Revista da Academia Paraense de Letras 1952
10 REVISTA DA ACAOEi\IIA PARAENSE DE LETRAS <;ões religiosas e filosóficas. do socialismo romuntico e revolucionário, do gósto 2margo pelo sinistro e pelo macabro. Mas . foi sobretudo e quase exclus iva. mente poeta. Até no ódio encontrava meio de poder poetizar a existência, quan– do, perante um tribun::il judici6rio, proreri::i, estas pnlavras impressionantes e expressiv::is : 'Amarga-me na boca a palavra ódio, mas a rticulo aqui, diante dos ho• mens e de Deus, sem contriçãb e sem temor . Eu odeio o Sr . D. Carlos, niio com ódio sangrento. com ódio de or~ulho e de vingança . O me u ódio é bom, con– forta-me e consola-me . Odeio o rei porque, amo a VERDADE E A MINHA P ATRIA". Há. entre tanto, uma distinção radical ent re a filosofia e a poesia que n ão nos esquivamos de aqui reproduzir : "a filosofia, como essentialme nte lógica e discursiva, busca a idéia precisa e serve-se sobretudo de conceitos; e a Poesia como essencialmente afetiva, foge à idéia precisa e serve•se s obretudo de ima~ gens sensíveis'". O Panteismo de Guerra Junqueiro é um pa nteismo cr is tiio. É o panteismo de São Francisco de Ass is cuja santidade tanto admirou e lhe servia de norma para as suas explosões de amor e e nca n tamento, ante à beleza e à perfeição incomparável dos seres da natureza. O Deus de Guerra Junqueiro é o Deus dos cristãos e n;io fosse a alma hu• mana, como quer Tertuliano, na turalmente cristã ! . .. Também Farias Brito, profundo filósofo brasileiro, inclinado ::io panleis – mo espinosista, · s urpree ndido por um seu bióg rafo, faz a segui11te prece pro, fundamente cristã, num "Diá rio" de s uas reminiscê nci::is, no 111ome nto em que viajava, em busca de seu pai graveme nte e nfêr1110 : "Meu Deus conservai me u pai ; e, se êle deve mourer, se .::le tem de morrer, fazei que ,·iva ao menos até que e u chegue : que <!u o veja ainda e possa assistir aos seus últimos momentos". No seu poem::i órfão, clama cristamcnte Guerr:i Junqueiro : Senhor, Senhor ! quando scismo Que há muitas almas que nascem Sôbrc o cairel de um abismo, E que basta um sõpro ape nas Das tempes tades do mundo P ::ira as l::inçar lá n o fundo. Se tem fundo essas geen as ... Ah ! Perdoa-me, Senhor ! M-as por dentro do meu crâ nio Passa a dúvida sombria , Como larva imu nda e fria Nas trevas de um s ubte rrâ neo Teu filho, o próprio Jesus, Emblema do sofrimento. Que mone u pregado :'l cru7. Sem um único l::ime nto, sen1 um grito, sem un1 aí, Teu próprio filho, Senhor, T eve miie e teve poi ! Noutro capífuio de su!I g1•a rule obro p ocUC'a, proc-ura Guerra Ju nqu eiro retratar a ,m::igem d e NOSSA SENHORA, exalta ndo A cor moreno quando diz : " E olha que foram More nas e bem A s n'loc;ns maic: lindnc; De Jerus::ilém. e a Virgem Maria N 5o sei . . . 1nns serin More nn tamhém . Morono e ra Cristo. Vê la, de pois disto. Se ainda tens pena Que as mais raparigas 'l'e c h.1,11e m moren::i" ! O, Jtimos di?s do poct~ feriam ele ser ni11<lo m:ii, c1·is1inniznclos cri.stlanis n,u expressivo que o 1rw inspn~1vel1ucntc,• ~prox itnr,ndo elos dó 1 ~e um catollr is n ,o Fuluvo con1111uon1ento em D_cu,; no,; ulti mas nwmentos d<:> 8 ~ 1 as.. Jº repetindo t:imbi}m conttnundnmenle o cd e bro ~oneto de Antero de Que~~; ; a, 1 1
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