissertava, dand o ao sabor da sua bela inspiração, e deixando-nos escritas, páginas belíssimas, Ílo mais intenso fulgor literário. Exalta ndo um velho e analfabeto, cantador de Setubal, escreve b imi- nente poeta : ··o ver bo cantar é um dos f ilhos radia n tes do verbo supremo, do ver bo divino e criador, que é o verbo amar . . . . . 'Ó. q~~- hâ 0 ;;~,;,· ºv'ioÍi·,.;~ ? 0 ú~ci~i~á 'sic'a' ·e· t;·ipá~ 0 ITI0°rl~~ 0 1. e'~,.;,· ó' ~;lá 0 v'~1-- .cÍÓ plátano e os intestinos do porco, cria uma vez que extasia os :rnjós ! Uma bela harpa, suspiranda. evangeliza . ,;; um sermão. O inventor do ór gão deveria ser canonizado. O órgão é. a voz p rofunda da cutedral. ...... ,-..- c'a·,.;çã~ 0 é ·a· 0 fió; .ciós. ló 0 bios:.A 0 S 0 b 0 0°~ 0 S 0 dos· ~i..;iü~ációs ·i.;~~ú~ii °C 0 0°1n~;,;: d~-- voram, menten1, blasíe1na1n, escarnece1n, rnas n5o cantam. O jornaleiro lovrando e ceifando. canta . O burguês, atarefado em negócios, calcula, questiona, grita, rogu pragâs.· Os b,mqueiros, que se nutrem de oiro, tem a a lma de chumbo. Os mendigos cegos, que vivem de esmolas tem harpas no coração . ......ás· i:ie~çó~ ·;~,n· ~~;.;ç·,ie·s· siió. i:ie~çó~.q~e· ;.,:,;-º· .ti;e;,.; ·1;,·ai.................... . A criancinha que não fala entende só o. que lhe cantam. o que se lhe diz . por música. Quen1 canta tôda a v ida, traduz a vida em hannonia, nngeliza a v ida. S. Francisco D' Assis morreu a cantar. Cantar é amar. O cântico religioso é a oração ).)erfeita. A língua dos a njos é música espiritual. A síntese do universo, o càntico absoluto, .:, o absoluto amor - é DEUS I" . Por ocasião da primeira guerra m undial, a quando do fusilamente de Edith Cawell, escreveu Guena Junqueiro lindas páginas em Jimpida prosa, de onde se destacam os trêchos a seguir : --Num pátio sombrio aguardavam-na os algozes - quatr o soldados e o co– mandnnte . A alma divina da mártir olhou-os sem ódio e sem temor. Nem todas as forc:as brutas da natureza, voltnndo-se contra ela, a poderiam aniquilar. Mas, se a aln\a e ra invencível. a carne estava exausta. O corpo da santa desmaiou. O oficia 1, concluindo a tragédia, estoirou-lhe o crâneo com duas balas. Assassinou-a. plàcidamente. gelidamente, maquinalmente ... . . . Depois, bebeu, deitou-se e repousou como um justo. L embrava-se tanto de Miss Cawell como se lembra wn tempor al duma folha morta. Mas· dessa !olha morta, d~sse cadáver despresado. irradiou no !flo_bo ins– tantâneamente uma luz imortal, onde milhões e milhões de allnas se 111llaman_i, coruscando de dor e de vingança. Baixou inexor.:lvel sôbre a Alemanha patl– bular o execro.çiio do inundo. Ergueram-se heróis, levanlorn11'\-~e ext:rcitos - E no inttnhu ele Ueus. na insondãvel paisage1n da eternidade enqaunto Ql!C . a alma g loriosa da mártlr brilhava, cm estre)a espiritual da constelaçiio edcn1ca dos anjos. a Alemanha rútilo e soberba, a Alemanha ovanie e tormidâvel, co,:n tódus as chan1as do seu orgulho e todo o espJendor do seu império, nüo era n 1 a 1 s do que um montão de larv:1s 11egras, de ibriões, de loucuras e de crim es, de Jer– mentos socrilegos, satânicos. . , A justiça de De us vai proclamar-se na terra. o monstro espantoso sera dcsf11lto e a niquilado... . . .. . . ... . . .. . ... . . . . . . .. . ' ............... . ................ . ............ .. ... . Perante o tribunal : "Eu n 5o a ludo a v ida íntima do Sr. D . Carlos. Aludo, é o meu direito e meu dever, à sua vida de monarca. Ol'a, a história do rei de Portugal, a t odos manifesta, em ~alavrns se desenha: incúrias e desmandos, nrbitrio e. bocejos. :i;; mªd~ c lara, a verdade auH!nticn. a verdade s inistra. Uns 1>roc lamam-na, ut niurmn-.na. E qucnl a esconde ou por dolo, o u po1· constrangi1nento. temor, no tundo da ahnn re,.:onhecc-11. Eu bradei-a r e! do bradá-la morte• Quem me imped e ? quatro a ver– outros ou por at.á à • 1

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