Revista da Academia Paraense de Letras 1952 (Janeiro v2 ex2)

78 REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS desinteressados que pesquisavam n beleza, sabendo encont rá-ln onde quer que se ocultasse, para eu toar-lhe o hino que Baudelaire escre– veu . Tal como o Espírito que sopra onde quer, assim o dentlno, ca– prichoso e Inexplicável, elege e reconhece onde entende, os prlvllc– glados entre os quais distribui as centelhas do gênio. Honremos a memoria desses desaparecidos legioná rios das hostes do "aceso Imaginar". Os seus contemporâneos que ainda restam, al– guns, por felicidade, até agora Ilustrando, com realce Invulgar, este Sodallclo, e os componentes da minha geração, que alvorecia quando eles Já se encontravam no zenlte, os primeiros associados n a mesma glória, os ú ltimos que fomos e nos conservamos seus "fana", temos Imenso regos!Jo em celebrâ-los, apontando-os como estímulo à juven– tude conterrânea, Juventude onde vão surgindo valores apreciáveis e dignos de encômios, dispostos às pacientes e elevadas locubrações, cuja promissora colheita a nossa. terra aguarda, para alcançar cumes que excedam · os atingidos outróra. JOÃO MARQUES DE CARVALHO E TITO FRANCO DE ALMEIDA João Marques de Carvalho e Tito Franco de Almeida sobressáem Intensamente na constelação Intelectu al que venho de exalçar . João Marques, de cultura polimorfa, escritor de real mérito, ver– sava com facilidade e primores de expressão, a poesia, o romance, o conto, a critica e o Jornalismo. Viajado n o velho mundo fez pa rto de nosso corpo diplomát ico, carreira que seguiu durante 'anos, che– gando a secretário de legação . Deputado à primeira constituinte do Estado, professor, secretario da Prefeitura de Belém redator princi– pal da "Provlncla do Pa rá", cooperou na fu ndação d~ Mina Llterarla, em 1895, Inaugurada neste mesmo salão, e em 1900 multo se esforçou para organizar a nossa Academia, ldeada anteriormente pelo poeta Alvares da Costa, t entame que, repetido treze anos depois e vencedor por breve espaço, só em 1928 velo a concretizar-se definitivamente. Homem de trato esmerado, correto n as atitudes, João Marques praticava com naturalidade todas as complicadas •disposições do pro– tocolo social, observando rigorosamente os cânones da arte de bem trajar, resumidos na elegância discreta e perfeita que é apanágio dos lndlvlduos de bom gosto. Nos seus contos, leves e apuradamente desenhados, n a maioria quadros flagrantes da existência e costumes dos nossos caboclos, re– pontam aqui e alí, reproduzidas a capricho, belas paisagens e mari– nhas do P ará. Pioneiro, entre nós, da escola realista, Marques de Carvalho, em "Hortêncla", traçou paginas que Zola e o Eça não desdenhariam as– sinar. Dando a lume esse livro e prevendo a celeuma que o tartu– ! lsmo dos zollos Iria desencadear, assim, desassombradamente os pre– veniu : "Não me Intimidam as banalidades que bão de lançar-me os mesquinhos mercenários do baixo Jornalismo : tenho para mim que as Insídias de semelhante corja devem servir-me de poderoso Incen– t ivo para novos t ra balhos. Só é discutido o homem de mereci– mento." Andava nos 45 anos quando partiu de Belém para n ão m ais vol– tar. Enfermo, fôra pedir saude aos ares purlsslmos de Nice. Lá se desprendeu serenamente do mundo, abrigado pelo céu maravllhoso dessa encantadora estfmcla da "Côte d'Azur", que a fragra ncla das laranjeiras embalsama, baixando ao túmulo sob braçadas de rosas e violetas, símbolos da última prece que ele teria feito, na linguagem do perfume, como sacerdote da religião da Inteligência, do amor e da beleza, que sempre adotou e firmemen te serviu. Tito Franco, cujo perfil Já foi fielmente cinzelado neste Sllogeu, velo ao mundo t reze a nos depois de João Marques de Carvalho e com este rivalizou no merecimento literário. Aliás, a a rena que com maior constância frequentaram, onde ambos excederam e sustentaram apai– xon ados debates, foi a Imprensa diária. Tiveram, pQJém, a boa fortuna de evitar os percalços do Jorna– lismo de oposição. Porque, n aqu ele tel)"lpo, - como parece ser prá– tica obrigada aos que combatem os atos e a política dos governa ntes -os redatores oposicionistas transformavam a pena em pau, desan– cando sem dó, por Isto e por aqullo, os donos da situação e seus au– xilia res. Claro que os órgãos da facção dominante replicavam P. o fa– ziam no mesmo tom. Porém, se os chefes e outras figuras graduadas perdiam a paciência ou achavam fraca a contradita da defesa, logo ut111zavam o que em latim macarrônico se denomina "argumentum bacuUnum", e uma súcla de assalariados, mudando o pau em pena, 1am escrever desagradável resposta no lombo dos gladladoreiJ contrá•

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