Revista da Academia Paraense de Letras 1952 (Janeiro v2 ex2)

REVISTA D A ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS 8~ depois de passar-lhe uma rebordosa, uma descomponeada em ral que viviam às turras na disputa de trabalho do braço in– dígemi. Da primeira miss5o, Mendonça Furtado, não obstante o seu entusiasmo e boa vontade, não chegou a feliz conclusão. Uma série de obstáculos. sobressaindo dentre êles a doença, concorreu para que o valente capitão governador regressasse, das brenhas do Rio Negro, sem ter conseguido levar a bom têrmo o seu objetivo. Com respeito, porém, ao segundo encargo, a coisa fiou mais fino. É que Mendonça Furtado, entrando em bruto, como hoje se costuma dizer, em cima dos jesuítas, deu em resultado a expulsão dos missionários do sólo amazônico, em junho de 1760, isso n uma repetição do que ocorrera em 1757. Irmão mais novo de Pombal, Francisco Xavier de Men– donça F ur tado, que era comendador de Santa Marinha de Mata de Lôbos da Ordem de Cristo e capitão-tenente da Real Marinha, na soluçiio dos problemas que, a cada p asso, sur- . giam n a sua administração, não tinha meias medidas. -Agia sob o lema, muito port uguê;;, aliás - ou vai ou racha. Nem o-.:tra coisa e ra de se esperar de quem "exaltado e irritável" - como diz J . Lúcio d'Azevedo, no "Os J esuítas no Grão Pará" - arremete de frente contra os obstáculos e procura derrubá-los a golpes leais. Altaneiro no trato, cele– bre p ela grosseria de modos, que ficou lendária, não tem, como daquêle out ro diziam, (do Marquês de Pombal), - "cabelos no coração". À semelhança dêle, é partidário dos meios violentos: d e bom gra-do espanca, prende, desterra: mas não abriga em sí a crueza ferina, que semeia patíbulos, inventa suplícios e acaba d e saciar-se depois com os despojos das vítimas. Pelo contrário, não raras vezes lhe rncede, após a exaltação do momento, cair em si, reconhecer o êrro, re– comendar à clemencia o acusado de ontem, desculpar-se a seu modo do arrebatamento indiscreto". Está, dêste modo, compr eendido que com um cidadão d êste jaez, dotado de tais qualidades, e que tenha sob seu mando coisas, terras e gentes, muitos episódios não podiam deixar de se verificar, sendo que u ns, pelo seu tom de 1::ner– gia e austeridade, a provocar ódio e indignação e outros, pelo t om chistoso e pitorêsco, a despertar a legria, riso ou mesmo uma boa gargalhada. Logo de início de seu govêrno, por causa da escravidão dos indios, irrompeu entre Mendonça Furtado e o ouvidor uma tremenda questão, o que se póde chamar um verdadei– ro "piróca joelhos". Nenhum nem outro queria dar o braço a torcei::. O capitão general, cioso do prestígio do seu grande po- .. ~ <ler, "tendo vindo submeter a jugo novo e de robusta auto– r idade a indisciplinada população da colônia, bate o pé e ordena". E o ouvidor, confiando nas imunidades d.i toga, faz frente, obstina-se atender a ordem recebida e ainda por cima lança-lhe o r épto, tentando prer,der e sujeitar a pro– cesso crime certo oficial protegido de seu adversário. Foi a í q ue a coisa che irou a polvora . . . Mendonça Furtado, espumando de r aiva com o pr,ocedi• mento do magistrado, manda chamá-lo a sua presença, e,

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