Revista da Academia Paraense de Letras 1952 (Janeiro v2 ex2)

REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS 83 Dois sonetos de FLEXA RIBEIRO (Do livro "Litania Pagã", publicado em 1907) . Parábola A armar um barco frágil, um brinquedo, pusera-se a criança, com cuidado .. Nele empregara todo o seu segrêdo de artista pelo Ideal atormentado ! Lançou-o ao rio silencioso e quedo . E pelo vento, súbito, levado, viu-o fugir, todo a tremer com medo . E inda o teria, rápido, apanhado ! Mas o temor de ser logo envolvido pela água, que dormia mansamente, fê-lo hesitar .. . (Adeus! Tudo perdido!) Quantas vezes na vida nós trememos nesse medo infantil, cobardemente, e o nosso barco de papel perdemos ? PAUSA Paris, 1905. Ah ! sempre que tu deixas o meu tenho de novo uma delícia nova. Um sentimento delicado e harto procura-te exumar da fria cova. quarto, ' Trabalho sem cessar ; e não me enfarto ! mas tudo é sombra vã ! Qual velha trova que tentamos lembrar, - mas que, já farto, sentimos que ela nunca se renova .. Nome que vem à boca, e não se fala, muito embora se queira, ali, dizê-lo, relevo que eu apalpo, mas não vejo . Como alguem que cansado, então, se cala, assim me fico - flácido novelo - '1esejando o desejo do Desejo.

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