Revista da Academia Paraense de Letras 1952 (Janeiro v2 ex2)

REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS 81 prlmlvels, podem perlar, cm minutos dolorosos ou ele súbita alegria, os cll!os elos virtuosos ou cios bravos, sem que eles porlsso tenham de se vexnr. No entanto, esse direito à lngrlma, que negais nos homens, é usa– do que farte pelas vossas personagens femininas. Rosa Maria, Cle!clc, Maria Emllla, a mãe ele Judite, Cleonlce, Lucla, outras Marias, todas elas choram. Náo estranhe!, todavia, esse dilúvio de pranto, notando que con– cedestes prioridade, no exerclc!o da vossa observação, a determinados acontecimentos em que a dor, o Infortúnio e o desespero rivalizam. Soubestes mesmo, com Impressionante fidelidade, esculpindo quadros flagrantes, perfeitos, ret ratar dramas íntimos onde a ficção apenas se Jlmita a emoldurar a realidade. Vossos tipos são bem cstuclaclos. No burilado que Intitulastes "Tú não és a unlca Maria Emllla", a espontaneidade e o carinho da confecção semelham lindo cromo. "O Proletário" é um desenho forte, firme, fotografnnclo a situação dantesca em que se debatem. esperando, quase descrentes, uma re– forma social que os redima, outros Inúmeros desgraçados como o Manoel Peres que focastes . Nessa comoven te narrativa há uma nota suavíssima, que encontrastes na alma resignada e humilde ela sócia elas atribulações ele Manoel Peres, clono de um lar clescl!toso, rico de filhos e clesprov!clo cio mínimo necessa r!o. onde tomara assento per– manente n doença e n lncllgencla. É Etelvina, simultaneamente, "co– zlnheirn, lavndclra, ama, enfennelra, n1ulher e escrava da miséria", que ainda assim recordava, no marido atorment ado o sentimento da esperança, lembrando-lhe a fé e um pensamento para Deus; e, · nessa oportunidade, como se aliviasse a fome, a sua voz "tomnvn a tonali– dade da doçura e discorria nos milagres de amanhã, desse amanhã que se eterniza nas distâncias e nos longes ... " Painéis otimamente executados sii.o "O juro da mentira" e "A carta". Mas, na tesslturn do livro. duns produções me entJrnecera~: sobrelevando as demnls. Foram "Nhá Joana sonhou com Stto Lnzaro e "Na hora cio ju!zo final". A primeira, girando em torno de um caso de premonição pslqulcn, no qunl a crença robusta e pura de uma roceira velhinha, transfigurada pelo amor materno, aliando-se à bon– dade de um médico, acrescentou mais um milagre nos do Santo pro– tetor dos hanseanos. A outra é o lnstantf111eo de uma hora terrlvel, única. suprema, em que o mais endurecido coração se prostra - aquela cm que o anjo lnflexlvel ela morte, arrebatando-nos o maior. o mais sagrado, o mais verdadeiro amor que na terra conhecemos. trans– porta para os Céus a alma de umn santa mãe. Meu caro Georgenor : o vosso livro contém pepitas valiosas, re– munerando bem o lazer que dlspenclestes pesquisando-as, sem hesitar mesmo cm procurá-las no lõdo, quando tlnlle!s a Intuição ele que lá as encontrarlels. Conto que a vossa at!vlclacle n1io se cristalize e venha a exerci– tar-se em área ele maior amplitude . Dai-nos novos trabalhos onde o riso sadio. à compita ou suplan– tando a lástima, desvele estados dalma tranquilos e contentes, cujas fontes se deparam cm todas ns camadas. Atendei que nos próprios ambientes sombrios que atra!ram o vosso cálnmo, existem dlns ele sol, uniões felizes. destinos venturosos que a fatalidade não tenta des– t ruir. E tambem acerbos sofrimentos, mágoas quase lndescrlttvels e privações tremendas, que encontram len!tlvo e coragem n as prá– ticas religiosas e no culto Inalterável cios preceitos morais. O pade– cimento e o prazer nii.o constituem pertença ·exclusiva de uma classe. Um e outro visitam, indiferentemente. o palácio cio milionário, a casa dos rcmcd!aclos e n barraca paupérrima dos desprovidos de pccúnla. Devo dizer-vos mais, que, embora respeltnnclo-as. divirjo de al– gumns das Idéias que francamente perfilhastes. Isso é natural e com– precnslvel : a minha mocidade transcorreu num tempo bem distante claquêle em que n vossa começava ; hoje, cada vez mais nfastaclo cio levante e multo além cio melo do caminho, ainda que cleslluclldo ele muitos lclolos que a ntigamente venerei, é perdonvcl que o meu espl– rlto nii.o aceite ou não possa assimilar certas concepções, sistemas e conceitos que a minha formação Ignorou. Conhecendo elas vossas poesias um resumido numero, confesso que nelas reconheço substanciais Idéias . Quisera, no entanto, que as filhas do vosso estro melhor se ajustassem ao meu sentimento, o que aconteceria, se, a r tista dellcnclo que sois, concorclassels engnstá-Jns no eterno diadema ela métrica e ela rima. Assinalastes coro fel!cldaclc a Influência da mulher na arte, in– !lUMncia. ncentunda, ninguém o contci,ta, em todo o percurso da ro•

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