Revista da Academia Paraense de Letras 1952

REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETR AS 103 Emp unha ndo o bin6c:.ilo, o t enent e p arecia petr ificado. Mais d e quarenta mi– nutos tr:ms correram, sem que uma palavra quebrasse o s ilên cio. Em dado m o– mento, porém , soltando um suspiro de a h vio, o oficial com eçou· a f alar como se delirasse, o descrever, inconscl.,n temente, para os que o cercavam, a cen a que só ele, através das lentes, podia contemplar de perto : - Pronto) .. . Parou. F.sü . p ::i11atlo. Os ale.rnãe.s estão deixando os abrigos.. . Vão prenclê•lo? Não, est.:to ;,u6veis . .ele est á t irando ::i tún ica. .Togou a t única no r hão. Serfi que vao at ira r 'l Não. ~e se baix ou, Es t:, baixad o, agora. Levantou -se . Colocou um homem n os ombros. Se r.í o sm·gen to ? •• , Valha-nos Deu s ! E stá ace– nando com a m5o. Que será aquilo ? Estará da ndo adeus ? Estar á p edindo socor r o ? Não está . . . está agradecendo. É , parece que está agradecendo. P r onto I Vem volta udo, j:i vem descendo a encosta. com o sar gento no ombro ! Escorregou ! Con– seguiu fica r de pé. Tornou a escorregar, caiu ! Pronto, já levantou e v em desce ndo rna is dep ressa. Os alemiíes continuam f ora dos abrigo~. esfregando as mãos n as coronhas das arm as ! ... Irão atirar ? Não, núo ê p ogsivel , seria mu ita p e r vers ida– d e I l!\les são soldados, 11iio atirnrâo H ,1111 h omem desa rmado t O "Mineir o" tinha razão. Pronto. . . . ü s soltl:idnn que, de i1,íclo, apenas lhe bebiam as pal avras, já agora, p ode nd~ d istinguar n llldamente ,1 silhueti:i' do herói , fazlsm éco : - Isso, n>Jgo ba ltita I Bem qui ttl1 dissl qui hm'ia di tra:zê sô sargen to ! 'l'á vlvu sim 1. . . Levama. Mineiro velho, issu· ! Os gringu dexarão êlis ch egá at é aqui. Deixam sim q ui sordado que tem vergonha, num a tira em soràaào d isar– madu . O rvfi.neir o la\·a certu, o l\Iineiro tenha razão I Já t ão pertinho graças a Deus I Ih ! Mineiro vai sê prumuvidu, mereci I Sim sinhii, mereci 1... Pron to, j !i tão chegando, oia ol .. . Hor as mais tarde. no P ósto de Socorr o, o sargento e"---plicava. Fora s alvo no momento preelso em q ue, des~pet'ado de dóre~. d isp u nha a t omar o sedativo do pacot e de curat ivos. s.,,\t;n c10 que alguém se ::1pr ox imava, t ratara de imobilizar -se e fingfr-se de morto. Uma prrn tndo mais ::iguda no ferimento, entre tanto, fizera-o retrair o perna. Denunt·iundo-~e. pancc1•3-Jhe q ue ch egarn o fim . A lâmina de urria b:.tioncto - pensara num l.11npe:'io e quase re~i1,u3J o - acnoaria com aqui1;, de um t1 vez I E t'oi quando ao zum1,ido que lhe enchi::i os ou vidos m isturou-se carinhosa umu voz familiar : - So sargento, num fob::i mio! Sou e\l , o Mlner n, q ui v im lhe busc{.. li las fica quieto, q u i vou pedi lice·nça pros gr ingu ... - E, sem que e u aLinassc bem com o que p reten dia fazer . . . - p1·o;;seguia o f erielo com um sorriso bom ... - clesplu a tt>n ica, a br iu os braços e m c ruz, par :i m ostrar q ue niio t razia armas, enCD,·ou os gli;ante~cos a lemães q ue ha viam aban– don ado os "foxes" e, apcm t a ndo par a o meu corpo coou aqueles seus indicadores negros, f ez paro éles un, i•eslo de quem pedia permissão para car rega r-m e. Eu est ava estupefato, e cre io que, de mim p nra mim comecei a rezar, conven cido de que nos ir iam metralh.1r aos dois, com a mesma raJnda crünlnos a . Estive o des– "!aia r de omol':.tO, p n.-.'.•m, 111t,rndo, ap6s entreolharem-he 11mns du as vezes, os n a- 2"1s bate ra1n co1n n l.'abeçn ndrnu1tjvnn1ent~. ''.\'iine,iro" ton,ou-me. en tão , nos seus homhro;; e ... Ce,·rantlo os olhos. o sargen to cnlõu -se. Uma r uga de preocupação vincou– Jhe n l rorll~. E 1.:01110 Jhe pe 1·.r,u11lnsse ~,J t~stavn se11Lindo nJgu in:a coisn, sorr iu, disse que n.:.,o corn urn aceno, :..1 l"i.'.?clln-teç·ou indt::ciso. hal bucinnte : . . . . . - .. 6, e u t!~tnva quere11do s aber ... querendo des cobrir p or q ue ... s im p orque .. . - voltou n contrajr o Jis!onomi:, e c-alon-se, merg ulhado nos p r óprios pen ssme11tos. Empolg&-lõ-,a, sem dúvida, o desejo de c.:>mpreender os reil_exos _desse es– tranho e ine>:plicá,·el se17.ti.mento de solida riedade humana, que a força oa educa– ção m ilitar semeia nos corações de tcdos os soldados do mundo.

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