Revista da Academia Paraense de Letras 1952

REVlin'A DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS 107 DESTINO De J. •~US'l'A.t1U10 OE AZEVEDO (Fantasia sem verbos)· (Ao BRUNO DE MENEZES) Eis o retrato da, in illo t empore, mulher dos teus sonhos cor de rosa : Alva, muito alva, dessa alvura deliciosa do alabas tro; a pele setinosa e macia como o arminho. os olhos negros como a noite tenebrosa , os cabelos pretos como as asas da graúna de nossas matas virgens. Dentes claros, côr de marfim p~lido e brilhante, boca de sorrisos de anjo, expressivos, entontecedores: rosto, enfim, deslumbrante . Eis o retrato d!I mulher. outrora, de teus pensame ntos azuis de te us sonhos cõr de rosa, de porte elegantíssimo, como umn princesa oriental, mulher única , senhorn do teu amór, de teu sangue, de tua vidu ! ... De tua vida, sim ! Por que ni\o ? ! Quem, dantes. mais bela. ma~s amorosa e mais terna do que ela ? Quem,, a nos atrás mais digna do teu coraçao de moço, do que essa encarnação soberana de neleza 0 da cativante ternurà, da angelica l inocéncia ·1 E;;plêndida, noutros tempos. P!'ia e legância de seu traje, p elo snlero de seus r equebros, e. mais ainda, pela me1gu1ce de sua voz dulcíssima de nmazonen sa pr.>- vocanti~to tudo . . . ·em tempos idos. Ei-la agor a <'0mpletamente outi-a . . . Entretanto, essa criat~a gentil, senhora dos teus afétos, amigo, outrora, escolhida por t.i de e ntre to.das as m~lheres bom tas. da terra; a mais nobre, a mais pura e sedutor a. essa imagem viva do belo, coitada ! . . . que metamorfose horrivel l. . . 1 . Ontem, pura e tascinante, 0Je !Osa sem pétalas, hoje pérola sem con cha e hem valor! 'F'lôr sem perfume..na sa1·Jeta c1:as ruas ! ... Nos Jóbios, outrora carmmeos, o há hto nausef!b undo dos beijos impuros, no sembla nte. a triste2.a das grf11des de>res sem remédio, no corpo, em almoeda, o gertnen, n1inilZ da tuberc\.11.ose . . E mais tarde ·1 E mais t.arde o hosp1t.al, as orações de um s:icerdotes, a vala comur,1 reµoiso e 111 massa dos desampar ados l ••• Mas sih,ncio_. co1:-3~Jo I Nndn de revelações pública~, o seg1·edo d'alma de teu amigo, - cont1go so •. , • . . . . .. . . . ........ ... .. .. .. . .... . ..... .. . . .. . . ....... . .... . .. Perdão par::i ela, meu amigo ! P ara a mulher de teus pen~_amentos azui~ e d~ teus Eonhos cór de ros::. de out~os t~pos e !'ºJ~, por urrya fatalidade do destif\O, 6 céus 1 _ 0 sarcófago c,1e;rec1do oc tt1as tlusoes perdidas e do teu desgraçudo amor !

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