Revista da Academia Paraense de Letras 1952 (Janeiro v2 ex2)
REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS Parece que todo dinheiro que lhe chegava às mãos, êle o desmanchava em bons livros, que sabia selecionar, desti– nando-os à leitura e ao estudo e não a ornamento do gabinete . de trabalho. Dêste se fez escravo, cuja liberdade só alcan.çou · com a morte. Jornalista literário, brilhou demoradament~ · n"'A Província do Pará" e noutros jornais amazônicos. Co- . laborou no "Jornal do Comércio" (Rio) e na imprensa per– nambucana. "O Estado do Pará", que Santana Marques valo– riza com os lampejos do seu talento. privilegiado, publico;1 as suas últimas crônicas, modelares no gênero pela fórma e:: substância. A biografia de Paulino de Brito representa, de verdade, edificante exemplo do esfôrço pessoal como fator de assi– naladas conquistas. Cêdo oscilou entre o aprendizado mecânico e tipográfico, optando pelo último. Era natural : compondo-se, aprende-se. Mas a irradiação do talento lhe apontava mais altos desígnios, e, curvando-se aos livros pôde, ao cabo, ascender dos caixo- · tins às eminencias do jornalismo, às alturas do saoer, fazen– do-se arquitipo de preceptor tanto pela excelência dos recur– sos pedagógicos como pelos requintes das faculdades afeti- · vas, que lhe valeram os fóros de vero pai espiritual das ge– rações estudiosas. que adestrava nas letras e guiava para o · bem. O belo perfíl de Paulino focaliza, acima de tudo, o porta– bandeira da fé, que êle foi, na aspérrima batalha da vida. Naquela alma adainantina, floriu sempre rescendente a primavera da fé, verde primavera risonha, que mais viço11 e esplendeceu à medida que o corpo cambou para o ocaso. Fé onímoda e ourejante, que simultâneamente animavé'. o ardor do cristão, o devotélmento do professor, o éstro do poéta, a fibra do jornalista, tôdas as atitudes ereis da vida laboriosa e fecunda do homem; fé ao mesmo tempo religio– sa; moral, civica e política, ela chovia a plenitude dos eflú– vios bons e salutares, dourando-lhe a consciência e o talento, cingindo-lhe a fronte como uma corôa luminosa. AFINIDADES DA SORTE Calcule-se a dureza das penas de quem madruga aos dez anos no aprendizado tipográficõ. Nessa idade a gente brinca e aprende a lêr. Quem se inicia n a exaustação do trabalho em tão verdes anos, mal terá conhecido os folguêdos da infância. Também não esmorecera nunca ante os capricho:: da adversidade. E entroncamos tal analogía nos primeiros passos da vida ele Paulino e Machado de Assis . .. E quando ambos surdem, glórias feitas à mercê de ingentes esforços, ainda se nos de- · param os dois porfiando em idéias congêneres : Assis, na Metrópole, ao lado de Lúcio de Mendonça, induz a fina flôr literária à fundação da Academia Brasileira de Letras; Pau- . lino, em 1900, anancando gabos do governador Pais de Car– valho, faz-se o estatuário da arcádia pa1'aense.
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