Revista da Academia Paraense de Letras 1952 (Janeiro v2 ex2)

REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS '7~ rios. Aos agredidos era livre voltnr no dia seguinte, mais virulentos alndn, embora lavados de arn lca. Ignoro Re tal liberdade consolava. os zurzidos a cacete, dado que batidos peraeveravnm na. contenda.. Creio que Isso não se usa mais. Os métodos modernos são ou tros; se melhores ou piores n ão comentarei. .. Tendo nomeado Tito Franco, que alguém acertadamente apontou como um dos mais lúcidos e poderosos talentos que a Amazônia pro– duziu, não fugirei à tentação de referir dois episódios em que êle foi parte. Tito, no Glnaslo, era membro da. mesa examin adora numa prova de geografia. O relógio Indicava as 14 e o calor escaldava.. Ele che– gara atrasado, Impaciente, transpirando, egresso t alvez da lauta re– feição, disposto a abreviar o ato. Cortava recitações. Fazia. poucas pergun tas. Quase ao fim, chamou um dos ú ltimos estudantes que esperavam. "Tire o ponto, vejamos, França, fale" . Porém, mal o moço dera Inicio à reprodução da página penosamente decorada da. "Terra Ilustrada", Tito Interpelou: "Diga-me uma cousa. Urubu é mamífero?". Ao que o examinando, malicioso ou hábil, retorquiu : "Será ou não será, conforme o professor preferir". o mestre riu-se. "Estou satisfeito". E deu-lhe plenamente. Não reprovava nlnguem. Faltava multo às a ulas, mas quando aparecia, tinha um feitio espe– cial de expor a matéria, que conhecia bem, prendendo a atenção da turma. e entremeando com ditos de esplrlto as suas dissertações. Doutra feita, um dos alunos, encorajado pela acessibilidade do lente, atreveu-se a pedir-lhe que ouvisse e Julgasse alguns versos, os seur. primeiros versos. Obtido assentimento, o Imberbe vate passou a ler. Era um soneto Intrincado, recordando amores, beijos, rosas murchecldas e algo mais no estilo . Não chegou a terminar. Porque Tito, l~exorâvel, Impiedoso, arrasador, esboçando com o charuto um vasto circulo, Interrompeu e sentenciou em termos nada acadêmicos que repito únicamente pelo respeito à' exatidão : "Sabes que mais: rapaz, sabes que mais ? És um quadrúpede". Nunca pude esquecer o divertido caso, que presenciei, testemunhando o acabrunhamento do trovador Incipiente, do Infortunoso poetastro cujo primeiro ld!llo com as musas vinha de ser tão bruscamente ultrajado. É oportuno encerrar este capitulo onde associei João Marques e Tito 'Franco. Dotados de rara senslb1lldade, desconfio que n enhum cleles encontrou na vida a realização supern a que os eleitos dos deu– ses desejam ardentemente e alcançam Jamais. Teriam sido felizes? Quem sabe ? Talvez Vicente de Carvalho, observando que "não é mais a existência, resumida, que uma grande esperan ça malograda", e a felicidade "existe, sim : mas ninguém a alcança, porque estâ sempre apenas onde a pomos e nunca a pomos onde nós estamos." GEORGENOR FRANCO E UM DOS SEUS LIVROS Sr. Georgenor Franco. Nesta reunião faustosa, dedicada à posse de um bem que adqui– ristes pelo esfôrço p róprio, Isento de empenhos humilhantes, mere– clels, por sem dúvida, a saudação de uma palavra mais fecunda, que melhor compreendesse e ressaltasse o merecimento da vossa obra. Assim o proclamei. qunndo a bondade dos nossos colegas, aliada à vossa simpatia, deliberou entregar-me encargo de tal monta. Do– minado, afinal, pela Insistência penhorante, declaro dantemão que não me cabe a culpa, se desapercebido de suflclente cabedal, ou não dispondo do necessário "engenho e a r te", a__ Incumbência ofereça, logo que ultimada, Irremediáveis lacunas e senoes. _ . Vejo que em plena mocidade madrugastes na frequencla a monta– nha de Apolo, e Já fostes armado cavaleiro na ordem dos escolhidos, que armados com a inspiração e uma pen a se.bem o segredo de trans– mitir agradáveis emoções. Legitima ambição vos Impeliu a pleitear uma cadeira neste Tem– plo, onde lograstes cordial , admissão. Não vos apresentastes escoteiro. Acompanhou -vos sólida baga– gem, encerrada no escrinlo dos volumes que publicastes e noutros que elaborados estão prontos à Impressão. Nem comparecestes tarde aos batentes da nossa porta, como Sá de Miranda no solar da noiva, que, solicitada antes de vista. Já encontrou entrada em anos. Tambem não fazei& Jús n castigo, se como pressuroso alguém vos acoimar. Porque nem cedô nem atrnsado aqui viestes ter . Acolheram-vos no momen– to azado. exatamente quando, reajustando o nosso quadro e preten– dendó reJuvenecê-lo, precisávamos comprova r a sem razão de multo■ que o despeito Induz a ridicularizar-nos, descrevendo-nos como con- .,

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