Revista da Academia Paraense de Letras 1952 (Janeiro v2 ex2)

80 REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS gregaçdo desvaliosa, onde excluslvamcutc Impera o arbltrlo de velhon rabugentos, vaidosos e Intransigentes, o que absolutamente \\,;,:– sucede. Nossa corporação não é mais que um cenáculo espiritual onde pro– curamos partilhar o pão do estudo, adstritos às normas do respeit o mútuo, da lealdade, da compreensão e da tolerância aute as Inova– ções Justificadas, aceitando toda evolução da forma e das Idéias que se coadune com os princípios Irrevogáveis do belo e do bom. Homem de Jornal e preferindo, por Isso mesmo, a pol-trona que tem por nume um Jornalista consumado, é na tural que considereis a Imprensa como o maior fator do desenvolvimento cultural. Estou convosco, mau grado me restrinja a apregoá-ln n ão o máximo, e sim um dos mais poderosos, pois com esse resguardo cm nada a diminuo Conheço, por experiência própria , alcançada cm períodos mais ou menos longos em diversas épocas, o esplendor e o fé! que a vossa profissão proporciona. Ela seduz, empolga, liga estreitamente o ser– ventuário às lutas do orgão em que trabalha, força-o a extensas vl– glllas, Incita-o à paixão nas polêmicas e leva-o a descobrir o termo exato, a expressão causticante que arraste o adversário à derrota e à \rrlsão. Concede a glória de um Instante, encanta, por vezes, com a Ilusão da popularidade, e só multo t arde o prellador festejado re– conhece que é simplesmente temido, odiado à surdina, marcado para vlndltas oportunas e por bem poucos sincerament e estimado. f: uma sereia que fascina, enlela, devora, sem que se perceba, as energias de uma vida e embaraça, em muitos casos, a adaptação noutros mundos, raros sendo os que materialmente recompensa, eximindo-os da pe– núria na velhice. Exige um esforço sem tréguas, Inocula a febre do "furo", posta um Inimigo a cada canto,- criado ao comentarista pelo que escreve e pelo que se lhe atribui, dando-se-lhe até a responsabi– lidade das alfinetadas dos "escrevem-nos" e "Informam-nos", cujo. Inserção os anônimos conseguem. Mas, ninguém pode furtar-se à vocação que traz ; mesmo ocupando qualquer outra funçdo, heis de perseverar, estou convicto, na devoção ao Jornal que nobremen– te servis. Dos vossos livros, somente o ultimo abri. Perlustrel-o da pri– meira à ultima folha , no Intuito de estar consciente no que vos dis– sesse. Fl-lo porque detesto os que elogiam ou condenam segundo o grau de afeto ou desafeto que lhes mereça o escritor. Já entre nós existiram, e qulçã existam ainda, crltlcos dessa especle, que, em se t ratando de amigos, colhem da obra os trechos mais recomendáveis, agitando em torno deles o turlbulo consacratórlo da lisonja. Ao contrario, se votam aversão ao autor, Imediat amente, sem leitura, de– preciam o trabalho, mesmo que o conceito público esteja lnapelà– velmente a desmenti-los. O Interesse que o vosso OURO E LAMA despertou, esgotando-se em três semanas n primeira edição, representa, é Inegável, auspicio– so veredicto. Todavia, esse !neto, Inédito em nosso melo, não seria. bas tante ao Julgamento definitivo das composições que Imprimistes, se elas n ão tivessem merecimento lnt rlnseco . Porque nunca se edi– tou tanto no Brasil como em nossos dias. Lê-se àvldamente, lê-se de– pressa e sem escolha.. Há, porém, certa minoria mais exigente, cons– tlt ulda. pelos que, a mente e os olhos fatigados por multa e meditada leitura, não acorrem facilmente aos convites pomposos do "vlent de pa rãlt re", nem ao chamariz de vistosas capas e tltulos sugest ivos, te– mendo decepção que os obrigue, volvidas algumas páginas, a depor o volume na ces ta ou relegá-lo ao fundo das estan tes . Essa minoria, de caprichoso e dlflcll paladar, reputada Impertinente pelos escrevinha– dores bisonhos, equivale aos cerebros provadores de chá, que a velha Inglaterra não dispensa. De um desses peritos ouvi, acorde ao meu pensar, tenho o prazer de dizer-vos, que o vosso livro era bom, pres– sagiando outros tomos de maior valia, com que futuramente, acredi– t amos, não deixareis de enriquecer as let ras regionais. Não me escapou no vosso livro a suave cõr de amet ista, espargido. nos capítulos em que OURO E LAMA se desdobra ; porque a. tristeza é tecla que em todos eles vibra . Reparei terdes escrito, mais de um pont o, que a um homem n ão é permitido exteriorizar com lágrimas as angústias que o t ort urem . se o fizer, a.firmastes, será covarde ou hipócrita. Entendo que esque– cestes, nesse passo, ser o estoicismo prática dlflcll e Incomum, reque– rendo excepcional domlnlo sobre os nervos ou esquisita lnsenelblllda– de. Não faltará ocasião de verificardes que lâgrlmas sln~ero.s, lrre• ~ j

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